Como é que se pode sentir saudades de uma pessoa que se não conhece? Et pourtant, on peut.
Como é que pode sentir falta de uma voz cantada que nunca se ouviu? Et pourtant, on peut.
Como no grão de areia, dentro de nós está um mundo, infinitamente o mesmo a que chamamos mundo, com regras e medidas outras. Escrito assim não passa de um paradoxo. Sentido, sentido mesmo e de forma total, é a verdade. Inalcansável às palavras como um discurso tridimensional.
Como é que podemos carregar em fragilíssimos corpos, vestígios e memórias dos deuses que fomos? Et pourtant, on peut.
Como é que podemos sonhar livres com uma liberdade tão maior que nós e, pontualmente, voltarmos, como pássaros bem comportados (ou tão somente domesticados), para a gaiola quotidiana, mesquinha, cinzenta ou pior? Et pourtant, on peut.
Talvez porque, como as crianças quando aprendem a andar, estejamos condenados a cair e reerguer-nos doridos e teimosos. Porque a morte, se há-de vir para, amorosamente, nos pegar na mão, ou, raivosamente, nos arrastar pelos cabelos, ainda assim, não deixa de nos visitar todos os dias. Nesse invisível namoro usa torpezas e desânimos vários, cansaços e outras coisas do pequeníssimo calibre da mentira e da batota. Por isso resta-nos a resistência, a recusa da contaminação e, mais que tudo, o cultivo militante e diligente do aperfeiçoado crescimento de um “eu” de forma a que, quando formos grandes, possamos ser um “nós”.
Como é podemos transportar nas veias dores e memórias (quase) insuportáveis e, mesmo assim, não querermos morrer? Et pourtant, on peut.
Têm sorte quem pode usar a palavra “love”. Sábios homens que aí se detiveram, sem entrarem em detalhes de “gostar” e “amar”.
Têm sorte quem pode usar a palavra “être”. Sábios homens que aí se detiveram, sem entrarem em detalhes de “ser” e “estar”.
obrigado dottorina. mais do que os "sorrisos generosos", todo o parágrafo estava, de tão redundante, uma merda. grazie mille
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