domingo, 19 de outubro de 2014

O olhar e o nada




     O pudor na linguagem facilitado por muitas madrugadas, por ainda mais «quases». Ainda não sabíamos (nem sequer sonhávamos) que o futuro é a matéria do sonho. Inocentes, antecipávamos despedidas... A verdade era obscenamente banal * : cada fronteira a prova (e o aviso que teimámos em não ouvir) de que o futuro nada tinha que ver com tempo, menos ainda com o mundo.
     Há sempre quem vá. Há sempre quem quer que o o outro fique. Disso se alimenta a morte; quando a silhueta miúda se afasta subindo uma calçada (e sabemos ida sem despedida), quando somos apanhados pelo passado e, imóveis (de pedra e frio), vemos o outro internar-se no nevoeiro, entre as árvores, pisando as folhas mortas.
     Tristeza? Só se adjectiva o que se sente (a verdade) por uma delicadeza comunicacional.
     A beleza deste domingo não me chega solar, amena, pacífica. Apanhou-me numa esquina sob a forma de dois sorrisos (horizontais, horizontais...)

     *  -  E eu, provável e crescentemente, anacrónico, sinto, a varrer ruas, a poluir discursos, a comandar comportamentos que o «banal» e o «obsceno» não só existem, como convivem.