segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
Pois... pós-moderno
Avinhados, azedos, impacientes e descuidados na aparência, sem engates (carnais ou intelectuais) à vista, vão-se-nos revelando, enfim, as naturezas. Talvez com um pouco de, aliás mui devidas, justiça e paciência, coubéssemos todos, bem arrumados (como numa fotografia antiga, encenada). Imortalizados ou desafiando (só) a eternidade?
Porque nesses ainda que remotos talvezismos talvez registasse circunstâncias e atenuantes mas, como aos outros, também a mim me vão pesando as carnes (a consciência essa, é um misterioso passarinho que volta e meia, ou não resiste a mágicos e imperativos chamamentos ou, então, aninha-se e não se dá por ele). Assim, acendo as luzes, esconjuro o que até agora tenho calado e... falo!
Conversas, tantas conversas... De cortar fôlego, cegar seduções, de adiar nudezes ou matar desejos. Será que nos testa culpas e, em quase desespero, nos tenta fazer procurar absolvições, uma vez que os perdões, esses, estão pela hora da morte, muito para além das nossas diopterias em falta. Quando foi que deixei de me ouvir? E às ventanias? Fúrias várias, onde começámos e onde, agora, tão irremediavelmente perdidos estamos, que já nem opinião temos sobre o assunto. Tornámos a nossa vida um não-assunto... há sempre horas, momentos de sorte: sosseguemos na certeza de que a nossa foto sairá inevitavelmente, em revista rosa ou na bicromia mais modesta duma secção necrológica.
Mas, infelizmente, a vida não são só alegrias. Lá para trás, mas não esquecida, uma constatação inquietante, uma pergunta escarrapachada nesta espécie de papel, assumidamente interrogante, obriga-me a exposição incómoda e, talvez, deslocada; aqui, nesta espécie de texto:
« Quando foi que abriste as coxas? E porquê assim, daquela forma assassina? E, é ou não verdade evidente, que os teus olhos me dispararam, acusadores, que o que me davam, ou devolviam, era (já) meu? ». Como se alguma vez me tivesses conhecido de engates ou conquistas...
É muito feio matar um morto. Enfim, um quase-morto... os meus dedos sabem a sal, a sal de língua.