quinta-feira, 21 de março de 2013

Leituras (talvez) desaconselhadas







   De volta às biografias (que como género ficam para umas outras quaisquer calendas), debato-me com esta, camusiana. Debater como espécie de “nadinhar”, algures entre, o à tona nadar, e o, definitivamente, afogar.

Primeiro, a constatação (e já haveria uma suspeita a conduzir-me aqui) de que o establishment “histórico” (história feita por “historiadores”, ou seja, narradores) aliado ao marketing cultural (de que os franceses foram inventores e inveterados cultores), resulta nestes equívocos, para não dizer, só, “injustiças”. Dá trabalho retirar rótulos e (re)descobrir o(s) autor(es) e a(s) obra(s). Dá-me a impressão que, a continuar assim, arremeterei (ainda que às arrecuas), pelo menos, até ao séc. XIX !

Segundo, a arrepiante (e não estou a exagerar) “coincidência” de temas, traços de caractér, situações e preocupações entre dois seres. Não se trata do género (romântico, estafadamente romântico) das “almas gémeas”. Antes fosse... Talvez se trate da nevoenta intuição de que entre dois seres, em verdade e com nudez, existirá sempre, ainda que em ínfima quantidade, um espaço de intimidade que não pode senão moldar as nossas relações, com os outros e connosco próprios.

Ressuma do livro (ou da minha leitura dele) um peso, um cinzentismo doentio (as sidas e as tuberculoses de corpos e almas) que talvez o tornem neste momento, e daí o título deste post, quase perigoso. Por outro lado, ficará aqui (e por tempos, julgo, prolongados) o Camus mediterrânico e solar, a sua revolta e a sua esperança.

Nestes tempos, já não é pouco

II

Pego no “Le Premier Homme” (seria o seu último livro):

«Jeune, je demandais aux êtres plus qu'ils ne pouvaient donner: une amitié continuelle, una émotion permanente.
Je sais leur demander maintenant moins qu'ils peuvent donner: une compagnie sans phrases. Et leurs émotions, leur amitié, leur gestes nobles gardent a mês yeux leur valeur entiére de miracle: un entier effect de grâce.»

«M. a 19 ans. Il en avait 30 alors, et ils étaient inconnus alors l'un à l'autre. Il comprend qu'on ne peut remonter le temps, empêcher l'être aimé d'avoir été, et fait, et subi, on ne possède rien de ce qu'on choisit. Car il faudrait choisir avec le premier cri de la naissance, et nous naissons séparés – sauf de la mére. On ne possède que le nécessaire, et il fault y revenir et s'y soumettre. Quelle nostalgie pourtant et quel regret!
Il faut renoncer. Non, apprendre à aimer l'impur.»

Largo-o, leve, sem sentir fuga ou abandono. Entre a floresta (e as suas sombras) e o areal (e o seu horizonte largo), não hesito em mergulhar no oceano...