De volta às biografias (que como
género ficam para umas outras quaisquer calendas), debato-me com
esta, camusiana. Debater como espécie de “nadinhar”, algures
entre, o à tona nadar, e o, definitivamente, afogar.
Primeiro, a constatação (e já
haveria uma suspeita a conduzir-me aqui) de que o establishment
“histórico” (história feita por “historiadores”, ou seja,
narradores) aliado ao marketing cultural (de que os franceses foram
inventores e inveterados cultores), resulta nestes equívocos, para
não dizer, só, “injustiças”. Dá trabalho retirar rótulos e
(re)descobrir o(s) autor(es) e a(s) obra(s). Dá-me a impressão que,
a continuar assim, arremeterei (ainda que às arrecuas), pelo menos,
até ao séc. XIX !
Segundo, a arrepiante (e não estou
a exagerar) “coincidência” de temas, traços de caractér,
situações e preocupações entre dois seres. Não se trata do
género (romântico, estafadamente romântico) das “almas gémeas”.
Antes fosse... Talvez se trate da nevoenta intuição de que entre
dois seres, em verdade e com nudez, existirá sempre, ainda que em
ínfima quantidade, um espaço de intimidade que não pode senão
moldar as nossas relações, com os outros e connosco próprios.
Ressuma do livro (ou da minha
leitura dele) um peso, um cinzentismo doentio (as sidas e as
tuberculoses de corpos e almas) que talvez o tornem neste momento, e
daí o título deste post, quase perigoso. Por outro lado, ficará
aqui (e por tempos, julgo, prolongados) o Camus mediterrânico e
solar, a sua revolta e a sua esperança.
Nestes tempos, já não é pouco
II
Pego no “Le Premier Homme”
(seria o seu último livro):
«Jeune, je demandais aux êtres
plus qu'ils ne pouvaient donner: une amitié continuelle, una émotion
permanente.
Je sais leur demander maintenant
moins qu'ils peuvent donner: une compagnie sans phrases. Et leurs
émotions, leur amitié, leur gestes nobles gardent a mês yeux leur
valeur entiére de miracle: un entier effect de grâce.»
«M. a 19 ans. Il en avait 30 alors,
et ils étaient inconnus alors l'un à l'autre. Il comprend qu'on ne
peut remonter le temps, empêcher l'être aimé d'avoir été, et
fait, et subi, on ne possède rien de ce qu'on choisit. Car il
faudrait choisir avec le premier cri de la naissance, et nous
naissons séparés – sauf de la mére. On ne possède que le
nécessaire, et il fault y revenir et s'y soumettre. Quelle nostalgie
pourtant et quel regret!
Il faut renoncer. Non, apprendre à
aimer l'impur.»
Largo-o, leve, sem sentir fuga ou
abandono. Entre a floresta (e as suas sombras) e o areal (e o seu
horizonte largo), não hesito em mergulhar no oceano...