sábado, 2 de novembro de 2013

Já posso (voltar a) ser eu?





   Não permite este modelo em que preguiçosamente insisto a postagem de subtítulos, senão impor-se-ia, num movimento ascensional, a certeza de que um loner não é um looser *.
   Era sobre isso que me apetecia escrever e é isso que me proíbo de pensar. Talvez a liberdade de cada um só possa ser avaliada (enunciada, identificada e, utopicamente, perseguida) tendo em conta os silêncios. Os nossos silêncios.
    O silêncio burguês, mesquinho e medroso. A voz que abafamos, com a mesma eficiência com que desviamos o olhar e lembramos contas e esquecemos carnes e verdades.
    E o outro, o silêncio vizinho da heroicidade à escala humana. O que calamos por respeito aos afectos ou a valores que nos transcendem. Talvez sejam a única, ainda que remota, forma de nos salvarmos ou redimirmos. Não sei se a existência se justifica. Eu faço de conta que sim. Por isso insisto, ou condeno-me, em caminhar no abismo da parábola, (do mau ou, prefiro eu, duvidoso gosto) e não vejo destrato ou hostilidade que me façam arrepiar caminho.
    A perigosa aproximação do desabafo faz-me voltar ao Hopper.
    Deixam-me absolutamente indiferente as sombras do título... em contrapartida o olhar não consegue descolar-se da figura humana. Dirige-se para algum lado ou, pelo contrário, vai-se embora (foge)? O próprio perfeccionismo técnico do pintor alimenta a dúvida (fig.1).

A sombra do poste do candeeiro (fig.2) funciona como fronteira do interdito ou do

irremediável, e do que parece uma porta (fig.3)  nem vem salvação nem perigo.

  
Um mundo sem morte é um mundo (já) morto ou, melhor, a pátria da morte.

* - A terminologia USA nada tem que ver com o Hopper que sobre o texto paira...