terça-feira, 10 de abril de 2012
Dum velho calhamaço
POESIA—É  como cada um a sente e entende. Para uns resume-se n'um bom pichel de  vinho novo, diante de um lombo assado; para outros é a lua  reflectindo-se nas aguas serenas dos lagos; para a mãe, o riso do  filhinho no berço; para o pae, o não ouvir chorar a creança quando quer  trabalhar; para o soldado, não ter de ir á guerra; para o empregado, um  feriado; para a donzella, um noivo; para o agiota, noventa e nove por  cento; para o ministro, a pasta indisputada e os applausos da maioria;  para o marinheiro, o bom vento; para o medico, um caso de doença bem  horrivel e bem desconhecida; para o fumador, optimos charutos; para o  viajante, mundos desconhecidos; para a mulher, um vestido como não tenha  nenhuma das suas amigas; para o marido, uma familia que não lhe peça  dinheiro; para o janota, objectos que pôr no prego e botequim que fie cognac;  para as actrizes, palmas e admiradores ricos; para os escrevinhadores,  quem lisonjeie as suas inepcias e semsaborias; para os maus auctores,  quem lhes louve a estupidez e a ignorancia; para os emprezarios,  auctores famintos; para os inuteis, um fato bem feito... para mim a  poesia é o silencio, a solidão e o somno.
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afinidades,
almas aparentadas
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