As Mãos Limpas de Sangue
Se por um instante partir ou adormecer
Ou a madrugada me surpreender
Numa cama fria, num quarto desconhecido
Tanto faz...
Se p'la primeira vez olhar
As minhas mãos limpas de sangue
Não de substância mas de matéria
Chamar-lhe-ei Amor, cidade.
Vergado e vencido, orgulhosamente
derrotado
Correrei inútil ao espelho e, sei-o
hoje,
O meu olhar branco encontrará
Nem sequer vestígios de ti.
Sem um som, um pulso ou sequer uma
sombra...
Com as mão limpas de sangue
Nada terei e hei-de sabê-lo.
Por isso as não levarei ao peito.
Se sobreviverem à memória
Hei-de encostá-las ao vidro
Retribuindo uma despedida que não
houve
Ah, inúteis mãos limpas de sangue
Sujas de tudo o resto. E a tua voz:
Resta-nos nada. Sobra-nos tudo.
Um copo baço , bebido... um corpo
inútil
Um corpo a mais, a promessa que te fiz!