Cosmic Mind (De philosophia naturali)
O que te digo, assim, alto, é uma forma de também a e em mim, relembrar a aprendizagem que foi, sobretudo, a confirmação de um saber que, não me pertencendo (aliás, nunca me pertenceu), não resulta de espécie alguma de mérito. Já chegamos à estação da vida demasiado carregados de bagagem, memórias, esperanças ...e ainda há quem leve farnel, ou ave de estimação, imagina).
Este caminho que deixo assim, inominado, é a espécie de homenagem à utopia libertária, persistente (porque abomino a palavra heróica e, me parece de direito evitar vocábulos do meu desagrado) até agora resistente aos antibióticos com que a tentamos domesticar, criando uma espécie de «quadro clínico reservado, mas estável», uma espécie de coma induzido, uma existência vegetal ou, mais rigorosamente «semi» e « vegetativa» onde, a não haver crime não há «arma fumegante».
Passamos então uma parte da vida que nos calha, a, por assim dizer, gerir a bagagem, (aos sortudos, segundo leio e oiço falar (embora, atavicamente rural e, portanto, céptico impenitente, me cheira a exagero urbano, a estúrdia académica ou a gozo de barzabum ) calha-lhes carga, que, como se não bastasse ser rara e preciosa, pouco pesa, (ou seja, pouco mais que nada), inspirando cuidados nulos, permitindo assim, atravessar a vida como se esta fosse uma paisagem suiça de amores felizes, piqueniques requintados, generosidades e até, imagine-se, um tu cá, tu lá com o valor em moda, de Deus à Arte, e deixemos a política a cargo dos indignados, que no auge da sua indignação elegem o silêncio como suprema e infalível arte de exportar a indignação disfarçada de emigração) começando por tentar esquecer, por libertar espaço na mala, para, numa urgência (que mais parece propósito) o voltarmos a encher com objectos (não esquecer a respectiva e, igualmente, significante arrumação) de forma que numa infindável prática, em constante aperfeiçoamento, nos pareça ir sendo retrato fiel e actualizado, de quem vamos sendo, de tal forma que, por exemplo, ao passarmos fronteiras (e são tantas), o conteúdo se assemelhe tanto a nós que, de certa forma seja o nosso «alter ego», o nosso passaporte... feito (ou existente) à medida exacta das etapas que a nossa viagem exija.
Digo-te a ti, em parte para me ouvir e convencer de que, com garras essanguentadas, aguentando luas ,marés e intempéries várias, se nos amexilhoarmos à rocha de mãos esfaceladas e carne resiliente, já anestesiados da dôr por via de nos termos tornado a própria dôr, onde sejamos apenas e todos, o primitivo instinto de resistir (e a escolha do mexilhão não foi inocente, porque ambos sabemos o que lhe acontece quando o mar bate na rocha...) aparecerão,por fim, melhores ou mais iodados dias e, por extensão melhores nós, ou mais crédulos e fortes e havemos de nos reencontrar prontos para mais «uma», esquecidos de desesperos, já indiferentes ao arrastar do tempo e ao nosso nele, perdidos em noites de ecos e nevoeiros, e de passeios bordejanjo penhascos ventosos e traiçoeiros.
Sabes... deixei passar um pouco, para evitar falar logo connosco. Contigo, falo sempre connosco...
Não leves migalhas, embrenha-te fundo da floresta das sombras e finge acreditar que o que ouves são mesmo pássaros.