quarta-feira, 27 de julho de 2011

Vasco Graça Moura, Pavese, Vailland e eu mesmo




Nunca imaginei a morte de Pavese. Talvez porque  nunca me libertei da sua vida, ou melhor, dos seus fragmentos. A atestá-lo, o facto tão improvável de ter sido o  "Ofício de Viver" um dos raríssimos livros a ter sobrevivido fisicamente a tantos naufrágios...
São menos de 400 páginas e 15 anos de uma voz assim (escrita). Curioso o facto de Pavese ter aderido ao PC no ano em que se suicidou. A questão lá está ( e o Vailland do "Um Homem Só" já nos tinha alertado e só não pensou ou sentiu isso quem não quer saber ou não é dado a assombrações. De resto também ele nos tinha dado (escrito) o conceito de "homem de qualidade". A despropósito: traduziu-se "Un Jeune homme seul" por "Um Homem Só"; enormíssima dificuldade que também eu não saberia resolver...
Voltando ao "Ofício de Viver", que para mim é o que acima mostro (da Portugália), com aquela tão acertada capa, continuará a acompanhar-me tão cheio de notas, de sublinhados e de marcas, que um dia se tornará ilegível ou será, enfim, pousado numa mesa de cabeceira num qualquer quarto de aluguer



terça-feira, 26 de julho de 2011

em 61 (ano que nasci) e, mais tarde, em infinitas tardes de muito sol e olhar límpido de sal




A Invenção do Amor

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares, à porta dos edifícios públicos, nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração
e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio
A descoberta
A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
Embora subterrâneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem uma mulher um cartaz de denúncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou
A TV denúncia
iminente a captura
A policia de costumes avisada
procura as dois amantes nos becos e avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta
fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções paras os que auxiliarem os fugitivos

Chamem as tropas aquarteladas na província
convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos
Decrete-se a lei marcial com todas as suas consequências
O perigo justifica-o
Um homem e uma mulher
conheceram-se, amaram-se, perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los, dominá-los, convencê-los
antes que seja demasiado tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escola
Sobretudo protejam as crianças da contaminação
Uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste
Inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto
Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo
Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros. É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que se fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio
das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

Procurem os guardas dos antigos universos concentracionários
precisamos da sua experiência onde: quer que se escondam
ao temor do castigo

Que todos estejam a postos
Vigilância é a palavra de ordem
Atenção ao homem e à mulher de que se fala nos cartazes
À mais ligeira dúvida não hesitem denunciem
Telefonem à policia ao comissariado ao Governo Civil
não precisam de dar o nome e a morada
e garante-se que nenhuma perseguição será movida
nos casos em que a denúncia venha a verificar-se falsa

Organizem em cada bairro em cada rua em cada prédio
comissões de vigilância. Está em jogo a cidade,
o país, a civilização do ocidente
esse homem e essa mulher têm de ser presos
mesmo que para isso tenhamos de recorrer às medidas mais drásticas

Por decisão governamental estão suspensas as liberdades individuais
a inviolabilidade do domicílio, o habeas corpus, o sigilo da correspondência
Em qualquer parte da cidade um homem e uma mulher amam-se ilegalmente
espreitam a rua pelo intervalo das persianas
beijam-se, soluçam baixo e enfrentam a hostilidade nocturna
É preciso encontrá-los
É indispensável descobri-los
Escutem cuidadosamente a todas as portas antes de bater
É possível que cantem
Mas defendam-se de entender a sua voz
Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
Lhe lembravam a infância
Campos verdes floridos
Água simples correndo
A brisa nas montanhas

Foi condenado à morte é evidente
É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo assim desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

Impõe-se sistematizar as buscas
Não vale a pena procurá-los
nos campos de futebol, no silêncio das igrejas, nas boites com orquestra privativa
Não estarão nunca aí
Procurem-nos nas ruas suburbanas onde nada acontece
A identificação é fácil
Onde estiverem estará também pousado sobre a porta
um pássaro desconhecido e admirável
ou florirá na soleira a mancha vegetal de uma flor luminosa,
Será então aí
Engatilhem as armas, invadam a casa, disparem à queima roupa
Um tiro no coração de cada um
Vê-los-ão possivelmente dissolver-se no ar
Mas estará completo o esconjuro
e podereis voltar alegremente para junto dos filhos da mulher

Mais ai de vós se sentirdes de súbito o desejo de deixar correr o pranto
Quer dizer que fostes contagiados
Que estais também perdidos para nós
É preciso nesse caso ter coragem para desfechar na fronte
o tiro indispensável
Não há outra saída
A cidade o exige
Se um homem de repente interromper as pesquisas
e perguntar quem é e o que faz ali de armas na mão
já sabeis o que tendes a fazer
Matai-o
Amigo irmão que seja
Matai-o
Mesmo que tenha comido à vossa mesa e crescido a vosso lado
Matai-o
Talvez que ao enquadrá-lo na mira da espingarda
os seus olhos vos fitem com sobre-humana náusea
e deslizem depois numa tristeza liquida
até ao fim da noite
Evitai o apelo a prece derradeira
um só golpe mortal misericordioso basta
para impor o silêncio secreto e inviolável

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas, salvo-condutos, horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade, do país, da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família, a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
No inquérito oficial atónito afirmou
que o homem e a mulher tinham estrelas na fronte
e caminhavam envoltos numa cortina de música
com gestos naturais alheios
Crê-se
que a situação vai atingir o climax
e a polícia poderá cumprir o seu dever

Um homem uma mulher, um cartaz de denúncia
A voz do locutor definitiva nítida
Manchetes cor de sangue no rosto dos jornais

É PRECISO ENCONTRÁ-LOS ANTES QUE SEJA TARDE

Já não basta o silêncio, a espera conivente, o medo inexplicado
a vida igual a sempre, conversas de negócios
esperanças de emprego, contrabando de drogas, aluguer de automóveis
Já não basta ficar frente ao copo vazio no café povoado
ou marinheiro em terra afogar a distância
no corpo sem mistério, da prostituta anónima
Algures no labirinto da cidade um homem e uma mulher
amam-se espreitam a rua pelo intervalo das persianas
constroem com urgência um universo do amor
E é preciso encontrá-los
E é preciso encontrá-los

Importa perguntar em que rua se escondem
em que lugar oculto permanecem resistem
sonham meses futuros, continentes à espera
Em que sombra se apagam em que suave e cúmplice
abrigo fraternal deixam correr o tempo
de sentidos cerrados ao estrépito das armas
Que mãos desconhecidas apertam as suas
no silêncio pressago da cidade inimiga

Onde quer que desfraldem o cântico sereno
rasgam densos limites entre o dia e a noite
E é preciso ir mais longe
destruir para sempre o pecado da infância
erguer muros de prisão em circulos fechados
impor a violência a tirania o ódio

Entanto das esquinas escorre em letras enormes
a denúncia total do homem da mulher
que no bar em penumbra numa tarde de chuva
inventaram o amor com carácter de urgência

COMUNICADO GOVERNAMENTAL À IMPRENSA

Por diversas razões sabe-se que não deixaram a cidade
o nosso sistema policial é óptimo estão vigiadas todas as saídas
encerramos o aeroporto patrulhamos os cais
há inspectores disfarçados em todas as gares de caminhos de ferro

É na cidade que é preciso procurá-los
incansavelmente sem desfalecimentos
Uma tarefa para um milhão de habitantes
todos são necessários
todos são necessários
Não sem preocupem com os gastos a Assembleia votou um crédito especial
e o ministro das Finanças
tem já prontas as bases de um novo imposto de Salvação Pública

Depois das seis da tarde é proibido circular
Avisa-se a população de que as forças da ordem
atirarão sem prevenir sobre quem quer que seja
depois daquela hora Esta madrugada por exemplo
uma patrulha da Guarda matou no Cais da Areia
um marinheiro grego que regressava ao seu navio

Quando chegaram junto dele acenou aos soldados
disse qualquer coisa em voz baixa e fechou os olhos e morreu
Tinha trinta anos e uma família à espera numa aldeia do Peloponeso
O cônsul tomou conhecimento da ocorrência e aceitou as desculpas
do Governo pelo engano cometido
Afinal tratava-se apenas de um marinheiro qualquer
Todos compreenderam que não era caso para um protesto diplomático
e depois o homem e a mulher que a policia procura
representam um perigo para nós e para a Grécia
para todos os países do hemisfério ocidental
Valem bem o sacrifício de um marinheiro anónimo
que regressava ao seu navio depois da hora estabelecida
sujo insignificante e porventura bêbado

SEGUE-SE UM PROGRAMA DE MÚSICA DE DANÇA

Divirtam-se atordoem-se mas não esqueçam o homem e a mulher
Escondidos em qualquer parte da cidade
Repete-se é indispensável encontrá-los
Um grupo de cidadãos de relevo ofereceu uma importante recompensa
destinada a quem prestar informações que levem à captura do casal fugitivo
Apela-se para o civismo de todos os habitantes
A questão está posta É preciso resoIvê-la
para que a vida reentre na normalidade habitual
Investigamos nos arquivos Nada consta
Era um homem como qualquer outro
com um emprego de trinta e oito horas semanais
cinema aos sábados à noite
domingos sem programa
e gosto pelos livros de ficção cientifica
Os vizinhos nunca notaram nada de especial
vinha cedo para casa
não tinha televisão,
deitava-se sobre a cama logo após o jantar
e adormecia sem esforço

Não voltou ao emprego o quarto está fechado
deixou em meio as «Crónicas marcianas»
perdeu-se precipitadamente no labirinto da cidade
à saída do hotel numa tarde de chuva
O pouco que se sabe da mulher autoriza-nos a crer
que se trata de uma rapariga até aqui vulgar
Nenhum sinal característico nenhum hábito digno de nota
Gostava de gatos dizem Mas mesmo isso não é certo
Trabalhava numa fábrica de têxteis como secretária da gerência
era bem paga e tinha semana inglesa
passava as férias na Costa da Caparica.

Ninguém lhe conhecia uma aventura
Em quatro anos de emprego só faltou uma vez
quando o pai sofreu um colapso cardíaco
Não pedia empréstimos na Caixa Usava saia e blusa
e um impermeável vermelho no dia em que desapareceu

Esperam por ela em casa: duas cartas de amigas
o último número de uma revista de modas
a boneca espanhola que lhe deram aos sete anos
Ficou provado que não se conheciam
Encontraram-se ocasionalmente num bar de hotel numa tarde de chuva
sorriram inventaram o amor com carácter de urgência
mergulharam cantando no coração da cidade

Importa descobri-los onde quer que se escondam
antes que seja demasiado tarde
e o amor como um rio inunde as alamedas
praças becos calçadas quebrando nas esquinas

Já não podem escapar Foi tudo calculado
com rigores matemáticos Estabeleceu-se o cerco
A policia e o exército estão a postos Prevê-se
para breve a captura do casal fugitivo
(Mas um grito de esperança inconsequente vem
do fundo da noite envolver a cidade
au bout du chagrin une fenêtre ouverte
une fenêtre eclairée)

Daniel Filipe

Do olvidado fazedor de estranhezas








in "O Aprendiz de Feiticeiro" (1971)

Na realidade o texto é de 1963 (veja-se a nota em "Obras de Carlos de Oliveira", ed Caminho, 1992, pág. 410: «As datas mencionada neste índice correspondem à redacção inicial dos textos. O autor remodelou bastante alguns (sobretudo os mais antigos) publicados em jornais e revistas. Aqui fica a sua versão definitiva, que substitui, para todos os efeitos, a primeira.»

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Do Desejo de Hilda Hilst



E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
(Do Desejo - 1992)

 * * *

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
( Do Desejo - 1992)

* * *

Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível

E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?
(Da Noite - 1992)

(Do Desejo - Campinas, SP: Pontes, 1992.)

Alcoólicas de Hilda Hilst




É crua a vida. Alça de tripa e metal.

Nela despenco: pedra mórula ferida.

É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.

Como-a no livor da língua

Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me

No estreito-pouco

Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida

Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.

E perambulamos de coturno pela rua

Rubras, góticas, altas de corpo e copos.

A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.

E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima

Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.

(Alcoólicas - I)



* * *



Também são cruas e duras as palavras e as caras

Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida

Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos

Vão se fazendo remansos, lentilhas d'água, diamantes

Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos

Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas

De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo

Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas

Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento

Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte

É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.

Sussurras: ah, a vida é líquida.

(Alcoólicas - II)



* * *



E bebendo, Vida, recusamos o sólido

O nodoso, a friez-armadilha

De algum rosto sóbrio, certa voz

Que se amplia, certo olhar que condena

O nosso olhar gasoso: então, bebendo?

E respondemos lassas lérias letícias

O lusco das lagartixas, o lustrino

Das quilhas, barcas, gaivotas, drenos

E afasta-se de nós o sólido de fechado cenho.

Rejubilam-se nossas coronárias. Rejubilo-me

Na noite navegada, e rio, rio, e remendo

Meu casaco rosso tecido de açucena.

Se dedutiva e líquida, a Vida é plena.

(Alcoólicas - IV)



* * *



Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito

Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado

Salpicado de negro, de doçuras e iras.

Te amo, Líquida, descendo escorrida

Pela víscera, e assim esquecendo

Fomes

País

O riso solto

A dentadura etérea

Bola

Miséria.

Bebendo, Vida, invento casa, comida

E um Mais que se agiganta, um Mais

Conquistando um fulcro potente na garganta

Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.

Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos

Quando não sou líquida.

(Alcoólicas - V)

(in Do Desejo - Campinas, SP: Pontes, 1992.)

terça-feira, 19 de julho de 2011

manhã e sol...



quarta-feira, 13 de julho de 2011

mais Mario Benedetti



ñoño

(Del lat. nonnus, anciano, preceptor, ayo).
1. adj. Dicho de una cosa: Sosa, de poca sustancia.
2. adj. coloq. Dicho de una persona: Sumamente apocada y de corto ingenio.
3. adj. ant. Caduco, chocho.



Real Academia Española © Todos los derechos reservados

Mario Benedetti





terça-feira, 12 de julho de 2011

nigel kennedy 2

... toca Jimmy Hendrix




... e jazz

NIGEL KENNEDY (Violinista)



Podría pasar por un personaje excéntrico de cualquier novela de P. G.Woodehouse. Nigel Kennedy (Brighton, 1956) es la expresión perfecta del enfant terrible a quien nada parece divertir más que la posibilidad de sacar de sus casillas a los mismos que un día le señalaron como el nuevo niño prodigio del violín clásico. Para su estreno como artista de Sonny Classical, el inglés tiene preparada una versión actua-
lizada de Las cuatro estaciones, de Vivaldi, con la participación de la banda de trip-hop Massive Attack: “La música es la misma, solo que contemplada desde un ángulo diferente”, comenta. Mañana, Nigel Kennedy hará supresentación en España como músico de jazz, dentro del 35º Festival de Jazz de Vitoria-Gasteiz. EL PAÍS entrevistó al músico en su domicilio de Fulking, en el sur de Inglaterra.
Pregunta. Sin embargo, en su anterior disco de jazz, junto a Ron Carter y Jack DeJohnette, usted se encontró directamente con los músicos en el estudio, lo que es una verdadera tradición del género.
Respuesta. Sí, es cierto. Pero antes les fui a saludar, para estar seguro de que no iba a tocar con unos completos desconocidos. La idea era la de tratar de crear algo en lo que todos pudiéramos sentirnos a gusto sin meternos en demasiados berenjenales, una vuelta al viejo estilo de tocar jazz.
P. ¿Cuáles han sido sus referencias entre los violinistas de jazz?
R. Para mí, el responsable de que el violín dejara de ser el violín para convertirse en un instrumento de jazz fue Jean-Luc Ponty, quien abrió el violín a los nuevos tiempos con sus grabaciones con la Mahavishnu Orchestra y sus propias bandas. Prácticamente todos los violinistas le deben algo. Didier Lockwood no hubiera existido sin Ponty, y yo probablemente tampoco. Si no es por él, yo probablemente estaría todavía tocando jazz gitano. También di muchos conciertos de niño con Stéphane Grappelli, él me enseñó a disfrutar del momento.
P. Tocar a Vivaldi un día y a Horace Silver al siguiente implica un drástico cambio de chip, supongo.
R. No estoy del todo seguro de eso. Creo que lo más importante es la relación que tienes con el momento que vives y con los músicos que están a tu alrededor. Aparte, necesitas tener un conocimiento armónico y un
sentido del ritmo que es totalmente distinto al de la música clásica. Muchos músicos clásicos piensan que improvisar está tirado, que todo lo que tienes que hacer es tocar lo que se te ocurra, pero eso es totalmente
estúpido. Tienes que conocer la música que estás tocando y a los músicos con los que tocas.
P. No recuerdo haberle visto nunca leyendo una partitura, ni siquiera cuando toca clásico.
R. ¡Yo lo único que leo es el periódico!Me gusta que la gente a mi alrededor se sienta libre y me gusta sentirme libre yo mismo. En realidad, no soy un tipo tan raro. Mucha gente en la música clásica toca con la música en la cabeza sin necesidad de leer la partitura.
P. ¿Se ha sentido alguna vez rechazado por sus compañeros de orquesta por tocar jazz?
R. Es cierto que a veces he podido notar un cierto rechazo, pero seguramente es debido al hecho de que vendo muchos discos; y para un músico clásico, ese es el peor crimen posible, porque despoja a su música de su carácter exclusivo. Sin embargo, con los de jazz solo necesito 20 segundos para ganarme su confianza. Una vez que comprueban que la cosa marcha, todo está bien. Los músicos de jazz forman parte de una comunidad que ama la música sobre todas las cosas. La comunidad del jazz es muy igualitaria y la audiencia y los músicos forman parte del mismo mundo, mientras que en la música clásica y en el rock, los artistas hacen lo posible por mantenerse alejados de la audiencia.
P. Usted pasa de Vivaldi a los Who y a Jean-Luc Ponty. ¿Existe alguna frontera que no esté dispuesto a traspasar?
R. Solo tengo dos barreras infranqueables: odio la música country y el tipo de música donde la gente hace como que toca un instrumento o que canta ante la cámara. No lo soporto. Se ve mucho de eso en televisión
con gente como Madonna. El pla- yback es una mierda. No está mal tener algunos elementos grabados, pero si estás delante del público, te jodes y tocas. No hay otra.
P. No se corta a la hora de bromear con el auditorio. ¿Qué importancia tiene el humor en su música?
R. Para mí es muy importante. En mi opinión, música seria no significa música triste. Puedes pasártelo estupendamente mientras estás tocando al más alto nivel.
P. ¿Y la pasión?
R. La pasión lo es todo. Sin pasión, lo que queda son ejercicios teóricos. La música y la vida no me interesan si es sólo teoría. Tienes que conocer la teoría pero, sobre todo, tiene que haber pasión, y comunicación.
P. Otro de sus signos distintivos es su imagen, muy poco convencional.
R. En la música clásica nunca he entendido el motivo por el que todo elmundo debe vestir la misma ropa, como si se hubieran puesto de acuerdo en hacerlo. Es algo que no me ayuda a mejorar mi música, si acaso hace que sea peor. Por eso, desde el primer momento, he pasado de todo eso. Quiero vestir algo que me permita moverme y sostener el violín de una forma natural, esa es la razón por la que llevo el mismo jodido traje desde hace 12 años. Pero debo confesarle algo, y es que, bajo mi ropa, siempre llevo la mejor prenda que nadie puede comprar: la camiseta de mi club de fútbol, el Aston Villa.
P. Dé a los lectores un motivo para ir a escucharle en su recital de Vitoria.
R. ¡Porque se lo van a pasar muy bien! ¿Le parece poco? Empezaremos tocando piezas de la era dorada del sello Blue Note, y de ahí derivamos a algo más personal y libre. Pero no tenemos un repertorio fijo. Lo importante, siempre, es el corazón.

Entrevista ao "El País", 12 de Julho de 2011