sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
Um sorriso, enfim
Estas tempestades tropicais que me habitam e às quais dificilmente me habituo, dão-me instantes, dias assim. Um sorriso na testa, um calor no peito, uma elegância nos movimentos mas, sobretudo, uma paz feita bonomia, afecto, quase ou verdadeiro amor.
Continuam intocáveis e intocados a coexistência e a simultaneidade com que invisíveis fios me ligam ao espaço e ao tempo que me rodeiam, e a harmonia em que neles me diluo, numa certeza de invisibilidade, de silêncio, de pazes feitas. Amém
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
(Inesperado) convite para edição livresca
"Parece que vai sair livro". À minha fome de jaquinzinhos acenam-me com guluseimas açucaradas. Prometem-mo, pedem-mo, chegados a mim por improváveis caminhos e circunstâncias difíceis de acreditar. À monteiro... Não é pelo condicional, pela improbabilidade, ou por banho de gato. Agrava a tentação, claro, (e eu sei-o demasiado bem), a possibilidade de vingativamente repor uma normalidade ou justiça extraliterária que me tem sido negada (e isto é, no mínimo, elegância).
O facto é que tudo isto me deixa olimpicamente indiferente, considerando desistir (não seguir em frente, recusar, sabotando-o). Agarro-me a um último argumento: capa e "hors-texte". Mas, como fazê-lo sem me denunciar?
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Premonições
Porque nos silêncios deixaram de habitar os homens. São velhas histórias, antigos enredos, sabedorias que aprendemos a domesticar, que calamos e só suamos numa ejaculação aborrecida.
Julgue-se o criador pela selvagem inabilidade das (suas) criaturas. Expulsos ou fugitivos das florestas (variam as versões), demiurgos aprendizes, ficou-lhes o frio e a caça. Sobreviveram pássaros e árvores; poucos e salvos pela sua discrição. A grande magia (o maravilhoso que habitava os dias) converteu-se em quinquilharia. Os segredos, eis o que nos resta...
Se não me denunciar a sombra, talvez ainda consiga fazer a grande travessia. Basta-me a barca, bastam-me os cais vazios. Falta-me vento. Oxalá me sobre oceano.
Teatro Oficina (SP - Brasil) "Human Forest"
Domingo
Aqui para nós
que toda a gente nos ouve:
- Amo-te às segundas, quartas e
sextas.,
Do resto não sobeja nada teu, vosso
Nem sequer nosso.
Amores semanais, de hora certa e
combinação cardíaca
Dispensam explicações mas não
bússolas nem mapas.
São muito pessoais estas topografias e talvez
nunca tenha esquecido
O quanto sabes de segredos e tão pouco
de mistérios.
...e eu tão pouco sentado, quase nada aqui,
não fosse esta infantil nuvem nicótica,
e estes olhares e vozes ora duros ora nada
juraria ser hoje, terça, quinta ou sábado até.
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Continua assim Rapaz (Jogos Florais ou o Poema Televisivo)
O Mais Perto que Estaremos da Morte
Rosnas, ratas e róis
Ou resistes?
Sustentas, suspiras, sucumbes
Ou só sorris só?
Vá lá...
Despes com os dedos, com os dentes
Ou és só pressa de estar dentro?
Agora (sim, agora) diz-nos alto ou calada:
Rendes-te, preferindo a lei à liberdade
Ou entregas-te à luz, como esta ao olhar?
Viras a cara, e escondes-te no discurso
Temendo a verdade pura do silêncio?
Molhas-te duro,
Entesas-te húmida,
Ou submetes o faminto desejo
Numa súplica afogada azul e cinza?
Suicidas-te com lentidão
E basto langor, em cada orgasmo?
Não proprietária de ti, sexuas,
Ou insistes em recordar?
De afiadíssima faca, cortas cordas,
Ou de assassina delicadeza, desatas nós?
Amargas ofegante,
Ou calas, olhando a parede,
Com uma teimosia tua
E um medo que querias universal?
Suas e sorves, lingúas
Mastigas, engoles sem cuspir?
Pedes quase a quase morte
Ou enganas-la com o desmaio?
Das respostas, ou melhor, do
Teu fazer, ficaremos ou não
Na casa, nossa apropriada prisão,
Permitindo-nos acreditar num mundo
Que acabe por nos esquecer, numa amnésia
Onde não seremos nunca reclamados!
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