Santiago Caruso - "Gabinete de Curiosidades"
Os avançantes cinquentas de Pratt. No sublimatório Maltese apenas (e muito remotamente) se reconhecerá algo de semelhante em "As Helvéticas". Digo eu, provavelmente rasando, ou arriscando, o disparate.
"(...)E perdi-me numa infinidade de intrigas *, enquanto a velhice - eu preferiria a palavra "velhotice" - se abeirava suavemente. Sentia uma certa preguiça do corpo, conservando uma imaginação muito jovem, um cérebro muito perspicaz. Então, fui pouco a pouco deixando-me envolver por um mundo de recordações, um mundo onírico, um mundo feérico. E esse mundo, que os intelectuais empenhados dessa época me censuraram como sendo irreal, tornou-se para mim cada vez mais concreto: eis em que consiste o meu materialismo histórico. Durante esse período, progressivamente, fui-me separando do que se chama a realidade e a minha vida tornou-se a da imaginação, da fantasia, do fantástico."
* - parece-me "liberdade" de tradução.
Hugo Pratt, in "O Desejo de Ser Inútil - memórias e reflexões", pág. 161 (Relógio d'Água, 2005)