domingo, 15 de abril de 2012

Longuinqua Memória Futura (I)


Resta-nos andar, correr e esquecer.
Tudo em excesso e dessa desmesura depender.
Talvez o desespero apague as imagens, e essa falta de ar
No nosso peito nos faça renascer.

Fugi de casa, da escola, da tropa e até,talvez, de mim.
Todas fugas em frente. Por isso me imunizei aos discursos,
às palestras, às lições e mergulhei numa ignorância muito esclarecida.

Não me consegui construir, nem no abandono, nem no silêncio.
De menino velho, queimando etapas, cheguei a homem
Quixotescamente quero chegar a velho pequenino.

Num, só meu, humor africano: primeiro bebi leite, depois chá, agora vinho...
Carregando uma ancestral fome, e uma insaciável sede
Venero antepassados e neles o nada, cuidadosamente numa arca  dobrado
Juntamente com a loucura, a incerteza e, imagino, o sonho.

Não sei se nos granitos e na bruteza cabiam amor ou, sequer, afagos
Mas olhares e afectos concerteza, nem que tivessem sido só na velhice
Na hora da morte, da paz ou do medo. Também essa sombra me acompanha,

A da carne a acontecer, suada, humilérrrima ou exigente
Uma solidão do meio de toda a gente, aquele ter que ser.
Honra vos seja: pobreza que não miséria e visceral horror da servil escravidão!

Se nome havia a honrar, dir-mo-eis mais tarde, num prolongado abraço, ou então
Talvez, num virar de costas, num renegar de nós, comunidade maldita.
Dar-me-eis, isso é certo, enxada e canivete e toda a sabedoria
Da terra à qual voltaremos. E acabo repetindo-me: fui o que fui capaz.

Fui enrugado menino, hei-de morto ser. Nunca RAPAZ!

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