Mostrar mensagens com a etiqueta poemas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta poemas. Mostrar todas as mensagens
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
Balada Irlandesa
IF I WAS A BLACKBIRD
If i was a blackbird I'd whistle and sing
and I'd follow the ship that my true love sails in,
and on the top rigging I'd there built my nest,
and I'd pillow my head on his lilly whith breast.
He promised me to take me to Bonnybrook fair
to buy me red ribbons to bind up my hair.
And when he'd return from the ocean so wide
he'd take me and make me his own loving bride.
His parents they slight me and will not agree
that I and my sailor boy married should be.
But when he comes home I will greet him with joy
and I'll take to my bosom my dear sailor boy.
SE EU FOSSE UM MELRO
Se eu fosse um melro assobiaria e cantaria,
seguindo o navio em que o meu amor navega;
construiria o meu ninho no alto dos cordames
e no seu peito branco como um lírio repousaria a minha. [cabeça.
Ele prometeu-me levar-me à feira de Bonnybrook
para comprar fitas vermelhas e prendê-las nos meus. [cabelos.
E quando regressasse do vasto oceano
haveria de me abraçar e fazer de mim a sua terna esposa.
Os seus pais desprezam-me e não estarão de acordo
que eu e o meu marinheiro nos casemos.
Mas quando ele regressar a casa vou acolhê-lo com alegria
e apertar contra o meu peito o meu marinheiro amado.
[trad. de António Sabler. Fraquinha, como se poderá ler e (não) sentir]
terça-feira, 1 de abril de 2014
Con luto de viudo furioso por cada día de mi vida
ARTE POETICA
Entre sombra y espacio, entre guarniciones y doncellas,
dotado de corazón singular y sueños funestos,
precipitadamente pálido, marchito en la frente
y con luto de viudo furioso por cada día de mi vida,
ay, para cada agua invisible que bebo soñolientamente
y de todo sonido que acojo temblando,
tengo la misma sed ausente y la misma fiebre fría
un oído que nace, una angustia indirecta,
como si llegaran ladrones o fantasmas,
y en una cáscara de extensión fija y profunda,
como un camarero humillado, como una campana un poco ronca,
como un espejo viejo, como un olor de casa sola
en la que los huéspedes entran de noche perdidamente ebrios,
y hay un olor de ropa tirada al suelo, y una ausencia de flores
—posiblemente de otro modo aún menos melancólico—,
pero, la verdad, de pronto, el viento que azota mi
pecho,
las noches de substancia infinita caídas en mi dormitorio,
el ruido de un día que arde con sacrificio
me piden lo profético que hay en mí, con melancolía
y un golpe de objetos que llaman sin ser respondidos
hay, y un movimiento sin tregua, y un nombre confuso.
Pablo Neruda
quinta-feira, 20 de março de 2014
Terno Pacheco
Comunidades que traem a memória da sua alma, perdem-se numa espécie de pacto metistofélico.
Esta ressurreição de vozes, sem juízos, sem destinos é uma parte do que sou. A Eva que há em mim, gerada, crescida e cuidada para poder estar aqui agora. Os amores e os afectos que não confessei são os arrependimentos que me ocorrem. O resto diluiú-se já numa espécie de esquecimento, a anunciar o renascimento incerto. Nesse rio placentário me banho, me nado e testo.
Um vento leve, uma espuma
Do beijo fica um sabor,
do sabor uma lembrança,
um vento leve, uma espuma.
Do beijo fica um sereno
olhar, o amor de coisas
minúsculas e humildes,
um pássaro que vai e vem
da nossa boca às palavras.
Do beijo fica, suprema,
a descoberta da morte.
Um vento leve, uma espuma
salgada, à flor dos lábios.
Fernando Assis Pacheco
Senão paz, pelo menos tréguas
Entre dentes
Deitado sobre ti
ensinas-me a sair
da treva.
Com a boca dorida
por tanta palavra
ensangüentada
devoro o teu cabelo
ouro que se desfaz
por entre os dentes.
E o teu sorriso
quando te penetro
ilumina súbito
a noite do meu corpo
Armando Silva Carvalho
quarta-feira, 19 de março de 2014
Bolero, Dom Quixote e um buraco na Infante Santo
dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice
conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo
dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nunhum ofício cantante
o tenha convencido a permanecer entre os vivos
Al Berto
segunda-feira, 17 de março de 2014
Revisitando respirações
SILÊNCIO
Uma noite,
quando o mundo já era muito triste,
veio um pássaro da chuva e entrou no
teu peito,
e aí, como um queixume,
ouviu-se essa voz de dor que já era a tua
voz,
como um metal fino,
uma lâmina no coração dos pássaros.
Agora,
nem o vento move as cortinas desta casa.
O silêncio é como uma pedra imensa,
encostada à garganta.
José Agostinho Baptista
Hilda Hist, que há tanto tempo aqui não vinha
Do Desejo
Quem és? Perguntei ao
desejo.
Respondeu: lava. Depois
pó. Depois nada.
I
Porque há desejo em mim, é tudo
cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar
alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso,
lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.
II
Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de
máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes
antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um
desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas
livre.
E que escura me faço se abocanhas de
mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras,
embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.
III
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te
sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha
boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do
amanhecer.
IV
Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará
o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há
um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará
disforme?
V
Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Esse da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me
avassala
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.
VI
Aquele Outro não via minha muita
amplidão.
Nada LHE bastava. Nem ígneas cantigas.
E agora vã, te pareço soberba,
magnífica
E fodes como quem morre a última
conquista
E ardes como desejei arder de
santidade.
(E há luz na tua carne e tu palpitas.)
Ah, porque me vejo vasta e inflexível
Desejando um desejo vizinhante
De uma Fome irada e obsessiva?
VII
Lembra-te que há um querer doloroso
E de fastio a que chamam de amor.
E outro de tulipas e de espelhos
Licencioso, indigno, a que chamam
desejo.
Há o caminhar um descaminho, um
arrastar-se
Em direção aos ventos, aos açoites
E um único extraordinário turbilhão.
Porque me queres sempre nos espelhos
Naquele descaminhar, no pó dos
impossíveis
Se só me quero viva nas tuas veias?
VIII
Se te ausentas há paredes em mim.
Friez de ruas duras
E um desvanecimento trêmulo de
avencas.
Então me amas? te pões a perguntar.
E eu repito que há paredes, friez
Há ,olimentos, e nem por isso há
chama.
DESEJO é um Todo lustroso de carícias
Uma boca sem forma, em Caracol de Fogo.
DESEJO é uma palavra com a vivez do
sangue
E outra com a ferocidade de Um só
Amante.
DESEJO é Outro. Voragem que me habita.
IX
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas,
ásperas
Obscenas, porque era assim que
gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além,
buscando
Aquele Outro. E te repito: por que
haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e
acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
X
Pulsas como se fossem de carne as
borboletas.
E o que vem a ser isso? perguntas.
Digo que assim há de começar o meu
poema.
Então te queixas que nunca estou
contigo
Que de improviso lanço versos ao ar
Ou falo de pinheiros escoceses, aqueles
Que apetecia a Talleyrand cuidar.
Ou ainda quando grito ou desfaleço
Advinhas sorrisos, códigos, conluios
Dizes que os devo ter nos meus avessos.
Pois pode ser.
Para pensar o Outro, eu deliro ou
versejo.
Pensá-LO é gozo. Então não sabes?
INCORPÓREO É O DESEJO.
domingo, 16 de março de 2014
Não posso adiar o coração (eu também não)
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
sexta-feira, 14 de março de 2014
Buenos días, tristeza
A veces llega la tristeza. Trae
las alas suaves de conformidades,
los ojos bajos y la piel desnuda,
y parece tan fácil entregarse,
despojarse, poner bajo sus plantas
el reino, los poderes y las armas,
el amor sobre todo, y esos últimos
retales que nos quedan de alegría.
A veces gana la tristeza; entonces,
qué lujo de matices su victoria,
qué fasto de sus grises y sus pardos
ocupándolo todo.
Buenos días,
-he de decir-, tristeza, aquí me tienes
Josefa Parra, Alcoba del agua
sábado, 8 de março de 2014
Coisas de Partir
Tento empurrar-te de cima do poema
para não o estragar na emoção de ti:
olhos semi-cerrados, em precauções de tempo,
a sonhá-lo de longe, todo livre sem ti.
Dele ausento os teus olhos, sorriso, boca, olhar:
tudo coisas de ti, mas coisas de partir...
E o meu alarme nasce: e se morreste aí,
no meio de chão sem texto que é ausente de ti?
E se já não respiras? Se eu não te vejo mais
por te querer empurrar, lírica de emoção?
E o meu pânico cresce: se tu não estiveres lá?
E se tu não estiveres onde o poema está?
Faço eroticamente respiração contigo:
primeiro um advérbio, depois um adjectivo,
depois um verso todo em emoção e juras.
E termino contigo em cima do poema,
presente indicativo, artigos às escuras.
Ana Luisa Amaral
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Bilírico (Manuel) Bandeira
Manuel Bandeira por Cândido Portinari
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
O Bicho
“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”.
sábado, 16 de novembro de 2013
Jaime Sabines (a minha descoberta do dia)
¿Qué putas puedo hacer con mi rodilla,
con mi pierna tan larga y tan flaca,
con mis brazos, con mi lengua,
con mis flacos ojos?
¿Qué puedo hacer en este remolino
de imbéciles de buena voluntad?
¿Qué puedo con inteligentes podridos
y con dulces niñas que no quieren hombre sino poesía?
¿Qué puedo entre los poetas uniformados
por la academia o por el comunismo?
¿Qué, entre vendedores o políticos
o pastores de almas?
¿Qué putas puedo hacer, Tarumba,
si no soy santo, ni héroe, ni bandido,
ni adorador del arte,
ni boticario,
ni rebelde?
¿Qué puedo hacer si puedo hacerlo todo
y no tengo ganas sino de mirar y mirar?
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Roberto Bolaño sob protesto...
... pela tradução de António José Viegas
DEVOÇÃO DE ROBERTO BOLAÑO
Em finais de 1992 ele estava muito doente
e tinha-se separado da sua mulher.
Essa era a puta da verdade:
estava só e fodido
e costumava pensar que lhe restava pouco tempo.
Mas os sonhos, alheios à doença,
vinham todas as noites
com uma fidelidade que conseguia assombrá-lo.
Os sonhos que o transportavam para esse país mágico
A que ele e ninguém mais chamava México D.F. *
E Lisa e a voz de Mario Santiago**
lendo um poema
e tantas outras coisas boas e dignas
dos mais calorosos elogios.
Doente e só, ele sonhava
e defrontava os dias que se dirigiam
até ao fim de outro ano.
E de tudo isso extraía um pouco de força e coragem.
México, os passos fosforecentes da noite,
a música que se ouvia nas esquinas
onde antes as putas gelavam
(no coração de gelo de Colonia Guerrero ***)
proporcionavam-lhe o alimento de que necessitava
para cerrar os dentes
e não chorar de medo.
* - Distrito Federal do México (Cidade do México)
** - Mario Santiago (1953-1988) era um dos companheiros de Roberto Bolaño, e é considerado o fundador do infrarealismo. É personagem de Bolaño em Os Detectives Selvagens. O primeiro manifesto do infrarealismo foi assinado por Bolaño em 1976.
*** - Zona residencial e popular no noroeste da Cidade do México
LISA
Quando Lisa me disse que tinha feito amor
com outro, na velha cabina telefónica daquele
armazém de Tepeyac, julguei que o mundo
terminava para mim. Um tipo alto e magro e
com o cabelo comprido e uma verga grossa que não esperou
mais de um encontro para penetrá-la até ao fundo.
Não é uma coisa séria, disse ela, mas é
a melhor maneira de tirar-te da minha vida.
Parménides Garcia Saldaña * tinha o cabelo farto e podia
ter sido o amante de Lisa, mas alguns
anos depois soube que tinha morrido numa clínica psiquiátrica
ou que se tinha suicidado. Lisa já não queria
dormir mais com perdedores. Às vezes sonho
com ela e imagino-a feliz e fria num México
desenhado por Lovecraft. Escutamos música
(Canned Heat **, um dos grupos preferidos
de Parménides Garcia Saldaña) e depois fazemos
amor três vezes. Da primeira vez veio-se dentro de mim,
da segunda veio-se na minha boca e, da terceira, apenas um fio
de água, um pequeno fio de pesca, entre os meus seios. E tudo
em duas horas, disse Lisa. As duas piores horas da minha vida,
disse eu do outro lado do telefone.
* Parménides Garcia Saldaña (1944-1982), escritor mexicano, apaixonado por J.D.Salinger, Norman Mailer, rock e marxismo. É autor de “Pasto Verde” ou de “En la Ruta de la Onda”, livro emblemático da chamada «Literatura de la Onda».
** Os Canned Heat eram uma banda de rock e de blues que chegou a actuar no Festival de Wooodstck. O baterista, Adolfo “Fito” de la Parra (n.1946) era Mexicano, acompanhou Etta James, os Platters ou as Shirelles, e tem mesmo um álbum intitulado “Fito de la Parra Drum Solos”. O guitarrista era Bob Hite (1945-1981), e o primeiro líder da banda Alan “Blind Owl” Wilson (1943-1970), que tocou com John Lee Hooker (este considerava-o o mais talentoso na harmónica) ou Jimi Hendrix. As duas canções mais famosas da banda eram “Going Up the Country” e “On the Road Again”.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Faz-me o favor...
Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.
Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
Mário Cesariny de Vasconcelos, in "O Virgem Negra"
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
... e por falar nisso
RECANTO 11
O verão deu-nos uma volta aos olhos.
Voltou-se ao mais princípio dos princípios
a Ilo um ovo perdido num campo de pérolas
chamou-se por uma mulher (Ila, irmã, ovário)
para recuperar o sexo
mas o que nos apareceu foi a clareira como víramos
num filme e na televisão a luz feita
espaço de calor aquela incandescência aberta
no juízo
que nos falava de um ser inexistente
de um ex-ser duplo
povoador de momentos agudos
de afiadas linhas da mão,
brancas gotas de amante à despedida
heróica incandescência metida
em supositório
pela artéria aorta.
As casas vieram de noite
As casas vieram de noite
De manhã são casas
À noite estendem os braços para o alto
fumegam vão partir
Fecham os olhos
percorrem grandes distâncias
como nuvens ou navios
As casas fluem de noite
sob a maré dos rios
São altamente mais dóceis
que as crianças
Dentro do estuque se fecham
pensativas
Tentam falar bem claro
no silêncio
com sua voz de telhas inclinadas
Luisa Neto Jorge
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Pássaros Prevertianos
O Céu, Henri Matisse
Chanson
de l'oiseleur
L'oiseau
qui vole si doucement
L'oiseau rouge et tiède comme le sang
L'oiseau si tendre l'oiseau moqueur
L'oiseau qui soudain prend peur
L'oiseau qui soudain se cogne
L'oiseau qui voudrait s'enfuir
L'oiseau seul et affolé
L'oiseau qui voudrait vivre
L'oiseau qui voudrait chanter
L'oiseau qui voudrait crier
L'oiseau rouge et tiède comme le sang
L'oiseau qui vole si doucement
C'est ton coeur jolie enfant
Ton coeur qui bat de l'aile si tristement
Contre ton sein si dur si blanc
L'oiseau rouge et tiède comme le sang
L'oiseau si tendre l'oiseau moqueur
L'oiseau qui soudain prend peur
L'oiseau qui soudain se cogne
L'oiseau qui voudrait s'enfuir
L'oiseau seul et affolé
L'oiseau qui voudrait vivre
L'oiseau qui voudrait chanter
L'oiseau qui voudrait crier
L'oiseau rouge et tiède comme le sang
L'oiseau qui vole si doucement
C'est ton coeur jolie enfant
Ton coeur qui bat de l'aile si tristement
Contre ton sein si dur si blanc
Pour
faire le portrait d'un oiseau
Peindre
d'abord une cage
avec une porte ouverte
peindre ensuite
quelque chose de joli
quelque chose de simple
quelque chose de beau
quelque chose d'utile
pour l'oiseau
placer ensuite la toile contre un arbre
dans un jardin
dans un bois
ou dans une forêt
se cacher derrière l'arbre
sans rien dire
sans bouger ...
Parfois l'oiseau arrive vite
mais il peut aussi bien mettre de longues années
avant de se décider
Ne pas se décourager
attendre
attendre s'il le faut pendant des années
la vitesse ou la lenteur de l'arrivée de l'oiseau
n'ayant aucun rapport
avec la réussite du tableau
Quand l'oiseau arrive
s'il arrive
observer le plus profond silence
attendre que l'oiseau entre dans la cage
et quand il est entré
fermer doucement la porte avec le pinceau
puis
effacer un à un tous les barreaux
en ayant soin de ne toucher aucune des plumes de l'oiseau
Faire ensuite le portrait de l'arbre
en choisissant la plus belle de ses branches
pour l'oiseau
peindre aussi le vert feuillage et la fraîcheur du vent
la poussière du soleil
et le bruit des bêtes de l'herbe dans la chaleur de l'été
et puis attendre que l'oiseau se décide à chanter
Si l'oiseau ne chante pas
c'est mauvais signe
signe que le tableau est mauvais
mais s'il chante c'est bon signe
signe que vous pouvez signer
Alors vous arrachez tout doucement
une des plumes de l'oiseau
et vous écrivez votre nom dans un coin du tableau.
avec une porte ouverte
peindre ensuite
quelque chose de joli
quelque chose de simple
quelque chose de beau
quelque chose d'utile
pour l'oiseau
placer ensuite la toile contre un arbre
dans un jardin
dans un bois
ou dans une forêt
se cacher derrière l'arbre
sans rien dire
sans bouger ...
Parfois l'oiseau arrive vite
mais il peut aussi bien mettre de longues années
avant de se décider
Ne pas se décourager
attendre
attendre s'il le faut pendant des années
la vitesse ou la lenteur de l'arrivée de l'oiseau
n'ayant aucun rapport
avec la réussite du tableau
Quand l'oiseau arrive
s'il arrive
observer le plus profond silence
attendre que l'oiseau entre dans la cage
et quand il est entré
fermer doucement la porte avec le pinceau
puis
effacer un à un tous les barreaux
en ayant soin de ne toucher aucune des plumes de l'oiseau
Faire ensuite le portrait de l'arbre
en choisissant la plus belle de ses branches
pour l'oiseau
peindre aussi le vert feuillage et la fraîcheur du vent
la poussière du soleil
et le bruit des bêtes de l'herbe dans la chaleur de l'été
et puis attendre que l'oiseau se décide à chanter
Si l'oiseau ne chante pas
c'est mauvais signe
signe que le tableau est mauvais
mais s'il chante c'est bon signe
signe que vous pouvez signer
Alors vous arrachez tout doucement
une des plumes de l'oiseau
et vous écrivez votre nom dans un coin du tableau.
Jacques Prévert
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
poesia e (ou vs) burguesia
(…)
Paro um pouco a enrolar o meu cigarro (chove)
e vejo um gato branco à janela de um prédio bastante alto…
Penso que a questão é esta: a gente - certa gente – sai para a rua,
cansa-se, morre todas as manhãs sem proveito nem glória
e há gatos brancos à janela de prédios bastante altos!
Contudo e já agora penso
que os gatos são os únicos burgueses
com quem ainda é possível pactuar -
vêem com tal desprezo esta sociedade capitalista!
Servem-se dela, mas do alto, desdenhando-a…
Não, a probabilidade do dinheiro ainda não estragou inteiramente o gato
mas de gato para cima – nem pensar nisso é bom!
Propalam não sei que náusea, retira-se-me o estômago só de olhar para eles!
São criaturas, é verdade, calcule-se,
gente sensível e às vezes boa
mas tão recomplicada, tão bielo cosida, tão ininteligível
que já conseguem chorar, com certa sinceridade,
lágrimas cem por cento hipócritas.
E o certo é que ainda têm rapazes de Arte, gente
que pôs a alegria a pedir esmola e nessa mesma noite
foi comprar para o cinema
porque há que ir ao cinema, ele é por força, é por amor de Deus, ah, não! não!
isso não!, não se atravessem nesta bilheteira!!
Vamos estar tão bem! Vai tudo ser Tão Bonito!
Ah, e quem é que, vê o logro? A quem é que isto cheira a ranço?
Porque é que a freguesa de Panos Limitada não exige três quartas de cinema
e sim três quartas partes pretas de lã carneira?
Porque é que a pianista compra do Alves Redol
quando está a pensar nas pernas e no peito do louro galã yankee?
E porque raio despede o senhor Director três humílimos empregados
quando a verdade é que já lá vão três meses e ainda
não viu um que lhe enchesse
as medidas?
- Com certa espécie de solidariedade
lembro-me de ti, Mário de Sá-Carneiro,
Poeta-gato-branco à janela de muitos prédios altos…
Lembro-me de ti, ora pois, para saudar-te,
para dizer bravo e bravo, isso mesmo, tal qual!
Fizeste bem, viva Mário!, antes a morte que isto,
viva Mário a laçar um golpe de asa e a estatelar-se todo cá em baixo
(viva, principalmente, o que não chegaste a saber, mas isso é já outra história…)
E com uma solidariedade muito mais viva
lembro-me de ti, meu vizinho de baixo,
sapateiro-gato-branco mas no rés-do-chão, desta vez
É curioso que não te possas suicidar
só porque a tua janela está ao nível do mundo
e que cantes alegremente de manhã à noite
com uma casa de seis andares em encima de ti.
Também tu foste empurrado, também te disseram: Fora, gato!
Mas achaste isso quase natural (e não o é, deveras?)
E agora, guardando em ti todas as tuas grandes qualidades
vais vivendo um pouco à margem, um pouco no quinto andar…
Deito fora o cigarro que já me sabia a amargo
e decido-me a andar mas para quê ? Mas para onde ?
As lojas estão todas abertas mas nunca se viu coisa tão fechada
Ah! heróis do trabalho, que coisas raras fazeis!
Não sou um proletário – vê-se logo
- mas odeio cordialmente a gataria
e quanto a crocodilos, nem os do Jardim Zoológico me atraem
quanto mais estes! E aqui é que começa o embróglio…
O pouco amor que eu tive à burguesia
deixei-o todo numa casa de passe
quando me perguntaram: quer assim ? Ou assim ?
E agora, era fatal, falto ao escritório,
falto ao escritório, pontualmente, todas as manhãs.
Mas vejamos, ó minha alma, se podes, arrumemos
um pouco a casa escura que te deram.
(…)
Mário Cesariny de Vasconcelos, in "Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos"
Burgueses somos nós todos
ou ainda menos.
Burgueses somos nós todos
desde pequenos.
Burgueses somos nós todos
ó literatos.
Burgueses somos nós todos
ratos e gatos.
Burgueses somos nós todos
por nossas mãos.
Burgueses somos nós todos
que horror irmãos.
Burgueses somos nós todos
ou ainda menos.
Burgueses somos nós todos
desde pequenos.
Mário Cesariny de Vasconcelos, in "Nobilíssima Visão"
domingo, 13 de maio de 2012
"the saddest heart in the post-war supermarket"
They fuck you up, your mum and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.
But they were fucked up in their turn
By fools in old-style hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another’s throats.
Man hands on misery to man,
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don’t have any kids yourself.
Philip Larkin
Labels:
poemas
segunda-feira, 30 de abril de 2012
sábado, 28 de abril de 2012
António Machado
Caminante,
son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.
Caminhante,
são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.
in "Antologia Poética" (selecção,
tradução, prólogo e notas de José Bento), Editorial Cotovia (1999)
Labels:
poemas
Subscrever:
Mensagens (Atom)