sexta-feira, 13 de junho de 2014

Floréal ou Prairial...





   Tão incompreensivelmente preso neste Maio, o último, o que maiusculo como forma de o fazer único. Um Maio de princípio de mundo emperrado, prenhe de vozes, de esforçadas atenções, de não se deixar esquecer. O tempo tomou conta de mim ou, finalmente, tomei consciência que assim  havia de ser para o mundo se tornar o local de acerto, sem as inquietações com que me ameaçam, sem as sombras que me inquietam nem as escuridões que, cegando-me, me assustam.

   Hoje, aquela hora que, embora com a exacta precisão de relojoaria dos céus e das suiças, não se deixa apanhar em mostrador ao pulso nem cruxificar à parede, aquela hora, dizia eu, que me conformei alegre a estar com um pé no mundo e o outro no outro mundo onde não são necessários pés, aquela hora onde por breves instantes capazes de encher caixões e corações, surge o que parece ir ser um azul (depois desinteressa-se das nossas sensaborias a que chamamos sensibilidades e segue caminho), e essa indefinivel cor faz-se acompanhar pela agitação voada, bicada, cantada ou piada de uma multidão (imagino eu, fechando os olhos com a força com que peço se faça derradeiro silêncio dentro da nave desta industrial catedral chamada corpo...). Mas isso são outras danças, outras camas, outros corpos...

   Sabia, ou fiquei a saber mais, que sabemos coisas: invisíveis, indemonstráveis, muito nossas (oh estúpido colectivo de individuais e insubstituiveis presenças). E assim, soube também, que entre a madrugada de ontem e a aurora de hoje partiu (para todos os efeitos «partiu»), uma ave, a que afectuosamente chamarei «pequeno pássaro» (assim a meias... eu pequeno, ele pássaro).

   Apenas uma tristeza funda me fez abrir a janela... procurando nada. Faltando-me o ar, precisando de gritar...? Quando levantei os olhos já foi o céu da cidade, da vida que correu mal, do amor afogado... (podem chamar-lhe das desilusões) que vi. Ele riu-se ou foi só um raio de uma lágrima que largou insecto dum olho que cada vez olha menos e vê mais? Nem interessa...

   Ai este mês de Maio... já Junho cavalga desabrido («oxalá te fodas»)