segunda-feira, 23 de junho de 2014

Alice nunca por aqui passou (intróito rascunhado)





Nada te darei do que esperas...
Como dar-te se já não sou?
...se deixei de ser, sem medo nem saudade?
Espalhou-me o vento, inseminando-me
como grão de poeira e carne esquecida.

A paz veio sob a forma de esquecimento,
a prometida tempestade afinal um manso mar
de cansadas ondas, apenas leito das mentiras tantas
e tão lentas, a fazer as vezes das estrelas que não há,
acumuladas como quase tudo nesse mundo
onde se entra imaculado e se sai magoado.
Por pequenos nojos, breves agonias
microscópicas almas intactas na sua pequenez bibelótica.

Essa casa de que fujo é o retrato de corpos
a custo, silenciados. Uma pequena casa de minúsculos seres
mas donatários do mundo que há, sem dunas nem sonhos.
Que não se indigeste nem despreze, esse monumento afinal
a tão colossal e persistente esforço. A inumana
labuta que apenas capricho (que os há) interromperá

Fogo ou filhos, mil rancores ou maquilhagens
Apenas tornarão mais evidentes e arriscados
o vazio e a urgência com que calarei a mais preciosa palavra
por medo de a ver roubada do meu mundo sonhado
Nesse altar de gente e coisas que compõem  
formigueiramente, um mundo adiado e odiado