segunda-feira, 31 de março de 2014

Clin d'oeil (ou isso ou assobio...)




     Grande Lu só, mesmo, tu. E, já agora, porque não camoniana, a piscadela ? Direita e malfeitora como o encardido bardo?

     Primeiro, o esclarecimento de que não sendo isto (esta tão precária «coisa»), nem a cerimónia de atribuição dos óscares, nem a António Maria Cardoso, sempre evitei como norma ou uso corrente a individuação. Aliás as poucas raras vezes em que infrigi a práctica foi, ou por maus motivos, ou com péssimos resultados... Aceita, portanto, a prosalhada como homenagem aos «meus» Lus, bem como reconhecimento público de afecto e impagável dívida. Sei que não lerão (coisas vossas), de forma que me posso esticar e convocar as matérias e as pessoas que me apetecerem. E bem sabes que pelas culpas tatuadas e os pecados cicatrizados, sou muito espartano em matéria de apetites.

     Encontrar-te assim (praticamente colidindo...) em São Bento («Ora e labora») foi a circunstância certa ( e estive quase, quase a arriscar «perfeita») para quem, como nós, crê e, por via de teimosos esmeros, cultiva (fugindo ou não cedendo a tentações explicatórias ou significantes) a crença  nos encantamentos e magias reservados a olhares atentos e almas resistentes a ilusionismos. Ora os meus sentimentos por vós são da mesmíssima natureza: meramente constatados. Et ça suffit !!

     Não se esgota em mim o espanto de que sempre que estou com um de vós (sem o outro), sentir uma espécie de ausente «presente». O vosso amor tranquilo comove-me... e se a palavra «família» ainda existe no meu dicionário é, essencialmente, por vossa causa. 

     E de causa a casa... a vossa talvez tenha sido a casa onde vivi que, sendo vossa, mais senti como minha. Sabes do meu incómodo com o passado... por isso sempre disse que «o passado é um sítio muito mal frequentado» e, no entanto, recordo-a e sonho frequentemente com ela.

     Nunca falámos nisso, mas houve dois sítios onde pensei,  muito sentidamente : «gostava de morrer aqui» (conhecendo tão bem a minha inclinação para o (melo)drama sabes (e bem) serem estas imagens sempre precedidas de outras que não são para aqui chamadas: foram eles, o Lago de Como e a vossa sala. Com o tempo, a  vossa casa acabou por encolher e condensar-se afectivamente na sala.  
     
     Estas duas imagens: o Lago (o fim dum amor, e uma névoa a dissipar-se, numa manhã fantasmagórica de sons abafados e luz espectral, que acrescentavam uma espécie de irrealidade à morte que já lá estava...) e a sala (com o rio dolorosamente iluminado pela luz dum sol primaveril, os telhados e as, ainda, antenas de televisão; uma salada de vozes humanas, telefonias e tvs, canários e pombos. O sofá, os livros numa saudável desordem, uma sombra cobrindo a dor insuportável que me habitava. Um homem só, muito Paveseanamente a olhar o fumo do cigarro, absolutamente calmo, a sentir que a morte tinha passado por ali e se tinha esquecido dele).

    A merda do Tempo e das Memórias, a roubar-nos, entre cotoveladas, gritarias, o ar saturado de humidade, um horrível café tragado. Tu, sábia como sempre, fizeste as despesas da conversa, adivinhaste-me um segredo, mas não me fizeste perguntas e eu, calado, agradeci-te. Olhei despudoradamente e com o espanto habitual, o teu corpo miúdo de miúda, o cabelo à rapaz que te fica bem e disse-o. Era verdade... sabes que guardo os elogios para quando tem mesmo que ser («o teu côté putain» disseste-me uma vez e o teu Lu acrescentou algo que consegui esquecer), mas surpreendeu-me o teu rubor. Não me lembro de, alguma vez, te ter visto corar.

     Custou-me acompanhar-te ao comboio e abandonar-te quando, por brevíssimos instantes, me ficou a martelar na cabeça a frase «estás a perder o comboio... estás a perder o comboio.... estás a.....».
     Quando voltei já sozinho, a plataforma pareceu-me vazia, a estação silenciosa, a cidade hostil: «Voltar ? Para onde ?»
     Já devias estar em Campanhã. 
     Abraços ao Lu




Elevador


 

    - « Para que andar, senhor ?»
    - « Depende... até onde é que ele desce ?»

domingo, 30 de março de 2014

Cão errante. Andaluz ?


Malditas Quintas-Feiras...







We'll meet again, don't know where, don't know when 
But I'm know we'll meet again some sunny day 
Keep smiling through, just the way you used to do 
Till the blue skies chase the dark clouds far away 

Now, won't you please say "Hello" to the folks that I know 
Tell 'em it won't be long 
'Cause they'd be happy to know that when you saw me go 
I was singing this song 

We'll meet again, don't know where, don't know when 
But I'm sure we'll meet again some sunny day 

We'll meet again, don't know where, don't know when 
But I know we'll meet again some sunny day 
Keep smiling through, just the way you used to do 
Till the blue skies chase the dark clouds far away 

Keep smiling through, just the way you used to do 
Till the blue skies chase the dark clouds far away

sexta-feira, 28 de março de 2014

Melodrama

























     Inesperadamente brevíssimas.

Aos sacões, sacana alado


Nem para a Mariana
Nem sequer Juliana
nem,sequer, para a Diana.
Para ti, muito a sério, Joana



Caído num sono abafado
e depois, assim, resgatado

das fonduras dum mar
sargaçado, de pesadelos
pesados e azuis

das profundezas dum inferno
nunca visitado
só morno mas sem ar

suado e surdo
saio à rua...
uma rua é um caminho
e eu não quero ir

onde me levam estas ruas
que cercando a casa passam
num convite calado
à navalha, ao sangue, canalha

estou cansado
nenhuma rua é o meu caminho
para o corpo, para
um coração que bate

dentro, junto ao meu.
E quase vergo, na floresta
de sons negros, cinzas
e um verdadeiro real vermelho

se desapareces agora
desaparece o mundo
que ainda me reflete
e me respira na boca.

Por isso morto não sou...
Antes um estanho, um sobrevivido.


Nota - Foi intencional a escolha deste «estilo» convulso, arrítmico e «bruto» (não trabalhado). Coisas há desprovidas do elegante bater cardíaco. Foram espectros («sem estilo») que tentei convocar. Ao ritmo dum corpo violentamente agitado (aos sacões) que num vómito se purifica ou, num orgasmo se multiplica foi composta esta espécie de prece revoltada.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Até logo... até já


          

                                                     Hand of a corpse mummified by mesmerism by Gaston Durville - Roger Pillard, 1913


   Já dizia o outro (ele) «neste estabelecimento não há livro de reclamações»... Referia-se à vida (se calhar a que nos calha a nós, ou então a que nos calha a todos) e era, geralmente, mal compreendido. Pensavam ser bravata individual, a roçar o auto-elogio (como se dele ninguém tivesse razões de queixa ou, mais prosaicamente, nunca tivesse desiludido ninguém).

   Compreendíamo-nos nesta frase, molecularmente densa. E, no entanto, sabíamos ser um entendimento "agora e ali", porque o futuro da sentença, a sua justeza e a nossa coerente vivência dela, tudo determinaria. Para um a hora chegou, hoje manhã cedo ou ainda nem manhã. Não perguntei (medrosamente ?) se ele tinha pedido o livro de reclamações.

   Espero que não... sinceramente. Já não cheguei a tempo, portanto a imagem serve na perfeição.

Vícios




quarta-feira, 26 de março de 2014

Gymnopédies et Gnossiennes


                                Pablo Picasso - retrato de Erik Satie (1920)


Canto dum amor desesperado


(Para ti que te sabes, 
 mas não nos crês
 Três e Três são Tês)



Mudo, calo
sim, leram bem
o evitável
talvez cobarde
remorso futuro.

Cego, olho
sim, leram bem
as cores da transparência
com a calma inesperada
duma morte soletrada.

Surdo, oiço
sim, leram bem
o desespero duma voz
inalcansável
à qual, cansado, me rendo

Morto, amo
sim, leram bem
o amor que se nega
numa luta sem esperança
com a clarividência

que só os mortos têm.

Tradução, traduções (verdades e traições). brevíssima reflexão sobre uma falsa questão



                          Giorgio De Chirico "As Musas Inquietas"

     Exemplo, e não tese, sobre (dando um valente e convicto pontapé no termo "problemática"...) como deve  ser feita a tradução (principalmente a da poesia) "afixo" duas versões (traduções) do poema "Sobre tradução de poesia" de Zbigniew Herbert (1924-1998):

Sobre tradução de poesia -

Zumbindo um besouro pousa
numa flor e encurva
o caule delgado
e anda por entre filas de pétalas folhas
de dicionários
e vai direito ao centro
do aroma e da doçura
e embora transtornado perca
o sentido do gosto
continua
até bater com a cabeça
no pistilo amarelo

e agora o difícil o mais extremo
penetrar floralmente através
dos cálices até
à raiz e depois bêbado e glorioso
zumbir forte:
penetrei dentro dentro dentro
e mostrar aos cépticos a cabeça
coberta de ouro
de pólen

Tradução de Herberto Helder "OUOLOF" poemas mudados para português por Herberto Helder, (Assírio & Alvim, Lisboa 1997).




SOBRE A TRADUÇÃO DE POESIA

Como um abelhão desajeitado
pousa numa flor
vergando o frágil caule
abre caminho com os cotovelos
através duma fileira de pétalas
através das folhas de um dicionário
quer chegar
onde se concentram a fragrância e a doçura
e embora esteja constipado
e sem gosto
continua a tentar
até que a cabeça choca
contra o pistilo amarelo

e não consegue ir mais longe
é tão duro
forçar a coroa
até chegar à raiz
por isso levanta voo
emerge pavoneando-se
zumbindo
eu estive lá
e aqueles
que não acreditam nisso
olhem para o seu nariz
amarelo de pólen

(trad. de Jorge Sousa Braga (a partir da versão inglesa)  "Zbigniew Herbert, Escolhido pelas Estrelas, antologia poética", (Assírio & Alvim, Lisboa 2009)



   Não foi inocente a escolha do poema (considerando a ironia do título), ilustrando na perfeição o meu ponto de vista (que não tese) e justificando o já referido pontapé.

    O que aqui temos são duas abordagens que, se assumidas, se equivalem nas razões. A de Herberto Helder, radical e manifesta (donde a expressão com que, habitualmente, classifica ou intitula, as suas traduções: "poemas mudados para português") que quase poderia ser uma espécie de poema do poema.  A de Jorge Sousa Braga, mais "modesta" nas intenções (e repare-se que neste caso é um poema em 3ª mão (uma vez que é feita a partir da versão/ tradução inglesa), mas honesta e de geografia muitíssimo mais vasta, uma vez que, dependendo do tradutor, vai da tentativa de captar o "espírito", a "musicalidade", (e mais umas incontáveis subjectividades), até à chamada tradução "literal".

   Sobre a justeza ou acerto da práctica, discorram académicos, profissionais ou diletantes...

   A mim basta-me a comezinha honestidade: a clareza do critério adoptado e a sua assunção.




Quando é que aprendo a deixar de ser parvo?


               Bruce Nauman, From Mouth To Hand, 1967.



    Mudo, ponho os outros a falarem (a cantarem, neste caso) por mim. A senhora, the lady singer, chama-se Youn Sun Nah, é coreana (tentem adivinhar de qual das Coreias) e canta assim:

Sem comentários


                                                   Colagem de Hannah Hoch

terça-feira, 25 de março de 2014

Just in case.... (parece-me que a noite vai ser mesmo longa)


Ryuichi Sakamoto - Forbidden Colors (Solo Piano)





     Quando a música aparece aqui, via Youtube, é, geralmente, preguiça pura e mole. Não é o caso deste Sakamoto...

     Cores proibidas... piano solo.... foto perfeita... a fantasia ouve a música. Perfeito !

Música para uma noite longa




segunda-feira, 24 de março de 2014

Volta do Protest(o)

 


     Do último disco do Gabriel o Pensador ("Sem Crise")... lá como cá.


Eu caminhava no meu Rio de Janeiro quando alguém me parou e falou
Aí parceiro me dá tua mão que eu quero ver se tá com cheiro
Porque eu sou um cara honesto e detesto maconheiro
Eu tinha acabado de sair do banheiro
E dei a mão pra ele cheirar, mas foi uma cena “bizonha”
Ele cheirou a minha mão por um tempo
Eu disse espera tu não é o capitão Nascimento?
Que vergonha meu capitão, procurando maconha no calçadão
Qual é a tua missão?
Eu vi teu filme, mas não me leva a mal
Não me tortura assim não, que eu sou um cara legal
Em certas coisas eu concordo contigo
Mas não é assim que você vai achar os grandes bandidos
Este pais tá “fodido” ele falou eu sei disso
Quando entrei na PM eu assumi o compromisso
Luto pela justiça (eu também)
Sem justiça não tem paz e sem paz eu sou refém
A injustiça é cega e a justiça enxerga bem
Mas só quando convém
A lei é do mais forte
No BOPE ou na FEBEM
Na boca ou no Supremo
Que justiça a gente tem
Que justiça nós queremos

REFRÃO
Os corruptos caçados (NUNCA SERÃO)
Cidadãos bem informados (NUNCA SERÃO)
Hospitais bem equipados (NUNCA SERÃO)
NUNCA SERÃO (3x)
Os impostos bem usados (NUNCA SERÃO)
Os menores educados (NUNCA SERÃO)
Todos alfabetizados (NUNCA SERÃO)
NUNCA SERÃO (3x)

Capitão, não sei se você soube dessa história
Que rolou num povoado
Peruano se não me falha a memória
Um político foi morto pelo povo
Um corrupto linchado por um povo
Que cansou de desrespeito
E resolveu fazer justiça desse jeito
Foi um linchamento, foi um mau exemplo
Foi um mau exemplo, mas não deixa de ser um exemplo
Eu sou contra a violência, mas aqui a gente peca
Por excesso de paciência
Com o rouba mas faz dos verdadeiros marginais
Chamados de Doutor e Vossa Excelência
Cujos nomes não preciso dizer
A imprensa publica mas tudo indica que a justiça não lê
Diz que é cega mas o lado dos colegas ela sempre vê
Capitão, isso é um serviço pra você

Deputado pede pra sair, pede pra sair deputado
Sabe o que você é? Um moleque, é isso o que você é
Senador pede pra sair (desisto)
Mais alto senador (DESISTO)
Vagabundo, cadê o dinheiro que você desviou dessa obra aqui?
Não sei não. Fala Vossa Excelência, é melhor falar.
Eu não sei. Cadê a verba da merenda que sumiu?
02 o corrupto não quer falar não
Pode pegar o cabo de vassoura (tá bom eu vou falar, eu vou falaaaar)

REFRÃO

Pensei com o Nascimento que não pensa como eu penso
Mas pensando nós chegamos num consenso
Nós somos vitimas da violência estúpida que afeta todo mundo
Menos esses vagabundos lá da cúpula corrupta hipócrita e nojenta
Que alimenta a desigualdade da desigualdade
Se alimenta mantendo essa política perversa
Que joga preto contra branco pobre contra rico e vice versa
Pra eles isso é jogo, esse é o jogo
Se morre mais um assaltante ou mais um assaltado tanto faz
Pra eles não importa gente viva ou gente morta
É tudo a mesma merda
Os velhos nas portas dos hospitais
As crianças mendigando nos sinais
Pra eles nós somos todos iguais
Operários, empresários e presidiários e policiais
Nós somos os otários ideais
Enquanto a gente sua e morre
Só os bandidos de gravata seguem faturando e descansando em paz
Enquanto estes covardes continuam livres
Nós só temos grades, liberdade nós já não temos mais 

Vamos... a Sta Catarina



Nem temos que dançar...


domingo, 23 de março de 2014

sábado, 22 de março de 2014

As Palavras de Pivot (2)


   Como parece que o livro não tem tradução portuguesa, provavelmente, não resistirei a postar algumas das palavras e, assim não me falte tempo, devidamente traduzidas.

As Palavras de Pivot (1)




     Para quem se lembra dos  "Apostrophes" o autor dispensa apresentações. Para os outros, investiguem se acharem que tem que ser...
     Indiscutivelmente um apaixonado do universo verbal, revelou-se (-me) mais: um apaixonado da vida. O livro é a prova provada que a "cultura" nada tem (e não escrevo "não que ser") de chata, abstém-se militantemente da pose convencida que o Tempo exerce uma constante vigilância sobre livros e escritores (e, já agora, leitores) a todos impregnando de sombras cerradas e dolorosos pesos.
     Enfim, uma delícia desprestensiosa, sem nunca cair no lugar comum.
     Pivot, se dúvidas não havia quanto ao seu amor pela humanidade letrada, pratica, com este livro, um exercício dum infinito afecto por todos nós. Deixem-se apaixonar... e leiam. Estas palavras escolhidas são um bom princípio.

     Não resisto a transcrever o

Índice

Ad hoc
Admiration
Affiquet
Ah !
Allemand
Amant
Ambition
Âme (1)
Âme (2)
Amie
Amitié
Amour
Ange
Apocope
Apostrophe
Apostrophes
Applaudissements
Audimateux, teuse
Aujourd’hui
Avenant
B.a.-ba
Baguenaudier
Baisers (1)
Baisers (2)
Béragnon
Bibeloteur
Bibliothécaire
Brouillard
Ça
Caboche
Cadole
Calculer
Canaille
Carabistouille
Cardon
Cauchemar
Cédille
Chafouin, ine
Chambre-bibliothèque
Chat (1)
Chat (2)
Chatoyant, ante
Chevreau
Chocolat
Chose
Chouette
Cigarette et cravate
Cime
Cinq
Coït
Conséquence (de)
Conversation
Corps
Courriériste
Croquignolet, ette
Cuisine- bibliothèque
Cul
Déménagement
Désinvolte
Dictée
Dictionnaire
Dimanche
Dollar
Douane
Double je
Eau
Écrivain (1)
Écrivain (2)
Écrivains fâchés
Ego
Entresol
Épatant, ante
Étymologie
Extra
Famille
Farceur
Femme (1)
Femme (2)
Fisc
Fleuves
Flouter
Foi
Folichon, onne
Football
Foutraque
Fragonarde
Fraîcheur
Fricassée
Frichti
Gambettes
Générosité
Géographie (1)
Géographie (2)
Gobelotteur, euse
Gone
Gourmandise
Goût
Gribiche et ravigote
Guillemets
Hippopotame
Hirondelle
Historier
Homme
Impatience
Impertinence
Incompétence
Jeudi
Jeunesse
Kiosque
Lecture (1)
Lecture (2)
Lecture (3)
Lecture (4)
Lecture (5)
Libellule
Lire
Litchi
Lourd
Lunettes
Macho
Madré, ée
Main
Maquisard
Marron
Mélancolie
Melon
Mémoire
Merci
Merde !
Montre
Mot
Mots
Mots délicieux
Mots gourmands dévoyés
Museau
Mythe
Nécrologie
Nénuphar
Néologismes
Noces
Notoriété
Œuf
Oh là là !
Orthographe
Ortolan
Ouille !
Papillote
Perpète (à)
Peu importe
Philistin
Photo
Pianiste
Pimbêche
Poularde demi-deuil
Prédateur
Prière
Quenelle de brochet
Question
Questionnaire
Quinteux, euse
Quiproquo
Raccord (c’est)
Raspaillette (à la)
Rhinocéros
Rire
Rock’n’roll
Ronchon
Salon-bibliothèque
Seau
Seins
Sensualité
Sérénité
Souris
Tache
Tact
Têtière et béragnon
Texto
Trac
Train fantôme
Triporteur
Ubuesque
Vécu
Vieillir
Vivre
WC-bibliothèque
X
Yeuse
Youpi !
Zeugma
Zut !


Ah desire! It's cold as ice and then it's hot as fire.


                                          Donald Sultan, "Smoke Rings" (2005)




Standby. 
You're on the air. 
Buenos noches Senores y Senoras. 
Bienvenidos. 
La primera pregunta es: Que es mas macho, pineapple o knife? 
Well, let's see. 
My guess is that a pineapple is more macho than a knife. 
Si! Correcto! Pineapple es mas macho que knife. 
La segunda pregunta es: Que es mas macho, lightbulb o schoolbus? 
Uh, lightbulb? 
No! Lo siento, Schoolbus es mas macho que lightbulb. 
Gracias. And we'll be back in un momento. 

Well I had a dream and in it I went to a little town 
And all the girls in town were named Betty. 
And they were singing: Doo doo doo doo doo. Doo doo doo doo doo. 

Ah desire! It's cold as ice And then it's hot as fire. 
Ah desire! First it's red And then it's blue. 
And everytime I see an iceberg It reminds me of you. 
Doo doo doo doo doo. Doo doo doo doo doo. 

Que es mas macho iceberg or volcano? 
Get the blanket from the bedroom 
We can go walking once again. 
Down in the bayou 
Where our sweet love first began. 

I'm thinking back to when I was a child - 
Way back to when I was a tot. 
When I was an embryo - 
A tiny speck. Just a dot. 
When I was a Hershey bar - 
In my father's back pocket. 

Hey look! Over there! 
It's Frank Sinatra Sitting in a chair. 
And he's blowing Perfect smoke rings Up into the air. 
And he's singing: Smoke makes a staircase for you To descend. 
So rare. 

Ah desire! 
Ah desire! 
Ah desire! 
So random So rare 
And everytime 
I see those smoke rings 
I think you're there. 

Que es mas macho staircase o smoke rings? 
Get the blanket from the bedroom 
We can go walking once again. 
Down in the boondocks 
Where our sweet love first began. 

Ooo I'm gonna follow you. 
Out in the swamps and into town. 
Down under the boardwalk 
Track you down. 

Doo doo doo doo doo. Doo doo doo doo doo. 
Doo doo doo doo doo. Doo doo doo doo doo. 

Melingo , album novo



Memórias Sonhadas, ou Os Pássaros Também Sonham (desenhos de Stefan Zsaitsits )




                                               

                          
                                                    

sexta-feira, 21 de março de 2014

Sem Palavras, Sem Legendas



Palavras


Castello Lopes (x 2)



                                      A insustentável leveza do ser? Do estar.





                       Trabalho - Cama & Farnel

Semente: hora fatal, instante letal.





Eu não quero ganhar
Eu quero chegar junto
Sem perder
Eu quero um a um
Com você
No fundo não vê
Que eu só quero dar prazer
Me ensina a fazer
Canção com você
Em dois
Corpo a corpo me perder
Ganhar
Você

Muito além do tempo regulamentar

Esse jogo não vai acabar
É bom de se jogar
Nós dois
Um a um
Nós dois
Um a um
Nós dois
Um a um

Eu não quero ganhar
Eu quero chegar junto
Sem perder
Eu quero um a um
Com você
No fundo não vê
Que eu só quero dar prazer
Me ensina a fazer
Canção com você
Em dois
Pouco a pouco me perder
Ganhar
Você

Esse jogo não vai acabar
É bom de se jogar
Nós dois
Um a um
Nós dois
Um a um
Nós dois
Um a um

Me ensina a fazer
Canção com você
Em dois, em duo
Em duo, em dois

Literatura ejaculada


       Não se já vos aconteceu, se já tropeçaram em situações assim... Sem dramatismos, com a calma com que nós humanos irmanamos a vida vegetal (onde, dizemos, "é tudo tão natural") sentirmos e vestirmos a certeza irracional do "foi a última vez", do "nunca mais" ou, até do "para sempre".
       Tão especialistas em banalidades, tão dados ao esquecimento e ao que, aprendizes de deuses, gostamos de chamar "perdão" foge-nos, senão o "pé p'ró chinelo", pelo menos um poucochinho  da tola liberdade para vôos e devaneios que achamos ser a nossa natureza ou situação justificada. Apinocados de alibís, assertoados de boas intenções e prontos para habitar o adro da aldeia * retrocedemos no tempo, teimamos no torrão e não abdicamos dos sonhos nacional-qualquer-coisa.
     Só, demorou-me o jantar três horas (cento e oitenta minutos mesmo, quase cronometrados), onde couberam histórias inventadas **, companhia improvável e uma se calhar miragem que "isto afinal vale a pena" senão nos levarmos demasiado a sério, se sem pudor nos dermos e sem vergonha nos acercarmos.
     Resgatou-me do quase fatal desespero um improvável ser. Dando um salto, do qual peço perdão, como dizia D. Juan ao seu criado («acredito que dois e dois são quatro e que quatro e quatro são oito) afinal éramos três. O feliz final era o coito (quatro e quatro são oito) que não houve mas não desmanchou o momento.
     Aristocracia operária é linguagem rafeira e anacrónica. No entanto, hoje, habitou (ironicamente) "erecto" um espelho que me devolveu imagem inteira e o inolvidável momento único em que pedi alguém em casamento...
     Provável e feliz celibatário, dei-me de pazes feitas com o mundo e com os bichos que o povoam.


    * e eu juro que chorei as lágrimas mais secas do deserto saara acrescentado do gobi (incluindo sudações e mijo de camelo) ao ouvir presencialmente, numa sessão de poesia,  a inominável nojeira titulada "A Procissão" com a indiscutível benção paneleira do Villaret e ali batoteiramente atribuida ao Pessoa. Pouco importa ser do Lopes Ribeiro (foda-se: poeta?). Mas chorei porque até podia ser Pessoa, nesta comunidade que se acha Queiroziana, quando, na verdade, é Castelar e Alva.

    ** estarmos sós, observantes, animais atentos e cultos. Olharmos alguém, apropriarmo-nos da presença e do estar duns alguéns e construirmos a história que há-de ficar e, quem sabe, poderá até ser ventre acolhedor, duma narrativa parideira de mito. Pessoas assim são corpos receptivos, na sua hospitalidade húmida, a penetrações e procriações. E, se dúvidas houvesse, ou eu as tivesse, cercanias do céu, para mim, foram mornas carnes e ternos e tenros afectos.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Truísmo Lírico ou Melodramático




I've lost all my pride
I've been to paradise
And out the other side
With no one to guide me
Torn apart by a fiery will inside

I won't hurt you
I won't hurt you
I won't hurt you
I won't hurt you

I'm an untouched diamond
That's golden and brilliant without illumination
You're mouth's a constellation
Stars are in your eyes
I'll take a spaceship
And try and go and find you

I won't hurt you
I won't hurt you
I won't hurt you
I won't hurt you

My pale blue star
My rainbow;
How good it is to know you're like me
Strike me with your lightening
Bring me down and bury me with ashes

I won't hurt you
I won't hurt you
I won't hurt you
I won't hurt you
[repeat]

Terno Pacheco

 


   Comunidades que traem a memória da sua alma, perdem-se numa espécie de pacto metistofélico.
   Esta ressurreição de vozes, sem juízos, sem destinos é uma parte do que sou. A Eva que há em mim, gerada, crescida e cuidada para poder estar aqui agora. Os amores e os afectos que não confessei são os arrependimentos que me ocorrem. O resto diluiú-se já numa espécie de esquecimento, a anunciar o renascimento incerto. Nesse rio placentário me banho, me nado e testo.



Um vento leve, uma espuma

Do beijo fica um sabor,
do sabor uma lembrança,
um vento leve, uma espuma.

Do beijo fica um sereno
olhar, o amor de coisas
minúsculas e humildes,
um pássaro que vai e vem
da nossa boca às palavras.
Do beijo fica, suprema,
a descoberta da morte.
Um vento leve, uma espuma
salgada, à flor dos lábios.

Fernando Assis Pacheco

Senão paz, pelo menos tréguas





Entre dentes

Deitado sobre ti
ensinas-me a sair
da treva.

Com a boca dorida
por tanta palavra
ensangüentada
devoro o teu cabelo
ouro que se desfaz
por entre os dentes.


E o teu sorriso
quando te penetro
ilumina súbito
a noite do meu corpo

Armando Silva Carvalho

quarta-feira, 19 de março de 2014

The Kilimanjaro Darkjazz Ensemble - From The Stairwel (Album Completo)


   Partilho a música (escolha da Mia) que vai escorrer pelas paredes cá da oficina.

Palmas p'ro Palma



Mirandinha, parece que foi há 500 anos...



COMIGO ME DESAVIM



Comigo me desavim,
sou posto em todo perigo;
não posso viver comigo
nem posso fugir de mim.



Com dor, da gente fugia,
antes que esta assi crescesse;
agora já fugiria
de mim, se de mim pudesse.



¿Que meo espero ou que fim
do vão trabalho que sigo,
pois que trago a mim comigo,
tamanho imigo de mim?

Sá de Miranda

Bolero, Dom Quixote e um buraco na Infante Santo





dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice

conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo

dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nunhum ofício cantante
o tenha convencido a permanecer entre os vivos

Al Berto

terça-feira, 18 de março de 2014

Uma música paga a outra


   Paga coisa nenhuma. Hoje ouvi um dos sons (e só não lhe chamo música, por ausência de compositor) mais tocantes que alguma vez me foi dado a ouvir. Vai ficar comigo. 
  À propos. Acabou-se o vermelho, luto literário


macha
fêmeo
macha
fêmeo
fêmeo
macha

cérebra caralha baga saca pescoça prepúcia ossa
nádego boceto têto côxo vagino cabeço boco
corpa moço dentra foro moça
orgasma coita palavro sexa goza
liberal gerou
macha
fêmeo
macha
fêmeo
fêmeo
macha
fígada barrigo umbiga perno braça unho mucoso
axilo nerva pela veio cabela narino porro
corpa moço dentra foro moça
orgasma coita palavro sexa goza
liberal gerou
calço terna saio camiseto vestida cueco bluso
meio sandálio calcinho cinta sapata casaca luvo
corpa moço dentra foro moça
orgasma coita palavro sexa goza
liberal gerou

Adilia Lopes

      Porque há pressa, porque há sempre (des)culpa, amores, doenças... Não sei porquê, a Adília desapareceu daqui. Porque tenhos andado a fingir que "tenho cabeça para ter cabeça" (?)

                                                                                                       Adília Lopes in "Caras Baratas" (Relógio D`Água, 2004)

Era bom pois era...




Olimpo (afinal talvez saibamos o mar)



     A noite é cheia de presenças... no vazio, paradoxalmente, ouve-se o latejar do sangue... nunca estamos sós. Quando acontece sermos a nossa pior companhia, de olhos bem fechados, olhemos a floresta mineral onde vivem os espelhos intactos, famintos de nós, devoradores distraídos. Já vergados, com as mãos e os olhos a esventrar a terra em busca do milagre de "mais um dia", nem nos damos conta.
De que vale chorar?

    Tinha voltado ao trabalho e sai-me a Bebe assim. Sem comentários. Talvez, por via da ironia, a tristeza afinal seja uma coisa bem alegre, assim tenhamos dentes para rir e olhos para chorar...



Qué carajo me estas diciendo
Qué carajo que no te comprendo
Que carajo me estas diciendo
Que carajo
Que carajo
Que no te comprendo
Qué carajo me estas diciendo
Qué carajo que no te comprendo
Que carajo me estas diciendo
Que carajo
Que carajo
Que no te comprendo

Qué sale por esa boca que no me gusta nada de nada, no
Son como flechas tus palabras sin sentido pero afiladas ah ah aaah
no pienso dejarme abasayar
que pretendes que te diga que pretendes que te diga
si siempre estas
a la defensiva

Pide socorro si te estas ahogando
pide perdón cuando la estés cagando
?????????????????????????
si no sabes andar sobre cristales

Qué carajo me estas diciendo
Qué carajo que no te comprendo
Que carajo me estas diciendo
Que carajo
Que carajo
Que no te comprendo

Habla bien te digo por favor
Escupe las palabras de tu corazón
No me des por la espalda
ven, mejor dame de frente
No pretendas achicarme
Eso ni lo intentes

Y ahora me intentas intimidar
Mirame los ojos y me encontrás
Si vienes buscando guerra
Te la vas a tragar, hoy no pienso depinarme
vengo en son de paz

Qué carajo me estas diciendo
Qué carajo que no te comprendo
Que carajo me estas diciendo
Que carajo
Que carajo
Que no te comprendo
Qué carajo me estas diciendo
Qué carajo que no te comprendo
Que carajo me estas diciendo
Que carajo
Que carajo
Que no te comprendo

¿Donde tienes la cabeza entre los hombros o entre las piernas?
¿Donde tienes la cabeza entre los hombros o entre las piernas?
¿Donde tienes la cabeza entre los hombros o entre las piernas?
¿Donde tienes la cabeza? Sacala de dentro de la tierra

Qué carajo me estas diciendo
Qué carajo que no te comprendo
Que carajo me estas diciendo
Que carajo
Que carajo
Que no te comprendo
Qué carajo me estas diciendo
Qué carajo que no te comprendo
Que carajo me estas diciendo
Que carajo
Que carajo
Que no te comprendo




Esta es la mejor manera de decirte adiós,
Aunque me cueste estar a ocio con mi corazón,
Hemos hecho lo que hemos podido,
Prefiero estar sola a estar contigo.
El mundo entero es pa mi, ahora se que si.

Todo lo que tu y yo habíamos construido
Se ha convertido en una celda de castigo
Yo hablo demasiado y parece que solo hablo conmigo
Mi cuerpo esta perdiendo todo su brillo
No me apetece ser un animal herido
Voy a oxigenarme tanta rabia con besos y alcohol

Quien de el primer paso, empezara por romper las ventanas
y después se caerá toda la casa
Quien de el primer paso empezara por romper las ventanas
y después se caerá toda la casa, no pienso quedarme a ver como me aplasta no!!!

Esta es la mejor manera de decirte adiós,
Aunque me cueste estar a ocio con mi corazón,
Hemos hecho lo que hemos podido,
Prefiero estar sola a estar contigo.
El mundo entero es pa mi, ahora se que si.

No quiero pensar en lo que me perdí
No quiero pensar en lo que pude hacer pa ti
Aunque no me pinchen alfleres, algo me espera por ahí
Me quedo con lo mas hermoso que tuvimos
De lo peor poquito a poco yo me olvido

En el fondo me arranco la piel, se me hunde un abeja naranarararaaa
Quien de el primer paso, empezara por romper las ventanas
y después se caerá toda la casa
Quien de el primer paso empezara por romper las ventanas
y después se caerá toda la casa, no pienso quedarme a ver como me aplasta no!!!

Esta es la mejor manera de decirte adiós,
Aunque me cueste estar a ocio con mi corazón,
Hemos hecho lo que hemos podido,
Prefiero estar sola a estar contigo.
El mundo entero es pa mi, ahora se que si

Esta es la mejor manera de decirte adiós,
Aunque me cueste estar a ocio con mi corazón,
Hemos hecho lo que hemos podido,
Prefiero estar sola a estar contigo.
El mundo entero es pa mi, ahora se que si
El mundo entero es pa mi, ahora se que si
El mundo entero es pa mi, ahora se que si
El mundo entero es pa mi, ahora se que si…



Não querendo, então queria Kleist

     
      Se o nevoeiro abafa os sons, o mármore do senado amplifica-os. Não há nada como a noite para lhes dar corpo, com sombra e alma. Coincidência (ou não), são  passados 3 dias dos Idos de Março que ficaram na história dos homens e nas várias memórias deles. 23 facadas e 60 senadores depois, eis-me nem césar nem romano.
      Distraído, limpo as mãos da tinta vermelha (Rouge Garance). Talvez embriagado pela terebentina, ausento-me, os olhos e a cabeça esgotados, devoram-me memórias, anestesiam-me dores... Acorda-me a dor causada pela fúria com que esfrego as mãos, como se quisesse arrancar pele e, com ela, alguma espécie de culpa. Não a culpa com que nascemos, não aquela com que explicamos a aridez estéril dos dias, nem o plástico de que são feitos os sonhos que sonhamos; não a com que tentamos compreender a doença, nem a que nos ajuda a viver connosco próprios. Muito menos a que nos envenena, quando nos cruzamos com a Morte, porque para essa não arranjamos destinatário.
      (continua)


segunda-feira, 17 de março de 2014

Revisitando respirações


SILÊNCIO

Uma noite,
quando o mundo já era muito triste,
veio um pássaro da chuva e entrou no
teu peito,
e aí, como um queixume,
ouviu-se essa voz de dor que já era a tua
voz,
como um metal fino,
uma lâmina no coração dos pássaros.

Agora,
nem o vento move as cortinas desta casa.
O silêncio é como uma pedra imensa,
encostada à garganta.

José Agostinho Baptista

(Palavras) Ora então, vamos lá dar cabo delas









Exterminons, tuons, démolissons les mots
Faîtes cet effort pour moi.
Ca ne vous ressemble pas, mais forcez vous une fois
Je m'explique pourquoi.
C'est le fruit de recherches et de travaux nombreux
Que j'ai fait à l'école dans des cours de Français.
Je voulais me passer des mots mais toujours vous parler.
Depuis la nuit des temps mes travaux n'avancent pas
La nuit ne détend pas.
Elle énerve plutôt comme vouloir se parler sans les utiliser.
Le braille ça fait mal aux oreilles
Autant que les pieds font mal aux orteils.
Comment communiquer communément, s'il faut démolissons les mots.

Plus jamais le mot "mot" dans ta bouche,
Mais j'aimais les bons mots qui me touchent.

Je n'ai plus que mes deux mains pour te toucher c'est bien.
Plus jamais le mot mot dans ta bouche,
Mais j'aime les bons mots qui me touchent.
Je n'ai plus que mes deux mains qui me toucher c'est mieux.
Les mots sont démolis, la misère est au lit
On s'ennuie sans parler.
Comment va-t-on faire pour se dire :
"touche-moi les seins" et "au creux de tes reins".
Les mots ont disparu, tu n'en entendra plus parler jusqu'à demain.
Parlons avec les mains et allons nous coucher.
Démolissons les mots, démolissons les mots.

Hilda Hist, que há tanto tempo aqui não vinha



Do Desejo




Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.



I
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.
II
Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.


III
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
IV
Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?
V
Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Esse da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.


VI
Aquele Outro não via minha muita amplidão.
Nada LHE bastava. Nem ígneas cantigas.
E agora vã, te pareço soberba, magnífica
E fodes como quem morre a última conquista
E ardes como desejei arder de santidade.
(E há luz na tua carne e tu palpitas.)
Ah, porque me vejo vasta e inflexível
Desejando um desejo vizinhante
De uma Fome irada e obsessiva?
VII
Lembra-te que há um querer doloroso
E de fastio a que chamam de amor.
E outro de tulipas e de espelhos
Licencioso, indigno, a que chamam desejo.
Há o caminhar um descaminho, um arrastar-se
Em direção aos ventos, aos açoites
E um único extraordinário turbilhão.
Porque me queres sempre nos espelhos
Naquele descaminhar, no pó dos impossíveis
Se só me quero viva nas tuas veias?
VIII
Se te ausentas há paredes em mim.
Friez de ruas duras
E um desvanecimento trêmulo de avencas.
Então me amas? te pões a perguntar.
E eu repito que há paredes, friez
Há ,olimentos, e nem por isso há chama.
DESEJO é um Todo lustroso de carícias
Uma boca sem forma, em Caracol de Fogo.
DESEJO é uma palavra com a vivez do sangue
E outra com a ferocidade de Um só Amante.
DESEJO é Outro. Voragem que me habita.
IX
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
X
Pulsas como se fossem de carne as borboletas.
E o que vem a ser isso? perguntas.
Digo que assim há de começar o meu poema.
Então te queixas que nunca estou contigo
Que de improviso lanço versos ao ar
Ou falo de pinheiros escoceses, aqueles
Que apetecia a Talleyrand cuidar.
Ou ainda quando grito ou desfaleço
Advinhas sorrisos, códigos, conluios
Dizes que os devo ter nos meus avessos.


Pois pode ser.
Para pensar o Outro, eu deliro ou versejo.
Pensá-LO é gozo. Então não sabes? INCORPÓREO É O DESEJO.