segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Pontes queimadas, impossíveis retiradas
Uma semana fora, um andar mais perto do céu, feridas cicatrizadas. Um optimismo ofensivo (sei ou calculo). Não querer pensar... só sabe pensar quem sabe e quer chegar a alguém ou a algum lado. Eu, mais modestamente, queria mesmo era partir. Os desencontros, sempre os desencontros... o paradoxo que nos mantém na estrada. Estrada, não caminho. O Campos é que sabia de estradas de curvas, ou talvez fosse ao contrário. Vai dar ao mesmo. Ou não?
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Acabaram as férias e os velórios ( M - Ú - S - I -C A ! )
Jumping up and down the floor,
My head is an animal.
And once there was an animal,
It had a son that mowed the lawn.
The son was an ok guy,
They had a pet dragonfly.
The dragonfly it ran away,
But it came back with a story to say.
Her dirty paws and furry coat,
She ran down the forest slope.
The forest of talking trees,
They used to sing about the birds and the bees.
The bees had declared a war,
The sky wasn't big enough for them all.
The birds, they got help from below,
From dirty paws and the creatures of snow.
And for a while things were cold,
They were scared down in their holes.
The forest that once was green
Was colored black by those killing machines.
But she and her furry friends
Took down the queen bee and her men.
And that's how the story goes,
The story of the beast with those four dirty paws.
domingo, 19 de outubro de 2014
O olhar e o nada
O pudor na linguagem facilitado por muitas madrugadas, por ainda mais «quases». Ainda não sabíamos (nem sequer sonhávamos) que o futuro é a matéria do sonho. Inocentes, antecipávamos despedidas... A verdade era obscenamente banal * : cada fronteira a prova (e o aviso que teimámos em não ouvir) de que o futuro nada tinha que ver com tempo, menos ainda com o mundo.
Há sempre quem vá. Há sempre quem quer que o o outro fique. Disso se alimenta a morte; quando a silhueta miúda se afasta subindo uma calçada (e sabemos ida sem despedida), quando somos apanhados pelo passado e, imóveis (de pedra e frio), vemos o outro internar-se no nevoeiro, entre as árvores, pisando as folhas mortas.
Tristeza? Só se adjectiva o que se sente (a verdade) por uma delicadeza comunicacional.
A beleza deste domingo não me chega solar, amena, pacífica. Apanhou-me numa esquina sob a forma de dois sorrisos (horizontais, horizontais...)
* - E eu, provável e crescentemente, anacrónico, sinto, a varrer ruas, a poluir discursos, a comandar comportamentos que o «banal» e o «obsceno» não só existem, como convivem.
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sábado, 18 de outubro de 2014
Sexo e tempestades
Ainda a lidar com o complexo (se completo) cerimonial a que a morte obriga os vivos, tenho andado a adiar os planos (pois é: já não sei quem põe e não me lembro de quem dispõe...). Tudo certo, solene, consumado.
Anunciam-se imprevisibilidades sem as quais não se navegam oceanos perigosos (e estive quase, quase a escrever "fatais"), onde à superfície as correntes são uma espécie de aviso. Náufragos, ao faltar-lhes sepultura, incorporam-se logo, logo no universo.
Christophe Charbonnel, "Persée V", (bronze)
Javier Marín (assim me visita Medusa)
Pecar à linha
Claro que compensa.
Com pinça, sem pressa nem pudor.
Com o verniz do alibi, indiferente à dor.
Calemo-nos. Ou, calados, esperemos.
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
Merecidos esquecimentos (pergunta se o pecado compensa...)
To a cat
Mirrors are not more wrapt in silences
nor the arriving dawn more secretive;
you, in the moonlight, are that panther figure
which we can only spy at from a distance.
By the mysterious functioning of some
divine decree, we seek you out in vain;
remoter than the Ganges or the sunset,
yours is the solitude, yours is the secret.
Your back allows the tentative caress
my hand extends. And you have condescended
since that forever, now oblivion,
to take love from a flattering human hand.
You live in other time, lord of your realm —
a world as closed and separate as dream.
nor the arriving dawn more secretive;
you, in the moonlight, are that panther figure
which we can only spy at from a distance.
By the mysterious functioning of some
divine decree, we seek you out in vain;
remoter than the Ganges or the sunset,
yours is the solitude, yours is the secret.
Your back allows the tentative caress
my hand extends. And you have condescended
since that forever, now oblivion,
to take love from a flattering human hand.
You live in other time, lord of your realm —
a world as closed and separate as dream.
Jorge Luis Borges (translated by Alastair Reid, 1977)
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Lavoisier longe de casa
Dizia com um ar desconsolado «Não gosto de mentir...». Ao que se seguia uma pausa (sempre, assim parecia, de duração cronometrada): «...sobretudo, detesto quem me faz mentir». Foi o ser humano mais solitário que conheci.
terça-feira, 14 de outubro de 2014
O Homem Novo
Gatti a découvert la Chine en 1955. Il en a rapporté des articles, un livre. Mais surtout le souvenir de deux rencontres. Mei Lan Fang, le prodigieux comédien de l’opéra de Pékin, dont il apprendra qu’un bâton peut devenir cheval, puis aussitôt rivière, qu’il suffit de soulever un pied pour faire exister un seuil (et ses mises en scène futures sauront mettre en œuvre la leçon). * Il y rencontre aussi Mao Tsé-toung — un poète à qui il demandera ce qu’est « l’homme nouveau » et qui, pour toute réponse, lui tendra un carnet aux pages blanches, en disant : « Signez ! » Manière de dire que « l’homme nouveau » sera ce que chacun voudra bien faire de lui-même.
* (...) Também conhece Mao Tse Tung - um poeta a quem perguntará o que é o «homem novo» e que como única e suficiente resposta, lhe estende um caderno em branco, dizendo-lhe: «Assine!» Forma de dizer que o «Homem Novo» será o que cada um fizer de si próprio.
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palavra plural,
utopias
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
Da impossibilidade do retorno (n) o século dos 150 anos, ou o inicio da "aceleração fatal do tempo"
Situações há (mais tarde serão chamadas de acontecimentos) em que um certo número de seres humanos se vêm testemunhas, actores (quase sempre involuntárias) de momentos que interrompem o que julgamos ser, numa doce e inocente percepção, normalidade. Como se entre passado, presente e futuro houvesse uma indestrutível continuidade. Subitamente, uma fenda, uma daquelas situações que após terem ocorrido, nos hão-de dizer serem não apenas "perfeitamente" entendíveis mas, até, mais que previsíveis, i-n-e-v-i-t-á-v-e-i-s. Sábios encartados, almas encantadas (sem intermediários) haviam de compor o mundo, e entregarem-se às modas, aos prazeres solitários. Os intelectuais e, provavelmente, os sexuais.
Ficaríamos nós, a aprender a viver aqui, a descobrirmos que o «aqui», vulgo mundo, quando sem governos e guerras (oh utopia antinacional, as mãos do homem são), não individual... chamemos-lhe comunal, somos «nós». Megalómanos (e como não o ser), sentimos que um corpo, um copo, um campo, uma nudez nua, apenas atenta a temperaturas e a desejos, não nos pode chegar, nem aconchegar, nem, muito menos, arrumar a tralha que vamos acumulando e nos vai cobrindo.
De que é feita esta carne? Ferrugem.
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
terça-feira, 7 de outubro de 2014
O que se sabe ou suspeita...
... sendo esse o pior tipo de conhecimento: o que se não procura, aquele que podendo se evita e, no entanto, se impõe. Aqui começam (as suspeitas)... parecem forçadas as circunstâncias. Parece que "alguém" nos quer dizer "qualquer coisa". Pudesse e seguia caminhos, mandava caralhar mistérios de trazer por casa ou fingir que se tem vida. Dedicava-me a alimentar saudáveis curiosidades, a gerir forças e a gorar arrepedimentos futuros. Tão certo virem, como as doenças.
Esforçadamente tem tentado este blog evitar, «private jokes», lavagem de roupa suja e pratica de opacidades que alguns consideram mera presunção, outros, exercícios de militante exibicionismo e, finalmente, alguns, (poucos mas suficientes) a entenderem terem sido as portas propositadamente construidas estreitas de forma a "baralhar pistas", construir outra realidade com a mesma matéria prima, numa tentativa derradeira e desesperada (até) de ilusionar a realidade.
Entendamo-nos, assumindo sem sonsices o conhecimento e a aprovação prévios das regras deste tipo de exercício ou jogo. Mas, esclareço eu, agora, perante distracções (na verdade "batotas") ser quase redundante o sentir-me na obrigação de relembrar não ser o «S&D&PS» nem um espaço de democracia editorial, bem como não haver nem interesse, obrigação ou desvirtuamento no facto de tratar o autor como "pessoa" e não como "personagem".
Aproveitando estas irritadas e impacientes chamadas de atenção sigo, cerce, para um «mea culpa» de que sou, sem dúvida devedor: o ter, eventualmente, usado este espaço para "comunicar" invisibilidades. Desconforta-me o facto e, acima de tudo, desvia-me de projectos que me são caros. No fundo "fait-divers" e não me está a apetecer aturar maus feitios (meus, principalmennte) pelo que dou a questão por encerrada. Até à cegueira, pelo que abdico de qualquer imagem.
A noite arrefeceu, deserta e dura. Provavelmente, os próximos tempos serão de solidão. Desafios exigindo clausuras. Claro que é um ser magoado que se olha ao espelho. Mas, valha-nos isso, sem pieguices, auto-comiserações. Dividirei culpas e, mesmo sem entusiasmos, sobreviverei. Não me fodam, ou fodam pouco (e já agora, bem)
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
Depois de uma (des) conversa
Os afectos juntos. O conjunto que formam, por um lado um individual dicionário, por outro, neste momento fico preso ao que sinto como mais do que exacto: entomologia
"Tout ce qui n'est pas littérature ou plaisir est temps perdu" ("Tudo o que não é literatura ou prazer é tempo perdido"). Henry de Montherlant
P.S. - Duas notas pessoais: onde se lê «literatura», leia-se, em nome da oxigenada abrangência, «arte». E o fascínio quase obcessivo com que o meu olhar se fixa na ambiguidade do nome do hotel (se, de facto, hotel fôr)
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Citações identitárias,
JM
domingo, 5 de outubro de 2014
Domingos onde cabe a vida...
... e nessa vida, o sabor de nós, ausências desmedidas. se festas, só malandragem... se tudo, nada.
assim estamos. sobreviva a esperança de que é só a vida a transitar, a descansar corpo, a retomar o que desleixámos. trouxe, contrabandeados dum sonho matéria para fabricar outro, com sorte, outros.
beijo-vos, pela primeira vez.
Peter Van Popel
Jacob Robert (the madcap is a distress)
sábado, 4 de outubro de 2014
Quereres... Vontades
Paul Klee, "Sealed woman",(1930). Watercolour, pen and ink on paper
Volta-me o sangue à alma. Vá, rigor: lentamente, agora que adormeci torno a sentir o sangue a regar-me a alma. Embora me deixe indiferente (evito a expressão «estados de alma») doía-me já a secura na boca, nos olhos, nas evocações que não somos capazes de evitar.
Embora o saiba (desde) sempre, assusta-me a morte insone. É ao que se arrisca quem vai ao aeroporto apanhar o comboio, quem se julgou dispensado da missa e desdenhou o baptismo. Neste poço fundo onde sonho o escuro não é ausência de luz mas sim uma parede viva de cimento e pedra. Quem mergulha na culpa, entope-se de pecado ou renascerá despessoado, finalmente entregue à liberdade?
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
O que calo e descubro, como morro e o que encubro
“BOO BOO BABY I'M A SPY”
I'm involved in a dangerous game,
Every other day I change my name,
The face is different but the body's the same,
Boo, boo, baby, I'm a spy!
You have heard of Mata Hari,
We did business cash and carry,
Poppa caught us and we had to marry,
Boo, boo, baby, I'm a spy!
Now, as a lad, I'm not so bad,
In fact, I'm a darn good lover,
But look my sweet, let's be discreet,
And do this under cover.
I'm so cocky I could swagger,
The things I know would make you stagger,
I'm ten percent cloak and ninety percent dagger,
Boo, boo, baby, I'm a spy!
(Instambul, anos 40)
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(re)começos,
JM
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
Queijos e Beijos
Podiam
(porra!) ser só gulodices, desabafos e ternuras. Levezas (mesmo que
em prosa amolgada e dorida). Saudades escritas, cicatrizes, orgulhosa
e infantilmente exibidas, sentimentos bem comportados e por aqui
ficávamos.
Mas,
dias assim nascem enevoados, acordam-nos para o vazio a que nos sabe
a vida que temos e desesperam-nos (ao espoliar-nos da pouca esperança
a que recorremos esperando que «as coisas passem», se componham e
que uma grande amnésia rate de nós aquilo que por um momento,
suspeitamos ou apercebemos não percebermos patavina. A forte
suspeita de atravessarmos os dias à deriva por entre mapas e
instrumentos de navegação, embora secos e seguros, abrigados de
sol, de sal, de tempestade, enfim imunes às incertezas mas prontos a
cedência (ou será desistência?). Que
nome dar, então, a esse grande vazio, a essa dôr canibal, pronta a
tudo devorar? Se sabes como calar gritos e vazios em que o meu peito
se acinzenta... onde as sombras, imensas e coladas às paredes não
são mais do que a própria evidência do inverossímil, então
ensina-me como me ensinaste o resto, de bisturí e olhar triste. Até
lá, atropelo palavras (sei-o eu e certamente o sentirás tu) como a
última forma única. A que me resta, e de que ainda sou capaz de me
lembrar.
(29.09.2014, 23h …)
Acordo,
como tantas vezes, nestes últimos, cada vez mais frequentes dias: a minha mão tacteando a tua ausência, palpando a
roupa fria, apurando o ouvido, demorando até me convencer que não
foste à casa de banho. Não estás...ou antes não estivesses e eu
não dormisse com esse cadáver cujo perfume sinto, cujo peito procuro
invariavelmente, em cujos cabelos gosto de me afogar, cujas costas
desço e coxas subo. Criou-se uma espécie de combinação e eu gosto
de adormecer dentro de ti.
Alguém escolhe(rá) por nós onde
acordaremos... no campo como gostas... contigo como gosto. Com cheiro a
pão e a café ,demorando o abrir os olhos, ouvindo-te na ponta dos
pés, adivinhando-te a abrir umas velhas e rangentas portadas de
madeira onde o sol entrará se sobre uma velha cómoda estiver,
despretensioso, um arranjo de pequenas flores selvagens, ou, numa
corrida sorridente envergando a tua nudez, sob lã ou flanelas. A fome num fotograma.
(30.09.2014, 05h ...)
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