segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Ryuichi Sakamoto - 1996 (Todinho)

domingo, 26 de janeiro de 2014

Mujer de Ayer, Melingo, Rodopio de Folhas

Tan lejos y tan cerca de ti
qui no existes mas,
olvido vegetal.



Solo en la noche, cruzando voy
por una calle del vieux Paris.
Porteño y rante, tanguero soy
y anclé muy lejos de mi país.

Cruzo soñando plaza Pigalle,
oigo de pronto la sensación
de estar oyendo sentimental
la voz gangosa de un bandoneón.

Ecos de tangos por rue Fontaine,
duendes de Arolas junto a un bistró.
En el Florida canta Gardel.
Pizarro taya desde el Garrón.

Aquel Montmartre no existe más
barrio de tangos y rendez-vous.
La bruma avanza del bulevar
sobre mis sueños de juventud.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Três minutos e meio?



   
     Não foi tão mau como temia, foi pior do que imaginava. Foram-se desordenando as horas e, penso, ainda o dia vai a meio.

     Sendo a última coisa que me apetece (distracções), deixo, apenas mencionada, a penúltima: uma inquietação que não adjectivo. Por pudor de exposição.
     
     Recorro ao Orson Welles... e ficamos todos a ganhar.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Sorrisos são insultos




     Volto à cidade, pátria de nada, porto onde não apetece pôr o pé em terra. Maçado, com uma ferida aberta que ainda há-de parir dores e purulências. Que algo massacra o corpo, atestam-no as cicatrizes a disputarem espaço na pele, tentando chegar à alma, transformando-me num campo de batalha cujas contendas (se razões para elas houvesse), invariavelmente se me escapam.
     Não havendo dó, nem sequer ou sobretudo, em causa própria, resta esta perplexidade que me apalerma. Suspeito de razão ou mania nesta senha com que o mundo me acompanha como sombra onde me não reconheço. Talvez fado, talvez destino. Amanhã acordarei com esta crueza. Sensatamente tentarei praticar a sabedoria (que tenho mais do que obrigação de saber sabida) de apartar a terapêutica das interrogações.
     Em surdina peço que pessoa, memórias, sentidos e sentimentos se evaporem ou dissipem, que não me atormentem com assombrações metálicas ou satinados perdões.



domingo, 19 de janeiro de 2014

«Nada é para sempre»

  
   Tinha saido cedo. As ruas como nos domingos de antigamente, percorridas apenas pelo ar frio que lhe pôs umas lágrimas no olhar, a ele que não chorava desde que se lembrava (nem quando, criança, a mãe morreu, e ficaram todos, medrosos, a olhar para ele, como se fosse um homem pequenino, seco e cinza), que por momentos desfocaram a visão. Institivamente soube que isso o tinha protegido da emoção, e agradeceu distraído, não soube a quem.
   Mais tarde, já composto, apreciou com vagar o céu, um azul que lhe apeteceu definitivo. «Nada é para sempre». A luz recortava os objectos; todos, até aqueles em que já nem se repara, com uma nitidez de x-acto. Tudo recortado por uma mão firme, como a bofetada que lhe doeu.
   Dias assim tornam pesado o habitualmente cómodo celibato. Difusamente, sentiu o calor ausente, quase sonhou uma mão no escuro que sob a roupa da cama procura um seio, os corpos (que os há) encaixados como se feitos um no outro, sentiu um escuro, tão nítido como esta manhã de domingo, abreviou as imagens até a mão que encontra a mão, dedos entrelaçados como plantas quentes a falarem baixinho sussurros de até amanhã.
   Foi esse balbucio que o fez sentir o chá a queimar-lhe a boca. Um pequeno estremecimento fê-o abrir os olhos e viu na mesa, o que também era vida: um bule, a taça de chá fumegante e a pequena madalena intacta.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Como calham bem as incongruências...

  
   Tentemos. Tentamos sempre. Um sisifismo maldito, uma condenação que a memória libertou já. Hoje, em que caras, chuva e um frio que trespassa a nossa transparência, e em que tudo me sussurra uma tristeza inexplicavelmente associada a ti, é dia de ir à báscula. Retirado o peso das botas e demais roupas; da óssea gaiola e de pensamentos desobedientes às leis da gravidade, não sobra nada. Ou seja, «noves fora, nada...»

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Bilírico (Manuel) Bandeira


                                     Manuel Bandeira por Cândido Portinari


Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.



O Bicho


“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Igor Stravinsky




              "I am not a composer of music, I am an inventor of music" - Igor Stravinsky

domingo, 12 de janeiro de 2014

silêncio

muito mais silencioso (neste caso calado) do que um seixo da praia. sem uma imagem, sem oração, poema

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Foi você que pediu...?




segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Pois... pós-moderno


   Avinhados, azedos, impacientes e descuidados na aparência, sem engates (carnais ou intelectuais) à vista, vão-se-nos revelando, enfim, as naturezas. Talvez com um pouco de, aliás mui devidas,  justiça e paciência, coubéssemos todos, bem arrumados (como numa fotografia antiga, encenada). Imortalizados ou desafiando (só) a eternidade?
   Porque nesses ainda que remotos talvezismos talvez registasse circunstâncias e atenuantes mas, como aos outros, também a mim me vão pesando as carnes (a consciência essa, é um misterioso passarinho que volta e meia, ou não resiste a mágicos e imperativos chamamentos ou, então, aninha-se e não se dá por ele). Assim, acendo as luzes, esconjuro o que até agora tenho calado e... falo!
   Conversas, tantas conversas... De cortar fôlego, cegar seduções, de adiar nudezes ou matar desejos. Será que nos testa culpas e, em quase desespero, nos tenta fazer procurar absolvições, uma vez que os perdões, esses, estão pela hora da morte, muito para além das nossas diopterias em falta. Quando foi que deixei de me ouvir? E às ventanias? Fúrias várias, onde começámos e onde, agora, tão irremediavelmente perdidos estamos, que já nem opinião temos sobre o assunto. Tornámos a nossa vida um não-assunto... há sempre horas, momentos de sorte: sosseguemos na certeza de que a nossa foto sairá inevitavelmente, em revista rosa ou na bicromia mais modesta duma secção necrológica.


   Mas, infelizmente, a vida não são só alegrias. Lá para trás, mas não esquecida, uma constatação inquietante, uma pergunta escarrapachada nesta espécie de papel, assumidamente interrogante, obriga-me a exposição incómoda e, talvez, deslocada; aqui, nesta espécie de texto:

    « Quando foi que abriste as coxas? E porquê assim, daquela forma assassina? E, é ou não verdade evidente, que os teus olhos me dispararam, acusadores, que o que me davam, ou devolviam, era (já) meu? ». Como se alguma vez me tivesses conhecido de engates ou conquistas...

    É muito feio matar um morto. Enfim, um quase-morto... os meus dedos sabem a sal, a sal de língua.


domingo, 5 de janeiro de 2014

There's no one for me in Buenos Aires (talvez em Valparaíso...)


   No more mr. nice guy. No fundo bom rapaz, respeitador, calculista inveterado, nulidade escrita, ouvida (cada vez menos), caçador de afectos, solito capaz de prencher todo o tipo de  impressos alternativos, mas absolutamente incapaz de se gerir (ter cabeça), tímido demais para gritar, solícito de confidências prende-se a solidariedades e, nisso, não se queixa. Esse seu lado quixotesco tem justificado o ínicio deste texto.

    O desiquilibrio divino tornou-o uma espécie de case study (houvesse fundos e pachorras), onde uma sorte extrema e improvável se aliou a um azar digno de Job. Até aqui usou e abusou de todo o tipo de usuras mas vão-lhe faltando forças, pachorras e o azedanço vai marcando presença habitual (senão teimosa) em exames análises e avaliações clínicas.

   Vai pensando, capricorniantemente, em morrer: vítima de sobrevida. A falta de palavras, como de costume, desagua no lugar comum, que é uma casa de maus costumes, mas contortos existenciais assegurados, para cavalheiros da sua idade e do seu indeterminado ou ecuménico estatuto socio-económico.

   Deve-se este debuxo a uma série de (não) acontecimentos, a outra de (assim sentidos) maus tratos, e a um alinhamento narrativo do quotidiano suspeitosamtente aparentado a um clássico enredo policial.

   E acabo como comecei: no more mr. nice guy. Como se alguma vez tivesse sido porreiro, senhor, senhoria ou senhorial, ou então, mais prosaicamente, assim p'ro gajo...
   Certo, certo é estaa convicção, íntima (quase de fé) que mudanças se aproximam rápidas, em passo militar e olhar reclamante de um qualquer tipo de vingança. Nevoeiros, florestas negras ou laranjas, multidão faminta, esconderijo. Animal acossado, vira bicho, arreganha o dente e socorre-se do que tem (seu, dado ou emprestado)

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Sabinita





Que el maquillaje no apague tu risa,
que el equipaje no lastre tus alas,
que el calendario no venga con prisas,
que el diccionario detenga las balas,

Que las persianas corrijan la aurora,
que gane el quiero la guerra del puedo,
que los que esperan no cuenten las horas,
que los que matan se mueran de miedo.

Que el fin del mundo te pille bailando,
que el escenario me tiña las canas,
que nunca sepas ni cómo, ni cuándo,
ni ciento volando, ni ayer ni mañana

Que el corazón no se pase de moda,
que los otoños te doren la piel,
que cada noche sea noche de bodas,
que no se ponga la luna de miel.

Que todas las noches sean noches de boda,
que todas las lunas sean lunas de miel.

Que las verdades no tengan complejos,
que las mentiras parezcan mentira,
que no te den la razón los espejos,
que te aproveche mirar lo que miras.

Que no se ocupe de ti el desamparo,
que cada cena sea tu última cena,
que ser valiente no salga tan caro,
que ser cobarde no valga la pena.

Que no te compren por menos de nada,
que no te vendan amor sin espinas,
que no te duerman con cuentos de hadas,
que no te cierren el bar de la esquina.

Que el corazón no se pase de moda,
que los otoños te doren la piel,
que cada noche sea noche de bodas,
que no se ponga la luna de miel.

Que todas las noches sean noches de boda,
que todas las lunas sean lunas de miel.


Bichos



   «J’ai pitié de ce qui est sans défense […] je ne fais pas partie de la société protectrice des hommes» (Léo Ferré, principalmente, sobre os animais)

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Indisponibilidade para amar


   Hoje que choveu e choveu até nos dar a cegueira da cidade apagada, só senti uma chuva mansa, uma espécie de incomunicante chuva chorada. Daí veio o título e o Vinicius há tanto não evocado. A palavra Amor é a ilustração perfeita do quanto contaminamos a linguagem (talvez num vã tentativa de nos apropriarmos dela) e a prova definitiva da natureza felina das palavras. Entre o seu misterioso caminhar, o segredo calado e a sua superioridade de quem muito sonha e a ninguém presta contas, são as palavras dóceis quando querem... o resto do tempo deixam-se afagar sem grandes confianças e a menor dúvida de quem é o dono da casa. E a casa do gato é o mundo todo onde muito, à nossa medida, acontece. Até a tristeza.


Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

Vinicius de Moraes

Cave





Tree don’t care what a little bird sings
We go down with the due in the morning light
The tree don’t know what the little bird brings
We go down with the due in the morning
And we breathe, in it
There is no need to forgive
Breathe, in it, there is no need to forgive
(Again)
The trees will stand like ṗleading hands
We go down with the due in the morning light
The trees all stand like ṗleading hands
We go down with the due in the morning light
And we breathe it in
There is no need to forgive
Breathe it in, there is no need to forgive
(Again)

The trees will burn with blackened hands
We return with the light of the evening
The trees will burn blackened hands
Nowhere to rest, with nowhere to land

And we know who you are
And we know where you live
And we know there’s no need to forgive

And we know who you are
And we know where you live
And we know there’s no need to forgive

And we know who you are
And we know where you live
And we know there’s no need to forgive

And we know who you are
And we know where you live
And we know there’s no need to forgive again