quinta-feira, 5 de junho de 2014

Konstantin Simonov, no Maio atrasado do fim de uma guerra maior






Espera por mim


Espera por mim, que eu voltarei,
Mas tens de esperar muito
Espera quando a chuva amarela
Trouxer a tristeza,
Espera quando a neve vier,
Espera quando fizer calor,
Espera quando os outros não esperarem,
Esquecidos do passado.
Espera, quando das terras distantes
Não chegarem cartas,
Espera, quando até a
queles
Que juntos esperam se cansarem.

Espera por mim, que eu voltarei,
Não perdoes àqueles
Que encontram palavras para dizer
Que é tempo de esquecer.
E se crêem, filho e mãe,
Que já não vivo,
Se os meus amigos, cansados de esperar,
Se sentarem à lareira
E beberem vinho amargo
Para me recordarem…
Espera. E com eles
Não te apresses a beber.

Espera por mim, que eu voltarei
A despeito da morte.
Quem não me esperou,
Que diga: ‘Teve sorte!’
Não compreendem os que não esperavam
Como no meio do fogo
A tua espera
Me salvou.
Como sobrevivi, saberemos
Apenas tu e eu, -
Foi porque me soubeste esperar
Como ninguém mais.

Tradução de Manuel de Seabra/ JM .