terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Felicidades literárias


Acabo e começo o ano com dois extraordinários livros:



   ... extraordinários tanto em si, como na circunstância de se encontrarem em mim simultaneamente. Não vou chover no molhado (nem que fosse por ausência de tese própria ou ponto de vista original) da mofenta questão sobre a valia do conhecimento biográfico como auxiliar ou, pelo contrário, como atrapalhação opaca e poluente da obra de arte.
   Vai brevíssimo e provisório o post (e por isso revisável). Acima de tudo, embora com abordagens e intenções muitíssimo diferentes, ambos afloram a questão da (auto-) representação.
  O Graham Greene por variadas e díspares razões sempre foi escritor com lugar cativo nas prateleiras que fui tendo (e perdendo). Apesar disso (ou, se calhar, por isso mesmo), e tendo em conta o caudaloso volume da sua produção literária, o meu conhecimento da sua obra é pouco menos do que anárquico. Como pessoa sempre me pareceu reunir aquelas características que tornam certo tipo de ingleses absolutamente irresistíveis. A experiência bondesca, a típica forma british de conseguir falar contidamente do universo mais que emocional, existencial. O profissionalismo dos copos e o fenómeno exclusivamente britânico (ou anglicano) da importância dada às conversões religiosas (pense-se p.ex. no Evelyn Waugh, outro exemplo clássico),. Absolutamente sem paralelo neste nosso hemisfério papal.
   Abordo tangencialmente as cartas do Graham Greene: estamos a falar de alguém que, ao longo da vida escreveu cerca de 2.000 cartas por ano. Não, não é gralha... eu extenso: duas mil. Convenhamos que perante semelhante caudal, variedade de destinatários e assuntos, manter, tentar manter, criar, ou tentar criar imagem para a posteridade é completamente impensável.
   Por aqui me fico, com a certeza que se estes dois livros me vieram aliviar a testa, ainda me vão torrar o juizo e a cinza massa que me resta.