terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Balada Irlandesa



IF I WAS A BLACKBIRD

If i was a blackbird I'd whistle and sing
and I'd follow the ship that my true love sails in,
and on the top rigging I'd there built my nest,
and I'd pillow my head on his lilly whith breast.

He promised me to take me to Bonnybrook fair
to buy me red ribbons to bind up my hair.
And when he'd return from the ocean so wide
he'd take me and make me his own loving bride.

His parents they slight me and will not agree
that I and my sailor boy married should be.
But when he comes home I will greet him with joy
and I'll take to my bosom my dear sailor boy.


SE EU FOSSE UM MELRO

Se eu fosse um melro assobiaria e cantaria,
seguindo o navio em que o meu amor navega;
construiria o meu ninho no alto dos cordames
e no seu peito branco como um lírio repousaria a minha.                                                                                              [cabeça.

Ele prometeu-me levar-me à feira de Bonnybrook
para comprar fitas vermelhas e prendê-las nos meus.                                                                                             [cabelos.
E quando regressasse do vasto oceano
haveria de me abraçar e fazer de mim a sua terna esposa.

Os seus pais desprezam-me e não estarão de acordo
que eu e o meu marinheiro nos casemos.
Mas quando ele regressar a casa vou acolhê-lo com alegria
e apertar contra o meu peito o meu marinheiro amado.

[trad. de António Sabler. Fraquinha, como se poderá ler e (não) sentir]

Pratt e Praça


Santiago Caruso - "Gabinete de Curiosidades"

   Os avançantes cinquentas de Pratt. No sublimatório  Maltese apenas (e muito remotamente) se reconhecerá algo de semelhante em "As Helvéticas". Digo eu, provavelmente rasando, ou arriscando, o disparate.


   "(...)E perdi-me numa infinidade de intrigas *, enquanto a velhice - eu preferiria a palavra "velhotice" - se abeirava suavemente. Sentia uma certa preguiça do corpo, conservando uma imaginação muito jovem, um cérebro muito perspicaz. Então, fui pouco a pouco deixando-me envolver por um mundo de recordações, um mundo onírico, um mundo feérico. E esse mundo, que os intelectuais empenhados dessa época me censuraram como sendo irreal, tornou-se para mim cada vez mais concreto: eis em que consiste o meu materialismo histórico. Durante esse período, progressivamente, fui-me separando do que se chama a realidade e a minha vida tornou-se a da imaginação, da fantasia, do fantástico."

   * - parece-me "liberdade" de tradução.

Hugo Pratt, in "O Desejo de Ser Inútil - memórias e reflexões", pág. 161 (Relógio d'Água,  2005)


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Já suspeitava: resta o mistério da associação verbal (tal&qual)

 
Alice Ferrow

   CRISE

   O substantivo  crise vem «latim crĭsis, is, "momento de decisão, de mudança súbita, crise (usado especialmente acepção medicina)", do grego krísis,eōs, "ação ou faculdade de distinguir, decisão", por extensão, "momento decisivo, difícil", derivação do verbo grego krínō, "separar, decidir, julgar";  já no latim ocorre a acepção "momento decisivo na doença"; a palavra ganha curso em economia a partir do séc. XIX; francês crise (1429), inglês crisis (1543), alemão Krise (séc. XVI), italiano crisi séc. XVI-XVII, espanhol crisis (1705), português crise (séc. XVIII)».

   A palavra crise é, em história da medicina, «segundo antigas concepções, o 7.º, 14.º, 21.º ou 28.º dia que, na evolução de uma doença, constituía o momento decisivo, para a cura ou para a morte»; em medicina, trata-se de «o momento que define a evolução de uma doença para a cura ou para a morte» ou de «dor paroxística, com distúrbio funcional em um órgão». Em economia, é «fase de transição entre um surto de prosperidade e outro de depressão, ou vice-versa».

(Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss)



CATARSE

s.f. 1 na religião, medicina e filosofia da Antiguidade grega,
libertação, expulsão ou purgação daquilo que é estranho à essência ou à natureza de um ser e que, por esta razão, o corrompe
1.2 Rubrica: religião.
conjunto de cerimônias de purificação a que eram submetidos os candidatos à iniciação religiosa, esp. nos mistérios de Elêusis
1.4.1 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: estética, teatro.
purificação do espírito do espectador através da purgação de suas paixões, esp. dos sentimentos de terror ou de piedade vivenciados na contemplação do espetáculo trágico
3 Rubrica: psicanálise.
operação de trazer à consciência estados afetivos e lembranças recalcadas no inconsciente, liberando o paciente de sintomas e neuroses associadas a este bloqueio
4 Rubrica: psicologia.
liberação de emoções ou tensões reprimidas, comparável a uma ab-reação
5 Rubrica: psicologia.
efeito liberador produzido pela encenação de certas ações esp. as que fazem apelo ao medo e à raiva, utilizado pelas terapias que se baseiam no método catártico


Fonte: Dicionário Houaiss


   Sobreviveremos, mas diferentes. Omito a opinião, o pressentimento, tudo o que sendo tão pessoal se torna de tal forma subjectivo que evito racionalizar, verbalizar e submeter a qualquer tipo de análise (pessoal, quanto mais a pares...). Não consigo evitar classificar os tempos que correm como "de resistência", fugindo (assustado) ao "sobrevivência". Por razões e vivências muito minhas, que por recato ou pudor, calo. Mas, para perceber o que evoco, leia-se qualquer descrição de, por exemplo, um naufrágio. Não faltam narrativas bastante reais (presenciais de preferência) que, para o efeito, são bastante mais elucidativas do que a estupenda e fantástica (literalmente) "colecção de relações e notícias de naufragios, e successos infelizes, acontecidos aos navegadores portuguezes", reunidos por Bernardo Gomes de Brito. Por isso aqui deixo o óleo de Mª H. V. da Silva.



Maria Helena Vieira da Silva História Trágico-Marítima ou Naufrage, 1944

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Qualquer coisa do género





1. Queres sobreviver ao frio?
2. Queres vencer a fome?
3. Tens vontade de comer?
4. Queres beber?
Despacha-te e adere às Brigadas de Choque !

Cartaz Agitprop de Maïakovski

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Primavera inalcansável


   Em dias assim a viagem não é geográfica, mas uma espécie de passeio, feliz ou infelizmente (decidam vocês) com bilhete de ida e volta. Eu, tão contente que ando com a vida e a companhia, ainda assim consigo arranjar desejos de pecar numa espécie de impaciência irritada (o Sá de Miranda é que a sabia, toda e bem). Feitios ferrosos e desleixos enferrujados. Aliás, informa-me o farmacêutico que estamos em plena falta generalizada de vitamina D. Graças a Deus, e por uma vez, nada de metafísicas nem sentimentalidades amorosas.
   Assim se constroem as vidas e as normalidades: uma gota por dia ou a frascalhada toda e duma vez pela goela abaixo. Conhecendo-me já sei como há-de ser.