sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

... e por falar nisso



RECANTO 11
O verão deu-nos uma volta aos olhos.

Voltou-se ao mais princípio dos princípios
a Ilo um ovo perdido num campo de pérolas
chamou-se por uma mulher (Ila, irmã, ovário)
para recuperar o sexo

mas o que nos apareceu foi a clareira como víramos
num filme e na televisão a luz feita
espaço de calor aquela incandescência aberta
no juízo

que nos falava de um ser inexistente
de um ex-ser duplo
povoador de momentos agudos
de afiadas linhas da mão,

brancas gotas de amante à despedida
heróica incandescência metida
em supositório
pela artéria aorta.


 As casas vieram de noite

As casas vieram de noite
De manhã são casas
À noite estendem os braços para o alto
fumegam vão partir

Fecham os olhos
percorrem grandes distâncias
como nuvens ou navios

As casas fluem de noite
sob a maré dos rios

São altamente mais dóceis
que as crianças
Dentro do estuque se fecham
pensativas

Tentam falar bem claro
no silêncio
com sua voz de telhas inclinadas

 Luisa Neto Jorge