terça-feira, 9 de abril de 2013

Tolo Medo






Qualquer amor já é
um pouquinho de saúde
um montão de claridade
contribuição
pra cura dos problemas da cidade

Qualquer amor que vem
desse vagabundo e bobo
coração atrapalhado
procurando o endereço
de outro coração fechado

Amor é pra quem ama
Amor matéria-prima
A chama
O sumo
A soma
O tema
Amor é pra quem vive
Amor que não prescreve
Eterno
Terno
Pleno
Insano
Luz do sol da noite escura
"qualquer amor já é
um pouquinho de saúde
um descanso na loucura"

sexta-feira, 22 de março de 2013

Tristes constatações


Ao meu silêncio com os homens, respondeu-me o universo com o seu. Bem feito!

Incapacidade masculina (sobram-me carnes, falta-me discernimento)




Conselho às Mulheres

Arranjai gatos
se quereis aprender a lidar com
a diferença dos amantes.
A diferença nem sempre é negligência -
os gatos regressam às suas caixas de areia
quando precisam.
Não praguejam das janelas
para os seus inimigos.
Esse olhar de perpétua surpresa
nesses enormes olhos verdes
ensinar-vos-á
a morrer sózinhas.



Advice to Women

Keep cats
if you want to learn to up with
the otherness of lovers.
Otherness is not always neglect -
cats return to their litter trays
when they need to.
Don't cross (?) out of windows
at their enemies.
That stare of perpetual surprise
in those great green eyes
will teach you
to die alone.

Eunice de Souza, “Poemas Escolhidos” (trad. Ana Luisa Amaral), Ed Cotovia/ Fund. do Oriente (2001)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Leituras (talvez) desaconselhadas







   De volta às biografias (que como género ficam para umas outras quaisquer calendas), debato-me com esta, camusiana. Debater como espécie de “nadinhar”, algures entre, o à tona nadar, e o, definitivamente, afogar.

Primeiro, a constatação (e já haveria uma suspeita a conduzir-me aqui) de que o establishment “histórico” (história feita por “historiadores”, ou seja, narradores) aliado ao marketing cultural (de que os franceses foram inventores e inveterados cultores), resulta nestes equívocos, para não dizer, só, “injustiças”. Dá trabalho retirar rótulos e (re)descobrir o(s) autor(es) e a(s) obra(s). Dá-me a impressão que, a continuar assim, arremeterei (ainda que às arrecuas), pelo menos, até ao séc. XIX !

Segundo, a arrepiante (e não estou a exagerar) “coincidência” de temas, traços de caractér, situações e preocupações entre dois seres. Não se trata do género (romântico, estafadamente romântico) das “almas gémeas”. Antes fosse... Talvez se trate da nevoenta intuição de que entre dois seres, em verdade e com nudez, existirá sempre, ainda que em ínfima quantidade, um espaço de intimidade que não pode senão moldar as nossas relações, com os outros e connosco próprios.

Ressuma do livro (ou da minha leitura dele) um peso, um cinzentismo doentio (as sidas e as tuberculoses de corpos e almas) que talvez o tornem neste momento, e daí o título deste post, quase perigoso. Por outro lado, ficará aqui (e por tempos, julgo, prolongados) o Camus mediterrânico e solar, a sua revolta e a sua esperança.

Nestes tempos, já não é pouco

II

Pego no “Le Premier Homme” (seria o seu último livro):

«Jeune, je demandais aux êtres plus qu'ils ne pouvaient donner: une amitié continuelle, una émotion permanente.
Je sais leur demander maintenant moins qu'ils peuvent donner: une compagnie sans phrases. Et leurs émotions, leur amitié, leur gestes nobles gardent a mês yeux leur valeur entiére de miracle: un entier effect de grâce.»

«M. a 19 ans. Il en avait 30 alors, et ils étaient inconnus alors l'un à l'autre. Il comprend qu'on ne peut remonter le temps, empêcher l'être aimé d'avoir été, et fait, et subi, on ne possède rien de ce qu'on choisit. Car il faudrait choisir avec le premier cri de la naissance, et nous naissons séparés – sauf de la mére. On ne possède que le nécessaire, et il fault y revenir et s'y soumettre. Quelle nostalgie pourtant et quel regret!
Il faut renoncer. Non, apprendre à aimer l'impur.»

Largo-o, leve, sem sentir fuga ou abandono. Entre a floresta (e as suas sombras) e o areal (e o seu horizonte largo), não hesito em mergulhar no oceano...





quarta-feira, 13 de março de 2013

Quarta-Feira Mascarada









   Para um inverno de inclemências, que gela corpos e invisibiliza corações. Para uma gata que espera numa casa. Para uma presença que não nomeio, mas me aquece.
   Na outra margem uma cidade que amo e detesto. Uma cidade é gente. Tempo e trabalho... Saúdo as árvores.
   À esquerda, do lado do vento, o mar e o que, parecendo um breu como a vida que há (e uso assim o presente...), é o reencontro com a tribo que me calhou. Nómadas intensos e livres.
   A escuridão e o som das ondas são a nossa palrante alegria. Encolhida, discreta e serena... mas alegria!