domingo, 10 de junho de 2012
sábado, 2 de junho de 2012
sábado, 26 de maio de 2012
Sereia disse o homem no barco. E o mar
foi só silêncio
Sereia pensou e foi nada ou mansa demência.
O que são ondas, o que são fonduras,
onde vive o fim se casa tem
Porque se enche assim o meu peito de
praias que não vejo?
Sob o sol, e sobre as ondas apenas
navegam miragens
Fomes, sedes, securas líquidas
Sereia do silêncio deixa-me ser e
serei...
Apenas ser não pensante ou náufrago
embarcado
Sereia, por nós rasgo mapas, abandono rumos,
arreio velas
Desinteresso-me de ventos e evito
portos
Quase morto, recém nascido olho os
azuis olhos do mar
Sereia, anémona, raia, pelágico ou
mãe nas funduras...
Não me leves já, não me abraces ainda, nem
embales
Frio já tenho, frio já estou sereia
Sereno como um recém parido ainda por inventar.
Branco como a neve e como a espuma, perdidamente branco como esta
folha.
Labels:
diarística
domingo, 13 de maio de 2012
"the saddest heart in the post-war supermarket"
They fuck you up, your mum and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.
But they were fucked up in their turn
By fools in old-style hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another’s throats.
Man hands on misery to man,
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don’t have any kids yourself.
Philip Larkin
Labels:
poemas
Exercício Musical
Cada um mui agasalhado na sua vida
cada qual deveras encasacado no seu
retrato
e todos definitivamente assertoados nas
suas certezas.
Poderia
começar assim uma reflexão, um vou-ali-e-já-venho, uma
recriminação leve ou
sibilina. Em
todos os casos, desabafo ligeiro e pouco mais do que declaração de
voto. Mas, não
é disso que se
trata... O medo tem muitas caras e nós cara só uma. Assim como o
mar e as ondas talvez
quando “sou”
“somos”. Portanto ou caímos todos ou não tomba ninguém
Sonhei com uma casa e soube que apenas
ali poderia morar
Sonhei com uma mulher e de saber soube
que a podia amar
Como uma praia, um lago ou uma
lembrança para, enfim, descansar.
Quando se
contam sonhos mostram-se miudezas, intimidades, fraquezas.
Só essa atracção pelo
abismo,
digamos que
suicidária, poderá estar à altura ou fazer as vezes de
necessidade. Aos mortos resta a voz, por
isso se socorrem
da palavra. E nós, que nos julgamos vivos?
Quanto mais te vestes mais nú ficas,
esquecido das inclemências
do tempo, e ao mesmo tempo,
definitivamente, prisioneiro do tempo.
Frio é o que suportarmos, tudo o resto
é a eternidade dos adiados.
Grossas
grades, grandes silêncios. Distrações e adiamentos. Por temor ao
peso, baixamos o olhar até
cegar, deixamos
de rir, evitamos chorar. Liquefazemo-nos numa saudade que nos
aterroriza, apartamo-nos
zangados,
dizendo que com a vida mas, no fundo, sabendo que connosco próprios.
Expectantes mas esquecidos. Traídos e
traidores.
Corpo, imagem e sombra em contínua
fuga. Sorventes de um ar que não há.
Restam-nos as frases curtas, as
digestões rápidas e a vertigem do esquecimento.
Ascenção,
queda e redenção. Redime-nos a carne do corpo hospitaleiro que se
entreabre para nos
receber e onde
entramos como quem regressa. Esse corpo encimado por um olhar,
lava-nos com cheiros e
humidades,
afaga-nos com sabores, adivinha-se em mistérios e calores. Aí sim,
o mundo isenta-se de
retóricas,
ausentando-se de explicações.
Certezas de pau como muletas, amparos,
encostos, batotas...
Infiéis aos nossos mortos, descrentes
de tudo e de nós
Já não carne e alma, mas tão somente
próteses de retalho.
Diz-nos
mutilado: que te falta? Perna ou propósito? Mão ou inteireza?
Memória ou tu mesmo e todo?
Consola-te se
dissermos: pele? Ou, pela manhã, pássaros? Pequenas coisas
parecem-nos a nós as estrelas e
os mistérios
que nos devemos. Por isso, apenas te podemos devolver à tua
voluntária solidão.
Mais do que perdidos, esquecidos da
nossa perda.
Sem sermos gente nem ainda animais
somos provisoriamente coisas
Numa montra miserável da cidade sem
espelhos.
Culpados
todos, calemos a culpa. Como no lento e inexorável avanço dum
exército napoleónico, há
quem
carregue o canhão, outro as batatas e outro, ainda, as botas do
imperador.
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nocturnas
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