domingo, 13 de janeiro de 2013
Lavra. Angeiras. Iodo e vento
Lavra. Angeiras. Iodo e vento. Afirmação de um outro mundo. Esperança.
Noite já depois de Leça da Palmeira e "su" cenário (pseudo) primeiromundista, muito lounge, gente dita, achada e sentida bonita, etecetra e nhanhanha... Nós a inventarmo-nos ou apenas a fingirmos que o céu tinha descido à terra (ou então num ascensor a foguetearmos rumo ao charme mudo de uma beleza absoluta... do hoje ou, até, do agora). Beleza assim só pode ser beleza cemitérica.
Valham-nos então deus e os não compromissos para funerariamente bordejarmos um mar proleta e uma costa mal iluminada que nos acolhe e aceita mal-amanhados, orfãos ou filhos de ninguém mas (re)conciliados. O que antes era só palavreado (bruabá verbal), toma agora conta de nós e acolhe-nos; assim sim : iodo (a encher-nos o peito até à dor) e vento de mar (frio, mamilando-nos e encolhendo-nos mas, ao mesmo tempo e carinho, acordando-nos). O conforto encontramo-lo num cenário improvável, em forma de ameijoas, vinho tinto adulto, azeitonas temperadas e um bacalhau que nem vos conto. Ah, e calor humano...
O tempo suspenso e o mundo esquecido. Um cigarro fumado no areal pejado de barcos da faina que afinal ainda há, e dum mar, teimoso, a falar connosco.
No regresso ao conforto, (pensou ele) , uma sereia, uma mulher menina. Chamou-se a si «Ana». Cabelo-alga, corpo carne-carne, fria e quente, elegância da terra nascida do mar. E vinda com a brancura das ondas do oceano e da noite: mulher minha se pudesse (ele) ou quisesse (ela). Aparições assim são perdições... e falaram devagar, com o conforto adulto dos olhares que não se evitam (voz de sereia com o som do mar ao fundo, finalmente entendível, a chamar por eles). O que é que disse? Segredo deles! E meu que neles estava.
Lavra. Angeiras. Iodo e vento. Promessa de um outro mundo.