terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Felicidades literárias


Acabo e começo o ano com dois extraordinários livros:



   ... extraordinários tanto em si, como na circunstância de se encontrarem em mim simultaneamente. Não vou chover no molhado (nem que fosse por ausência de tese própria ou ponto de vista original) da mofenta questão sobre a valia do conhecimento biográfico como auxiliar ou, pelo contrário, como atrapalhação opaca e poluente da obra de arte.
   Vai brevíssimo e provisório o post (e por isso revisável). Acima de tudo, embora com abordagens e intenções muitíssimo diferentes, ambos afloram a questão da (auto-) representação.
  O Graham Greene por variadas e díspares razões sempre foi escritor com lugar cativo nas prateleiras que fui tendo (e perdendo). Apesar disso (ou, se calhar, por isso mesmo), e tendo em conta o caudaloso volume da sua produção literária, o meu conhecimento da sua obra é pouco menos do que anárquico. Como pessoa sempre me pareceu reunir aquelas características que tornam certo tipo de ingleses absolutamente irresistíveis. A experiência bondesca, a típica forma british de conseguir falar contidamente do universo mais que emocional, existencial. O profissionalismo dos copos e o fenómeno exclusivamente britânico (ou anglicano) da importância dada às conversões religiosas (pense-se p.ex. no Evelyn Waugh, outro exemplo clássico),. Absolutamente sem paralelo neste nosso hemisfério papal.
   Abordo tangencialmente as cartas do Graham Greene: estamos a falar de alguém que, ao longo da vida escreveu cerca de 2.000 cartas por ano. Não, não é gralha... eu extenso: duas mil. Convenhamos que perante semelhante caudal, variedade de destinatários e assuntos, manter, tentar manter, criar, ou tentar criar imagem para a posteridade é completamente impensável.
   Por aqui me fico, com a certeza que se estes dois livros me vieram aliviar a testa, ainda me vão torrar o juizo e a cinza massa que me resta.

Para Memória Futura (PMF) 1


Projecto em três fases + explicação


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Não nos merecemos (mais)


Olhos secos são sal e pó
Neste quarto deserto
Habitado apenas de ti e eu calado.

O teu olhar duro sabe que
Os meus lábios calarão
Memórias, lágrimas, leite.

Eu e tu, um citadino luar
E silêncio, um lago de silêncio...
Eu a não querer estar aqui
Entre o que sei e o que recusas esquecer.

Sei-te frágil a socar, cega, o ar
Sobretudo temo a brilhante navalha
O afiado aço do teu desprezo, mas
Mas nem tu desconfias desse poder imenso.

O mundo cansou-se de nós.
Tu insistes. Eu desisto, apenas por saber
Que a morte há-de entrar pela porta como a avó.
Por isso, resignado, me sento na velha poltrona.

Como se pela memória pudesse
Resgatar os meus mortos, salvar-te ou dizer que te amo.
Do copo partido no chão, sobram cacos e corpos
de uma vida que durou demais.

É tão raparigo o teu medo, menina
E eu pai canalha de nada. E de nada
Se enche o quarto que é já mundo.
Ouve (se ainda puderes): Se enche e não esvazia.

Informação útil

  
   Já nos aconteceu a todos. Ter uma imagem e não saber proveniência ou autoria. O site http://www.tineye.com/ permite fazer o upload de qualquer imagem a partir do computador ou de um endereço web (URL) e ele procura dando-nos uma lista de resultados. Experimentei com uma imagem para mim completamente anónima (a de Ivan Solyaev abaixo postada) e, como se pode ver funcionou.

   Também existe como addon do Firefox (https://addons.mozilla.org/pt-BR/firefox/addon/tineye-reverse-image-search/). Como não instalei não opino nem aconselho.
                                            Ivan Solyaev



Remate de conversa pós-moderna

  
   A arte é uma cama em que todos cabem e onde até se pode dormir

domingo, 29 de dezembro de 2013

Brincadeira com destinatário


Disse-me interdita ao mundo
Por entrega ou se ter dado
Honestas, no fundo,
As entregas... e eu danado!


Eu interditei-me ao mundo
Para e por não me dar.
Agora este peito vagabundo
É que não se deixa enganar.


Não há nuvem que nos leve
Rafeiros, de precipício, comos nós.
Fica um vazio, uma distante voz
Sonhava mais, mas'tou em greve




Outonal

  
   Uma cerimónia chamada Noite do Meio de Shaaban* tem origem numa tradição segundo a qual a jujuba do Paraíso tem tantas folhas quantos os seres humanos vivos no mundo. Crê-se que nessas folhas estão escritos os nomes de todos os seres. Em cada folha encontra-se escrito o nome de uma pessoa, do seu pai e da sua mãe. Acredita-se que a árvore é sacudida durante a noite que antecede o décimo quinto dia do mês, um pouco depois do pôr-do-sol; e que quando essa pessoa vai morrer no ano seguinte, a folha no qual está escrito o seu nome cai nessa ocasião; se vai morrer em breve, a sua folha encontra-se quase toda seca, apenas uma pequena área se mantém verde; consoante o tempo que lhe resta de vida, a parte verde é maior ou menor.Uma forma particular de oração é usada nessa altura.
                                                        In "Dictionnaire des Symboles" (Robert Laffont, 1995)

   * Shaaban é o oitavo mês do calendário islâmico; como este é um calendário lunar não tem correspondência fixa com o nossso (solar)

   A incontornável Wikipedia explica: 
   The Islamic calendar is a lunar calendar, and months begin when the first crescent of a new moon is sighted. Since the Islamic lunar calendar year is 11 to 12 days shorter than the solar year, Muharram migrates throughout the solar years. The estimated start and end dates for Muharram are as follows (based on the Umm al-Qura calendar of Saudi Arabia)

AH First day (CE / AD) Last day (CE / AD)
1431 18 December 2009 15 January 2010
1432   7 December 2010   4 January 2011
1433 26 November 2011 25 December 2011
1434 15 November 2012 13 December 2012
1435   4 November 2013   3 December 2013
1436 25 October 2014 22 November 2014
1437 14 October 2015 12 November 2015
Muharram dates between 2010 and 2015

sábado, 28 de dezembro de 2013

Hoje que não dormi sozinho nem acompanhado, mas sonhei muito e acordei cansado...

    


  Enquanto o dia acontece, começo pelo fim. A janela. Compõe-se o dia; apareceu um sol de gato, olhei o céu e percebi que somos crescidos quando deixamos de olhar as nuvens. Perplexidades e glóbulos coloridos são mentalmente indigestos por isso me deixo pijamar numa preguiça de nada explicar. Quem quer histórias vai ter que procurar a papa noutra mama. Eu fiquei como já fui, a ver uma nuvem a diabrar. Borlices que ainda há, estás fodido rapaz...
    E o princípio, sério e triste é o Bataille que me acompanhou, manhã cedo de mais, os cigarros e o café desta melancólica existência em que empanei.



      Bataille um e dois

    Nunca “pegou” por cá, o Bataille. Umas prosas (vendáveis, que o burguês gosta de picante na gastronomia literária « - e o picante é caseiro?... Ah, nesse caso...»). Mais do que por antipatia(s), penso que pela heterodoxia e pela definição Leiriesca (está no texto e é de tradução impossível). Personagem, obra e temáticas na mesma capela? Pois...
   Ficamos a perder, nem que seja pela sua relação com as vanguardas. As, agora, de museu e mausoléu. Não vou botar discurso nem marchar na parada: deixo a introdução ao catálogo da exposição “Undercover Surrealism: Georges Bataille and DOCUMENTS” de 2006.
   O Bataille dois é precisamente isso: um catálogo. Trezentas páginas de fazerem corar muitos curadores e especialistas, muito vendedor de prosa, a confraria (quase) toda.
   Por e para mim já tenho para uns dias (e vou poupar). Bem sei que os cinquenta vão-se fazendo notar, mas havendo interessados: o cú e 5 euros por um original...




 



Georges Bataille (I897-1962) - numismatist, scholar, pornographer, social critic and idiosyncratic philosopher - remains a profoundly influential and controversial thinker and writer. Described by his friend Michel Leiris as 'Bataille the impossible', he represented in the late 1920s an intellectual, internal opposition to Andre Breton's Surrealism, which attracted many of the best non conformist poets, artists and writers of the age. Bataille's most visible contribution to contemporary thought was in the form of the review DOCUMENTS, which ran for 15 issues through 1929 and 1930.



    Conceived as a 'war machine against received ideas', DOCUMENTS drew in several dissident surrealists such as Michel Leiris, Joan Miró, Robert Desnos and André Masson. Never himself a member of the movement, Bataille later at the time when Jean-Paul Sartre was leading the post-war attack on Surrealism, expressed a fundamental if critical sympathy with it as 'genuinely virile opposition - nothing conciliatory, nothing divine - to all accepted limits, a rigorous will to insubordination.' As, in his own words, Surrealism's 'old enemy from within', Bataille was nonetheless uncompromising in his disdain for art as panacea and substitute for human experience, his problem remaining 'the place that Surrealism gave to poetry and painting: it placed the work before being'.
    DOCUMENTS' approach to the visual opposed that of Breton at every turn. Breton and the surrealists had proposed various ways of achieving immediacy of expression: through automatic writing and drawing they had tried to circumvent the conscious control of image-making, while Sigmund Freud's theories had provided a symbolic code through which dreams and the workings of the unconscious mind could be noted and interpreted. In the heterogeneous visual material included in DOCUMENTS Bataille and his colleagues Michel Leiris, Robert Desnos and Carl Einstein engaged with and challenged such ideas which, they claimed, far from confronting the base realities of human thought and the violent nature of desire, actually idealised and sublimated them. Instead, DOCUMENTS utilised strategies of de-sublimation, allowing an unblinking stare at violence, sacrifice and seduction through which art was 'brought down' to the level of other kinds of objects.
    Although Surrealism is not openly discussed in its pages, the implied critique of Breton's movement, the constant harping on a 'base materialism' as opposed to the elevation of poetic thought, as well as the flagrant play with the surrealist principle of cultural collage, the juxtaposition of 'distant realities', was sufficiently provocative for Breton to react furiously in his Second Manifesto of Surrealism (1929), one of the very rare occasions when he names Bataille, and to whom he devotes several pages of well-aimed invective.
    DOCUMENTS encompassed art, ethnography, archaeology, film, photography and popular culture, with discussions of jazz and music hall performances beside the work of major modern artists, and illuminated manuscripts and sacred stone circles alongside an analysis of the big toe. t was also the home of a 'Critical Dictionary', to which Bataille and his closest colleagues contributed short essays on, among other things, 'Absolute', 'Man', 'Abattoir', 'Eye', 'Factory Chimney' and 'Dust'. A dictionary would begin, Bataille wrote in his entry 'Formless', when it provided not the meanings but the tasks of words. This short text alone has had a remarkable afterlife as a critical tool for the analysis of contemporary art. The exhibition Informe at the Centre Pompidou in 1997 attacked the unity of modernist readings of art by proposing a set of alternative and unstable 'operations' by which works were discussed not in terms of meanings but in relation to 'horizontality', 'base materialism', 'pulse' and entropy.
    DOCUMENTS' unlikely cradle was the Cabinet des medailles at the Bibliotheque Nationale de France, where Bataille was following a (promising) career as a numismatist together with the journal's co-founder Pierre d'Espezel . Another colleague, Jean Babelon, was also on the editorial board. The magazine's financial backer was Georges 'Vildenstein, whose Gazette des beaux-arts was one of the longest established art reviews in Paris. The various expectations of the new review on the parts of Vildenstein, the editorial board and Bataille himself did not cohere.
   Bataille's approach grated with DOCUMENTS' backer and the more conservative members of the board from the very start. 'What he meant by his title was not what they had expected, and d'Espezel wrote after the first issue:
    'The title you have chosen for this review is barely justified only in the sense that it gives us "Documents" on your state of mind. That's a lot, but not quite enough. It's essential to return to the spirit which inspired us in the first project for the review, when you and I talked about it to M Vildenstein.'
    Bataille's essay 'The Academic Horse' had flouted scholarly academic traditions of objectivity and was a foretaste of what was to come. Presumably Vildenstein had expected another luxurious version of the Gazette des beaux-arts with the addition of 'primitive art'. However, Bataille's choice of rubric for DOCUMENTS- Doctrines, Archéologie, Beaux-Arts, Ethnographie - already distanced it from the primitivist aesthetic then fashionable in Paris. 'It announces that DOCUMENTS is not another Gazette des beaux-arts and above all not a Gazette des beaux-arts primitifs'.
    Three of the subjects on DOCUMENTS' cover remained constant: Archaeology, Fine Arts and Ethnography. For the first three issues 'Doctrines' headed the list; from the fourth issue this disappeared to be replaced at the bottom, as on a departure board, by 'Variétés'. These five subjects define the ostensible coverage of material in the journal. 'Doctrines' was a more unusual term in the context of the avant-garde magazines than 'Documents' itself, and what it signified for Bataille is unclear. Doctrines are defined by and define 'moral communities' and religions, and later Bataille insisted on thus describing
Surrealism. Perhaps 'Doctrines' was intended to stand both for those beliefs held by declared religions and for those of tnore occult communities, such as Surrealism.
    For the first five issues of DOCUMENTS an editorial board of 11, including scholars and museum professionals as well as Vildenstein, Carl Einstein and Georges Henri Rivière, was named, with Bataille taking the title of 'general secretary'. Subsequent issues omit the editorial board and credit Bataille alone as general secretary, which indicates a more managerial or administrative position, leaving the absorbing question of editorial control unresolved. However Bataille later wrote that he 'really edited [DOCUMENTS] in agreement with Georges Henri Rivière ... and against the titular editor, the German poet Carl Einstein'. Although Einstein continued to contribute to DOCUMENTS until the end, his ambitions to draw in German scholars and in particular to establish a link with the 'Varburg Institute in Hamburg were only partially realised.
    DOCUMENTS' title was both camouflage and challenge. It was not, in itself, so out of line with the flush of new journals dealing with art and contemporary culture in Europe at the time. Most spiced their covers with the promise of a range of subjects of contemporary interest. The Belgian Variétés. which was regularly advertised in DOCUMENTS, announced 'les images/ les documents/ les textes de notre temps' offering, in other words, 'documents' of the present day. Popular art, pin-ups and celebrity mug shots figured in publications like the German magazine Der Querschnitt. Cahiers d'Art, in the late 1920s, covered 'Painting-sculpture-architecture-music-theatre-discs-cinema'. In terms of content the journal closest to DOCUMENTS was Jazz, a monthly review dedicated to 'l'actualité intellectuelle' edited by a remarkable woman explorer, Titayna. Not only did Jazz reproduce Eli Lotar's abattoir photos but in its second issue (January 1929) it included a horrific sequence of photos of Chinese executions, including public beheadings and the notorious killing by a 'thousand pieces' (Bataille was haunted by a photograph of this horrific scene given to him by his analyst, Adrien Borel, in c. 1925)
    DOCUMENTS, however, did more in its pages than chart the interesting discoveries and materials, modern and ancient, Western and non-Western, considered relevant to contemporary society. It constructed - or deconstructed - them, and worked them into a series of challenges to those disciplines that were implied by its rubric. DOCUMENTS differed from other magazines of the period in its treatment of its heterogeneous subjects. The interaction between text and image, and between image and image, is complicated and unexpected. Whereas Variétés made a game, very simply decoded, of comparing or contrasting pairs of images, especially art and popular culture (Charlie Chaplin beside Jean Crotti's painting-relief Clown) sometimes via a title (a Magritte painting beside the fictional detective Nick Carter, under the heading 'Mysteries'), DOCUMENTS' use of 'resemblance' drew visual and thematic parallels, hilarious and shocking, that undermined categories and the search for meaning.
    Not infrequently DOCUMENTS picked the same topic as one just discussed in another magazine but wholly subverted the spirit of the original article. Take, for example, Lotar's notorious photographs of the abattoir at La Villette 
and Bataille's Critical Dictionary entry on 'Abattoir' .This text links the slaughterhouse to temples of bygone eras and evokes 'the ominous grandeur typical of those places in which blood flows'; photos and text relate to Bataille's interest in sacrifice and suspicion of the modern religion of hygiene, which are consistent concerns within DOCUMENTS. But it cannot be coincidental that Cahiers d'Art in 1928 had published as part of its series on modern architecture a sequence of striking photographs of the 1907 abattoirs at Lyon.
These 'model edifices', in Christian Zervos's words, 'correspond absolutely to their purpose and fulfil their role according to the most recent requirements of economy and
hygiene. Bataille's reference by contrast to the 'chaotic aspect of present-day slaughterhouses' together with Lotar's repulsive photos of bloody floors and indistinguishable lumps of flesh and skin directly confront the modernist efficiency lauded by Cahiers d'Art, whose photographs of the clean structures of the buildings are unpeopled and unsullied.
    In the 1978 Hayward Gallery exhibition Dada and Surrealism Reviewed, the section devoted to DOCUMENTS undeniably stood spectacularly apart as an alternative to orthodox Surrealism. The very inclusion of DOCUMENTS in Dada and Surrealism Reviewed was much debated and finally sealed on the advice of Michel Leiris, one of Bataille's closest collaborators.
   Leiris, himself previously a member of the surrealist movement and participant in the bitter exchanges between the dissident surrealists gathered round Bataille's DOCUMENTS and the orthodox group led by the founder Andre Breton, may well have anticipated the ensuing critical revision of Surrealism which has seen the darker counter-currents of Bataille's 'base materialism' as a favoured alternative to Breton's 'idealism'.
   Although the 1978 exhibition took the dada and surrealist reviews as its structuring principle, it followed a fairly consistent tripartite mode of display, separating works of art chosen objects and documents (journals, books, letters, etc). Here, the aim has been to reflect the visual aesthetic of the review itself, juxtaposing different kinds of objects to cut across .conventional hierarchies, grouping paintings, ethnographic objects, films, photographs, sculpture or crime magazines in relation to the key strategies and ideas in DOCUMENTS. The magazine was, itself, a 'playful museum that simultaneously collects and reclassifies its specimens'.
    Rather than simply amassing as many as possible of those tlungs, reproduced in the pages of its 15 issues, we want to represent the magazine itself as an active force, relying on its core ideas as a means of presenting the objects they made extraordinary.
                                  

                                    

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Uma espécie de sangue

 
   Corem os publicitários com a eterna desculpa dos "targets" para produzirem as merdas com que nos asfixiam. Num conveniente silêncio, a história, de certa forma exemplar, da participação dos escritores portugueses na publicidade está por fazer. Honra lhes seja feita, para mais num país onde a profissionalização da literatura sempre foi uma miragem. Antes do 25 de Abril chegam os dedos de uma mão para contar o número dos escritores profissionais. Depois, é claro que o Estado se encarregou de criar um novo "mercado de trabalho" (as acessorias, as missões diplomáticas, etc, tanto, tanto etc). E, obviamente, os escritores aproveitaram. Não serei eu a atirar a primeira meia dúzia de pedras. Quanto aos publicitários (os competentes) são tão bons a venderem a genitália, como a tornarem
qualquer reflexão ética sobre a sua profissão (em rigor, actividades) , mínima que seja, inexistente.


                        El Lissitzky, anúncio para a Pelikan (1924)

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

os pontos nos jotas

Adio o momento, angariando vontades, gerindo forças, 

Sem comentários (?)


 


 
28 septembre 1941. - Si l'on en avait le temps, on devrait écrire ce qui se passe dans notre cerveau pendant l'espace d’une minute. Mais non, le papier n'y suffirait pas. Et puis, comment retrouver le fil de pensées aussi nombreuses et aussi rapides ? Autant vouloir retracer dans les airs le vol d'une poignée de moineaux. D'un bout à l'autre de la vie, il passe à travers nous comme un torrent d’idées dont quelques-unes seulement sont perçues avec quelque netteté. À ce compte-là, qu'est-ce qu'un journal et quelle vérité peut contenir un ouvrage de ce genre ? Ce que nous détachons pour en parler n'est qu'une partie infime d’un ensemble qui n'a toute sa valeur que si l'œil l’embrasse en entier. Je ne suis pas, je n'ai jamais été tout à fait l'homme du journal que j'écris. Quand je relis les pages de 1928, de 1935, et même de 1940, il y a quelque chose en moi qui élève une protestation. Je suis meilleur et pire que je ne l'ai donné à entendre, mais j'ai toujours voulu être vrai. Or être vrai est une chose, et être exact en est une autre. 
 
Julien Green, "Journal" (Gallimard, La Pléiade)

domingo, 15 de dezembro de 2013

Sanseverino








J’ sors pas assez, j' reste enfermé
J’ai des chaussons dans les doigts d' pieds
J’ devrais sortir, voir des poteaux
Et manger des paupiettes de veau
Et pas rester à lire des livres, comme un salaud

Les livres, moi, ça m’ colle au fauteuil
Me fait oublier le réel et l’irréel
Et le jour des poubelles
Le truc te prend, te lâche plus
La journée passe et puis voilà
Tu n’as rien fait, enfin, t’as lu
C’est pas "rien fait"

Ça se ramène à la maison
Ça s’entreprend sur le paillasson
Tout habillé
C’est aussi consentant qu’un amour
Dont on a très, très envie
Et qu’on met doucement, poliment dans son lit

Ça s’abandonne, ça tombe des mains
On dit "J’ recommencerai demain"
Et puis ça croupit sous un lit ou dans on coin

T’es-tu déjà retrouvé à chialer
Mouiller les pages d’un bouquin
Relire la fin deux ou trois fois
Essayer de comprendre pourquoi
C’est toujours aussi triste et beau à chaque fois ?

Quand l' mec, il meurt
Et puis toute sa famille aussi
Dans d’injustes souffrances et puis des cris
On peut déjà palper la peur
Rien qu’en lisant le résumé de ses soucis
Dans la librairie, et c’est gratuit

Pas besoin d’argent pour lire tout le temps
Si t’es fauché, va au marché
Tu trouveras entre le saladier
Et le poissonnier
Des bouquiniers qu’ont des merveilles
De beauté à te refourguer


sábado, 14 de dezembro de 2013

Gérard Castello-Lopes




Travessia do Rubicão


    “Alea jacta est” (os dados estão lançados). Farto alimento para a nossa fome de mitos (e sem eles pouco somos). Situação de dramática irreverssabilidade acompanha-se de frase à altura. Por vezes, quando assim não acontece, inventa-se tão perfeitamente que a própria memória trabalha para nós ... e bem ("Play it again, Sam", frase nunca dita mas por todos recordada).

   Hoje, sábado, título e parágrafo alinham-se interrogantes, perseguindo-me nas desassogadas formas de estar comigo e com os outros. Quantas vezes, perante o Rubicão, decidimos o abismo de uma decisão? Alguma vez a nossa voz disse a coragem de assumirmos lançar os dados?

   (continua)

Polémica Noel Rosa x Wilson Batista

Oh, ce n'est qu'un poète



                            Gus Mager "Sherloko"  (1910)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O espelho partido e as gavetas na mesma

  
   Nem de antecipado propósito, expliquei recentemente ter sido principal função deste blog funcionar  numa espécie de registo diarístico. O que me tornava, obviamente, o principal leitor. Nessa linha, a dada altura eliminei a possibilidade de publicação de comentários. Preocupação constante tem sido manter um registo mínimo de intimidades e, até, de referentes sociais e políticas. Basta consultar as etiquetas "desabafos" e "amendoins" para o confirmar.
   Acontece que por razões que não são para aqui chamadas fui consultar os posts de Dezembro passado.  "Liberdade (nem do milhão nem do tostão)", 1 de Dezembro de 2012, texto completamente esquecido e tão estranhamente actual que não resisto a "repostar" excertos:
     
   "A despedida é líquida e fugaz como um orgasmo. É momento isento de memória ou escadaria duma memória futura. Não devia haver palavra "despedida", nem "justiça" nem, tão pouco, "amizade", porque se as palavras tivessem o peso e a verdade das pedras roladas que o mar devolve à terra, honestamente,  entenderíamos que no cais ficamos não a ver partir nave ou afecto, mas a cumprir o nosso destino de morrer.
   Perdoe-se-me a presunção mas quem cuida de si como bem raro, quem se esforça por recordar um princípio e se condena a um fim está irremediavelmente fodido. No meu dicionário pobreza não sinonimiza com miséria, caminhos muitos e a força (diria viril, não fosse a conotação) é militância e nunca funcionalismo.
   Evoco Neruda (não o livro, mas o fabuloso título "Confesso que Vivi")... assim, no final, o possamos sentidamente dizer todo
s."

   Junte-se-lhe o post "Coprofagia" de 9 de Novembro de 2011:

      serei eu, ou seremos nós?
Coprofagia (assim como a coprofilia, também conhecido como scat), copro em latim significa "fezes" e fagia "ingestão" sendo assim: prática de ingestão de fezes. Isto ocorre naturalmente em algumas espécies de animais, como cães, gatos, insetos e aves. Relata-se também tal prática em seres humanos, porém sob a categorização de patologia de ordem psíquica, ou desvio sexual (variação da coprofilia). Existe farto material de ordem hedonista a respeito do tema, principalmente proveniente do oriente.
Em práticas de dominação sexual entre duas ou mais pessoas a pessoa dominante por vezes pode defecar sobre seu escravo, não só no corpo mas como também no rosto ou até dentro de sua boca obrigando-a até a ingerir suas fezes (da pessoa dominante), isto também é denominado "scatsex"

... e aqui chego a querer falar do que penso. nuvens de estação nenhuma; levezas de vida alguma. nada do que me move, coisa alguma do que me sofre ou faz sofrer. a vida tirou férias e eu convosco me irmano nesta mentira. diziam os outros (as verdades são assim, modestas em autorias) melhores dias virão... ao que acrescento: ou sim ou não! paradoxos à parte, vai tudo dar ao mesmo.


   E teremos o retrato da traição que me faço e duma gloriosa sexta-feira treze. Se tudo isto não merece um foda-se... 

A História da Nuvem Canibal


                                          Robert e Shana Parkel-Harrison - The Clearing
   
   Com os estertores do ano aproximam-se, inconscientes, os balanços, os projectos. Constato assim a minha fraqueza,. Tornam-se nítidos os perigos, mais encorpados os espectros e mais difícil a solidão, longa e cuidadosamente cultivada, e o convívio íntimo com os meus mortos. Talvez tenha há tempo demais, mortos demais. De quantos poderei ainda ocupar-me? A memória incómoda, ditadora e caprichosa, amadrinha-me. O tempo ameaça-me. A resistência consome-me. Na grande pira ruge o fogo, cujas labaredas me hipnotizam. Com sorte, talvez me ceguem e devolvam ao mundo definitivamente incapaz, inapto para o serviço de viver.

   Não tenho é histórias para contar... ordens médicas. «Nada de vinho... nada de histórias...». E eu, que tenho com os médicos a relação que a minha avó tinha com deus, anjos e santinhos, entrego-me completo, tão completamente que nem me dou sequer ao trabalho de reter nomes de mazelas nem medicamentos. Claro que, por vezes, esta maneira de estar no consultório, na marquesa ou nas mão frias dos feiticeiros, se presta a mal-entendidos. Minha médica há cerca de 20 anos (com direito a beijo pensado ou imaginado), tão antiga que já amiga vertical (ou seja, sem cama), retrata-me crispada: «Essa tua atitude blasé perante a doença...).

   E, afinal, ao que venho? Ao mal-estar de o primeiro parágrafo ser o início duma história. Mando a medicina à merda?

Pois...





Maintenant Je Sais
Jean Gabin

Quand j´étais gosse, haut comme trois pommes
J´parlais bien fort pour être un homme
J´disais : je sais, je sais, je sais, je sais

C´était l´début, c´était l´printemps
Mais quand j´ai eu mes dix-huit ans
J´ai dit : je sais, ça y est, cette fois, je sais

Et aujourd´hui, les jours où je m´retourne
J´regarde la Terre où j´ai quand même fait les cent pas
Et je n´sais toujours pas comment elle tourne!

Vers vingt-cinq ans, j´savais tout : l´amour, les roses, la vie, les sous
Tiens oui l´amour! J´en avais fait tout l´tour!

Mais heureusement, comme les copains, j´avais pas mangé tout mon pain :
Au milieu de ma vie, j´ai encore appris.
C´que j´ai appris, ça tient en trois, quatre mots :

Le jour où quelqu´un vous aime, il fait très beau
J´peux pas mieux dire : il fait très beau!

C´est encore ce qui m´étonne dans la vie
Moi qui suis à l´automne de ma vie
On oublie tant de soirs de tristesse
Mais jamais un matin de tendresse!

Toute ma jeunesse, j´ai voulu dire "je sais"
Seulement, plus je cherchais, et puis moins j´savais

Il y a soixante coups qui ont sonné à l´horloge
J´suis encore à ma fenêtre, je regarde, et j´m´interroge :

Maintenant je sais, je sais qu´on n´sait jamais!

La vie, l´amour, l´argent, les amis et les roses
On n´sait jamais le bruit ni la couleur des choses
C´est tout c´que j´sais! Mais ça, j´le sais!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Sylvain Chauveau - Hurlements en faveur de Serge T.



Cansaço




Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço... 



 Álvaro de Campos, in "Poemas"

Jean Cocteau




terça-feira, 10 de dezembro de 2013

We'll meet again


   Dias em que o corpo pesado, se afunda na terra e o resto desarvora num vôo sem destino, não resta espaço para mais nada. Sem palavras, sem o amor que as suporta, nem os rostos que evocam.
   Ficam imagens (quase ao acaso) mas, não por acaso, rigorosamente por esta ordem.

                           Yokoyama Taikan

                            A.L.Leroy (1827)

                                            Diego Rivera  "Desnudo de Frida Kahlo"

                                       Hyung Koo Kang "O Beijo" (Pintura, 1998)

                                          Egon Schiele "Cardinal and Nun (Caress)", 1912

                                     Henri de Toulouse Lautrec "The Kiss In Bed"

"
                                  Shaun Day

sábado, 7 de dezembro de 2013

Mais do mesmo


O que dizer ? Um sábado gerado e parido sorridente.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Um sorriso, enfim



 Estas tempestades tropicais que me habitam e às quais dificilmente me habituo, dão-me instantes, dias assim. Um sorriso na testa, um calor no peito, uma elegância nos movimentos mas, sobretudo, uma paz feita bonomia, afecto, quase ou verdadeiro amor.

  Continuam intocáveis e intocados a coexistência e a simultaneidade com que invisíveis fios me ligam ao espaço e ao tempo que me rodeiam, e a harmonia em que neles me diluo, numa certeza de invisibilidade, de silêncio, de pazes feitas. Amém

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

(Inesperado) convite para edição livresca



   "Parece que vai sair livro". À minha fome de jaquinzinhos acenam-me com guluseimas açucaradas. Prometem-mo, pedem-mo, chegados a mim por improváveis caminhos e circunstâncias difíceis de acreditar. À monteiro... Não é pelo condicional, pela improbabilidade, ou por banho de gato. Agrava a tentação, claro, (e eu sei-o demasiado bem),  a possibilidade de vingativamente repor uma normalidade ou justiça extraliterária que me tem sido negada (e isto é, no mínimo, elegância).

   O facto é que tudo isto me deixa olimpicamente indiferente, considerando desistir (não seguir em frente, recusar, sabotando-o). Agarro-me a um último argumento: capa e "hors-texte". Mas, como fazê-lo sem me denunciar?

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Premonições



Porque nos silêncios deixaram de habitar os homens. São velhas histórias, antigos enredos, sabedorias que aprendemos a domesticar, que calamos e só suamos numa ejaculação aborrecida.

Julgue-se o criador pela selvagem inabilidade das (suas) criaturas. Expulsos ou fugitivos das florestas (variam as versões), demiurgos aprendizes, ficou-lhes o frio e a caça. Sobreviveram pássaros e árvores; poucos e salvos pela sua discrição. A grande magia (o maravilhoso que habitava os dias) converteu-se em quinquilharia. Os segredos, eis o que nos resta...

Se não me denunciar a sombra, talvez ainda consiga fazer a grande travessia. Basta-me a barca, bastam-me os cais vazios. Falta-me vento. Oxalá me sobre oceano.



                                          Teatro Oficina (SP - Brasil)  "Human Forest"

Domingo





Aqui para nós
que toda a gente nos ouve:
- Amo-te às segundas, quartas e sextas.,

Do resto não sobeja nada teu, vosso
Nem sequer nosso.

Amores semanais, de hora certa e combinação cardíaca
Dispensam explicações mas não bússolas nem mapas.
São muito pessoais estas topografias e talvez nunca tenha esquecido
O quanto sabes de segredos e tão pouco de mistérios.

                              ...e eu tão pouco sentado, quase nada aqui,
                              não fosse esta infantil nuvem nicótica,
                              e estes olhares e vozes ora duros ora nada
                              juraria ser hoje, terça, quinta ou sábado até.
                           

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Continua assim Rapaz (Jogos Florais ou o Poema Televisivo)



O Mais Perto que Estaremos da Morte


Rosnas, ratas e róis
Ou resistes?
Sustentas, suspiras, sucumbes
Ou só sorris só?

Vá lá...
Despes com os dedos, com os dentes
Ou és só pressa de estar dentro?
Agora (sim, agora) diz-nos alto ou calada:

Rendes-te, preferindo a lei à liberdade
Ou entregas-te à luz, como esta ao olhar?
Viras a cara, e escondes-te no discurso
Temendo a verdade pura do silêncio?

Molhas-te duro,
Entesas-te húmida,
Ou submetes o faminto desejo
Numa súplica afogada azul e cinza?

Suicidas-te com lentidão
E basto langor, em cada orgasmo?

Não proprietária de ti, sexuas,
Ou insistes em recordar?
De afiadíssima faca, cortas cordas,
Ou de assassina delicadeza, desatas nós?

Amargas ofegante,
Ou calas, olhando a parede,
Com uma teimosia tua
E um medo que querias universal?

Suas e sorves, lingúas
Mastigas, engoles sem cuspir?
Pedes quase a quase morte
Ou enganas-la com o desmaio?

Das respostas, ou melhor, do
Teu fazer,  ficaremos ou não
Na casa, nossa apropriada prisão,

Permitindo-nos acreditar num mundo
Que acabe por nos esquecer, numa amnésia
Onde não seremos nunca reclamados!

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Notre Besoin De Consolation Est Impossible à Rassasier







Je suis dépourvu de foi et ne puis donc être heureux, car un homme qui risque de craindre que sa vie ne soit une errance absurde vers une mort certaine ne peut être heureux. Je n’ai reçu en héritage ni dieu, ni point fixe sur la terre d’où je puisse attirer l’attention d’un dieu : on ne m’a pas non plus légué la fureur bien déguisée du sceptique, les ruses de Sioux du rationaliste ou la candeur ardente de l’athée. Je n’ose donc jeter la pierre ni à celle qui croit en des choses qui ne m’inspirent que le doute, ni à celui qui cultive son doute comme si celui-ci n’était pas, lui aussi, entouré de ténèbres. Cette pierre m’atteindrait moi-même car je suis bien certain d’une chose : le besoin de consolation que connaît l’être humain est impossible à rassasier.


En ce qui me concerne, je traque la consolation comme le chasseur traque le gibier. Partout où je crois l’apercevoir dans la forêt, je tire. Souvent je n’atteins que le vide mais, une fois de temps en temps, une proie tombe à mes pieds. Et, comme je sais que la consolation ne dure que le temps d’un souffle de vent dans la cime d’un arbre, je me dépêche de m’emparer de ma victime.

Qu’ai-je alors entre mes bras ?


Puisque je suis solitaire : une femme aimée ou un compagnon de voyage malheureux. Puisque je suis poète : un arc de mots que je ressens de la joie et de l’effroi à bander. Puisque je suis prisonnier : un aperçu soudain de la liberté. Puisque je suis menacé par la mort : un animal vivant et bien chaud, un cœur qui bat de façon sarcastique. Puisque je suis menacé par la mer : un récif de granit bien dur.


Mais il y a aussi des consolations qui viennent à moi sans y être conviées et qui remplissent ma chambre de chuchotements odieux : Je suis ton plaisir – aime-les tous ! Je suis ton talent – fais-en aussi mauvais usage que de toi-même !


Le fil du rasoir est bien étroit. Je vois ma vie menacée par deux périls : par les bouches avides de la gourmandise, de l’autre par l’amertume de l’avarice qui se nourrit d’elle-même. Mais je tiens à refuser de choisir entre l’orgie et l’ascèse, même si je dois pour cela subir le supplice du gril de mes désirs. Pour moi, il ne suffit pas de savoir que, puisque nous ne sommes pas libres de nos actes, tout est excusable. Ce que je cherche, ce n’est pas une excuse à ma vie mais exactement le contraire d’une excuse : le pardon. L’idée me vient finalement que toute consolation ne prenant pas en compte ma liberté est trompeuse, qu’elle n’est que l’image réfléchie de mon désespoir. En effet, lorsque mon désespoir me dit : Perds confiance, car chaque jour n’est qu’une trêve entre deux nuits, la fausse consolation me crie : Espère, car chaque nuit n’est qu’une trêve entre deux jours.


Mais l’humanité n’a que faire d’une consolation en forme de mot d’esprit : elle a besoin d’une consolation qui illumine. Et celui qui souhaite devenir mauvais, c’est-à-dire devenir un homme qui agisse comme si toutes les actions étaient défendables, doit au moins avoir la bonté de le remarquer lorsqu’il y parvient.


Personne ne peut énumérer tous les cas où la consolation est une nécessité. Personne ne sait quand tombera le crépuscule et la vie n’est pas un problème qui puisse être résolu en divisant la lumière par l’obscurité et les jours par les nuits, c’est un voyage imprévisible entre des lieux qui n’existent pas. Je peux, par exemple, marcher sur le rivage et ressentir tout à coup le défi effroyable que l’éternité lance à mon existence dans le mouvement perpétuel de la mer et dans la fuite perpétuelle du vent. Que devient alors le temps, si ce n’est une consolation pour le fait que rien de ce qui est humain ne dure – et quelle misérable consolation, qui n’enrichit que les Suisses !


Je peux rester assis devant un feu dans la pièce la moins exposée de toutes au danger et sentir soudain la mort me cerner. Elle se trouve dans le feu, dans tous les objets pointus qui m’entourent, dans le poids du toit et dans la masse des murs, elle se trouve dans l’eau, dans la neige, dans la chaleur et dans mon sang. Que devient alors le sentiment humain de sécurité si ce n’est une consolation pour le fait que la mort est ce qu’il y a de plus proche de la vie – et quelle misérable consolation, qui ne fait que nous rappeler ce qu’elle veut nous faire oublier !


Je peux remplir toutes mes pages blanches avec les plus belles combinaisons de mots que puisse imaginer mon cerveau. Etant donné que je cherche à m’assurer que ma vie n’est pas absurde et que je ne suis pas seul sur la terre, je rassemble tous ces mots en un livre et je l’offre au monde. En retour, celui-ci me donne la richesse, la gloire et le silence. Mais que puis-je bien faire de cet argent et quel plaisir puis-je prendre à contribuer au progrès de la littérature – je ne désire que ce que je n’aurai pas : confirmation de ce que mes mots ont touché le cœur du monde. Que devient alors mon talent si ce n’est une consolation pour le fait que je suis seul – mais quelle épouvantable consolation, qui me fait simplement ressentir ma solitude cinq fois plus fort !


Je peux voir la liberté incarnée dans un animal qui traverse rapidement une clairière et entendre une voix qui chuchote : Vis simplement, prends ce que tu désires et n’aie pas peur des lois ! Mais qu’est-ce que ce bon conseil si ce n’est une consolation pour le fait que la liberté n’existe pas – et quelle impitoyable consolation pour celui qui s’avise que l’être humain doit mettre des millions d’années à devenir un lézard !


Pour finir, je peux m’apercevoir que cette terre est une fosse commune dans laquelle le roi Salomon, Ophélie et Himmler reposent côte à côte. Je peux en conclure que le bourreau et la malheureuse jouissent de la même mort que le sage, et que la mort peut nous faire l’effet d’une consolation pour une vie manquée. Mais quelle atroce consolation pour celui qui voudrait voir dans la vie une consolation pour la mort !


Je ne possède pas de philosophie dans laquelle je puisse me mouvoir comme le poisson dans l’eau ou l’oiseau dans le ciel. Tout ce que je possède est un duel, et ce duel se livre à chaque minute de ma vie entre les fausses consolations, qui ne font qu’accroître mon impuissance et rendre plus profond mon désespoir, et les vraies, qui me mènent vers une libération temporaire. Je devrais peut-être dire : la vraie car, à la vérité, il n’existe pour moi qu’une seule consolation qui soit réelle, celle qui me dit que je suis un homme libre, un individu inviolable, un être souverain à l’intérieur de ses limites.


Mais la liberté commence par l’esclavage et la souveraineté par la dépendance. Le signe le plus certain de ma servitude est ma peur de vivre. Le signe définitif de ma liberté est le fait que ma peur laisse la place à la joie tranquille de l’indépendance. On dirait que j’ai besoin de la dépendance pour pouvoir finalement connaître la consolation d’être un homme libre, et c’est certainement vrai. A la lumière de mes actes, je m’aperçois que toute ma vie semble n’avoir eu pour but que de faire mon propre malheur. Ce qui devrait m’apporter la liberté m’apporte l’esclavage et les pierres en guise de pain.


Les autres hommes ont d’autres maîtres. En ce qui me concerne, mon talent me rend esclave au point de pas oser l’employer, de peur de l’avoir perdu. De plus, je suis tellement esclave de mon nom que j’ose à peine écrire une ligne, de peur de lui nuire. Et, lorsque la dépression arrive finalement, je suis aussi son esclave. Mon plus grand désir est de la retenir, mon plus grand plaisir est de sentir que tout ce que je valais résidait dans ce que je crois avoir perdu : la capacité de créer de la beauté à partir de mon désespoir, de mon dégoût et de mes faiblesses. Avec une joie amère, je désire voir mes maisons tomber en ruine et me voir moi-même enseveli sous la neige de l’oubli. Mais la dépression est une poupée russe et, dans la dernière poupée, se trouvent un couteau, une lame de rasoir, un poison, une eau profonde et un saut dans un grand trou. Je finis par devenir l’esclave de tous ces instruments de mort. Ils me suivent comme des chiens, à moins que le chien, ce ne soit moi. Et il me semble comprendre que le suicide est la seule preuve de la liberté humaine.


Mais, venant d’une direction que je ne soupçonne pas encore, voici que s’approche le miracle de la libération. Cela peut se produire sur le rivage, et la même éternité qui, tout à l’heure, suscitait mon effroi est maintenant le témoin de mon accession à la liberté. En quoi consiste donc ce miracle ? Tout simplement dans la découverte soudaine que personne, aucune puissance, aucun être humain, n’a le droit d’énoncer envers moi des exigences telles que mon désir de vivre vienne à s’étioler. Car si ce désir n’existe pas, qu’est-ce qui peut alors exister ?


Puisque je suis au bord de la mer, je peux apprendre de la mer. Personne n’a le droit d’exiger de la mer qu’elle porte tous les bateaux, ou du vent qu’il gonfle perpétuellement toutes les voiles. De même, personne n’a le droit d’exiger de moi que ma vie consiste à être prisonnier de certaines fonctions. Pour moi, ce n’est pas le devoir avant tout mais : la vie avant tout. Tout comme les autres hommes, je dois avoir droit à des moments où je puisse faire un pas de côté et sentir que je ne suis pas seulement une partie de cette masse que l’on appelle la population du globe, mais aussi une unité autonome.


Ce n’est qu’en un tel instant que je peux être libre vis-à-vis de tous les faits de la vie qui, auparavant, ont causé mon désespoir. Je peux reconnaître que la mer et le vent ne manqueront pas de me survivre et que l’éternité se soucie peu de moi. Mais qui me demande de me soucier de l’éternité ? Ma vie n’est courte que si je la place sur le billot du temps. Les possibilités de ma vie ne sont limitées que si je compte le nombre de mots ou le nombre de livres auxquels j’aurai le temps de donner le jour avant de mourir. Mais qui me demande de compter ? Le temps n’est pas l’étalon qui convient à la vie. Au fond, le temps est un instrument de mesure sans valeur car il n’atteint que les ouvrages avancés de ma vie.


Mais tout ce qui m’arrive d’important et tout ce qui donne à ma vie son merveilleux contenu : la rencontre avec un être aimé, une caresse sur la peau, une aide au moment critique, le spectacle du clair de lune, une promenade en mer à la voile, la joie que l’on donne à un enfant, le frisson devant la beauté, tout cela se déroule totalement en dehors du temps. Car peu importe que je rencontre la beauté l’espace d’une seconde ou l’espace de cent ans. Non seulement la félicité se situe en marge du temps mais elle nie toute relation entre celui-ci et la vie.


Je soulève donc de mes épaules le fardeau du temps et, par la même occasion, celui des performances que l’on exige de moi. Ma vie n’est pas quelque chose que l’on doive mesurer. Ni le saut du cabri ni le lever du soleil ne sont des performances. Une vie humaine n’est pas non plus une performance, mais quelque chose qui grandit et cherche à atteindre la perfection. Et ce qui est parfait n’accomplit pas de performance : ce qui est parfait œuvre en état de repos. Il est absurde de prétendre que la mer soit faite pour porter des armadas et des dauphins. Certes, elle le fait – mais en conservant sa liberté. Il est également absurde de prétendre que l’homme soit fait pour autre chose que pour vivre. Certes, il approvisionne des machines et il écrit des livres, mais il pourrait tout aussi bien faire autre chose. L’important est qu’il fasse ce qu’il fait en toute liberté et en pleine conscience de ce que, comme tout autre détail de la création, il est une fin en soi. Il repose en lui-même comme une pierre sur le sable.


Je peux même m’affranchir du pouvoir de la mort. Il est vrai que je ne peux me libérer de l’idée que la mort marche sur mes talons et encore moins nier sa réalité. Mais je peux réduire à néant la menace qu’elle constitue en me dispensant d’accrocher ma vie à des points d’appui aussi précaires que le temps et la gloire.


Par contre, il n’est pas en mon pouvoir de rester perpétuellement tourné vers la mer et de comparer sa liberté avec la mienne. Le moment arrivera où je devrai me retourner vers la terre et faire face aux organisateurs de l’oppression dont je suis victime. Ce que je serai alors contraint de reconnaître, c’est que l’homme a donné à sa vie des formes qui, au moins en apparence, sont plus fortes que lui. Même avec ma liberté toute récente je ne puis les briser, je ne puis que soupirer sous leur poids. Par contre, parmi les exigences qui pèsent sur l’homme, je peux voir lesquelles sont absurdes et lesquelles sont inéluctables. Selon moi, une sorte de liberté est perdue pour toujours ou pour longtemps. C’est la liberté qui vient de la capacité de posséder son propre élément. Le poisson possède le sien, de même que l’oiseau et que l’animal terrestre. Thoreau avait encore la forêt de Walden – mais où est maintenant la forêt où l’être humain puisse prouver qu’il est possible de vivre en liberté en dehors des formes figées de la société ?


Je suis obligé de répondre : nulle part. Si je veux vivre libre, il faut pour l’instant que je le fasse à l’intérieur de ces formes. Le monde est donc plus fort que moi. A son pouvoir je n’ai rien à opposer que moi-même – mais, d’un autre côté, c’est considérable. Car, tant que je ne me laisse pas écraser par le nombre, je suis moi aussi une puissance. Et mon pouvoir est redoutable tant que je puis opposer la force de mes mots à celle du monde, car celui qui construit des prisons s’exprime moins bien que celui qui bâtit la liberté. Mais ma puissance ne connaîtra plus de bornes le jour où je n’aurai plus que le silence pour défendre mon inviolabilité, car aucune hache ne peut avoir de prise sur le silence vivant.


Telle est ma seule consolation. Je sais que les rechutes dans le désespoir seront nombreuses et profondes, mais le souvenir du miracle de la libération me porte comme une aile vers un but qui me donne le vertige : une consolation qui soit plus qu’une consolation et plus grande qu’une philosophie, c’est-à-dire une raison de vivre.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013






It was early in the morning,
we were sitting on the stoop,
there wheeled away a starling
and I thought that I would too.
Oh for all I knew,
I was lost through and through,
in my high heels and my old dress
with my new keys in the wrong city.
I tie the knots to remember in my heart,
so I choke and I sputter to a stop,
I am a borrower and lender of the lot.
I walk away asleep
and chalk an outline round the scene.
This shadow play of whiskey talk,
a heavy denier dream.
Oh let it be, I was lost in him and me.
In my high heels and my old dress
with my new keys in the wrong city.
I tie the knots to remember in my heart,
so I choke and I sputter to a stop,
I am a borrower and lender of the lot.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Se não há destinos, o que há?

 Perguntam-me em final de mail e jeito corriqueiro: «Se não há destinos, o que há?»
                            John Gutmann  "The Artist Lives Dangerously" (1938)
O que há? Por oposição ou complemento a destinos? Não sei. Talvez acasos, momentos, verdades que o não s(er)ão sempre. Se até nós (em carne e no resto) somos organismos em mutação constante, perpétua, teimosa e continuada, porque é que a vida, essa verdade grande, haveria de posar, estática, só para tornar possível o nosso entendimento dela?
Podemos sequer esperar que se imobilize o mundo, e que o universo (esses sim, à nossa escala, infinitamente grandes) deixem de respirar, apenas para que nós (infinitamente pequenos) tentemos, por presunção e vaidade intelectual, encontrar respostas?
Por amor ao amor, ou para tentarmos vencer o medo e fazermos as pazes connosco e com a guerra com que incendiámos a noite? Para nos entregarmos imaculados de culpa, capazes de renascermos e, sorrindo, nos reinventarmos? Ou só para, exultantes deuses mínimos, discursarmos a morte ?
Não te sei responder. Quando morimbundar talvez sussurre uma improvável resposta . Se ainda te interessar, tenta olhar-me o olhar. Provavelmente, serás tu a responderes-me

sábado, 23 de novembro de 2013




I am the one
The shape of love to come
House never closed
Back door always unlocked

My love is sick and wrong
My love is lying
My love is a bruise in a black sky

One step away
Step away from total collapse
Alone behind the glass

My love is sick and wrong
My love is lying
My love is a bruise in a black sky
I'm picking up memories
I'm fucking with them
In front of your eyes I pretend

Turn your head, look away
Take one step back
One step back away from me
One step back into purple dreams
One step back into the light
I'm nothing but white noise

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

terça-feira, 19 de novembro de 2013

aos acasos



FODA-SE (Millor Fernandes)

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de FODA-SE que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito de FODA-SE!?  O “foda-se” aumenta minha auto-estima e me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas, me liberta. Não quer sair comigo? Então FODA-SE!  Vai querer decidir esta merda sozinho mesmo? Então FODA-SE! O direito ao FODA-SE deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nascem por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua línguaComo o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

PRA CARALHO” por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de quantidade do quePRA CARALHO”?, tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o Universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende? No gênero do “Pra Caralho", mas no caso, expressando a mais absoluta negação, esta o famosoNEM FODENDO”.

O “Não, nãonão!” e tampouco o nada eficaz e sem nenhuma credibilidadeNão, absolutamente não!” substituem o “NEM FODENDO” é  irretorquível, e liquida o assunto. Te liberta, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro para ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo o definitivo  “Filhinho, presta atenção,  “NEM FODENDO' .

O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o “PORRA NENHUMA” atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possam viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um “É PHD  PORRA NENHUMA”, ou ele redigiu aquele relatório sozinho PORRA NENHUMA!. O “PORRA NENHUMA” como vocês podem ver nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos “Aspone, Chepone, Repone”, e mais recentemente o “Prepone”, presidente de PORRA NENHUMA.

outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um “PUTA-QUE-PARIU”, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diante de uma  notícia irritante qualquer um “PUTA-QUE-O-PARIU!”, dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso “VAI TOMAR NO CU!”? E sua maravilhosa e reforçada derivação “VAI TOMAR NO OLHO DO SEU CU” ? Você imaginou o bem  que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta : Chega ! “VAI TOMAR NO OLHO DO SEU CU”.  Pronto, você retomou as rédeas de sua vida e sua auto-estima. Desabotoe a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios. Arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando-o parar: O que você fala?
FODEU DE VEZ!

Liberdade, igualdade, fraternidade e  FODA-SE.