quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Indisponibilidade para amar


   Hoje que choveu e choveu até nos dar a cegueira da cidade apagada, só senti uma chuva mansa, uma espécie de incomunicante chuva chorada. Daí veio o título e o Vinicius há tanto não evocado. A palavra Amor é a ilustração perfeita do quanto contaminamos a linguagem (talvez num vã tentativa de nos apropriarmos dela) e a prova definitiva da natureza felina das palavras. Entre o seu misterioso caminhar, o segredo calado e a sua superioridade de quem muito sonha e a ninguém presta contas, são as palavras dóceis quando querem... o resto do tempo deixam-se afagar sem grandes confianças e a menor dúvida de quem é o dono da casa. E a casa do gato é o mundo todo onde muito, à nossa medida, acontece. Até a tristeza.


Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

Vinicius de Moraes