sexta-feira, 22 de março de 2013

Tristes constatações


Ao meu silêncio com os homens, respondeu-me o universo com o seu. Bem feito!

Incapacidade masculina (sobram-me carnes, falta-me discernimento)




Conselho às Mulheres

Arranjai gatos
se quereis aprender a lidar com
a diferença dos amantes.
A diferença nem sempre é negligência -
os gatos regressam às suas caixas de areia
quando precisam.
Não praguejam das janelas
para os seus inimigos.
Esse olhar de perpétua surpresa
nesses enormes olhos verdes
ensinar-vos-á
a morrer sózinhas.



Advice to Women

Keep cats
if you want to learn to up with
the otherness of lovers.
Otherness is not always neglect -
cats return to their litter trays
when they need to.
Don't cross (?) out of windows
at their enemies.
That stare of perpetual surprise
in those great green eyes
will teach you
to die alone.

Eunice de Souza, “Poemas Escolhidos” (trad. Ana Luisa Amaral), Ed Cotovia/ Fund. do Oriente (2001)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Leituras (talvez) desaconselhadas







   De volta às biografias (que como género ficam para umas outras quaisquer calendas), debato-me com esta, camusiana. Debater como espécie de “nadinhar”, algures entre, o à tona nadar, e o, definitivamente, afogar.

Primeiro, a constatação (e já haveria uma suspeita a conduzir-me aqui) de que o establishment “histórico” (história feita por “historiadores”, ou seja, narradores) aliado ao marketing cultural (de que os franceses foram inventores e inveterados cultores), resulta nestes equívocos, para não dizer, só, “injustiças”. Dá trabalho retirar rótulos e (re)descobrir o(s) autor(es) e a(s) obra(s). Dá-me a impressão que, a continuar assim, arremeterei (ainda que às arrecuas), pelo menos, até ao séc. XIX !

Segundo, a arrepiante (e não estou a exagerar) “coincidência” de temas, traços de caractér, situações e preocupações entre dois seres. Não se trata do género (romântico, estafadamente romântico) das “almas gémeas”. Antes fosse... Talvez se trate da nevoenta intuição de que entre dois seres, em verdade e com nudez, existirá sempre, ainda que em ínfima quantidade, um espaço de intimidade que não pode senão moldar as nossas relações, com os outros e connosco próprios.

Ressuma do livro (ou da minha leitura dele) um peso, um cinzentismo doentio (as sidas e as tuberculoses de corpos e almas) que talvez o tornem neste momento, e daí o título deste post, quase perigoso. Por outro lado, ficará aqui (e por tempos, julgo, prolongados) o Camus mediterrânico e solar, a sua revolta e a sua esperança.

Nestes tempos, já não é pouco

II

Pego no “Le Premier Homme” (seria o seu último livro):

«Jeune, je demandais aux êtres plus qu'ils ne pouvaient donner: une amitié continuelle, una émotion permanente.
Je sais leur demander maintenant moins qu'ils peuvent donner: une compagnie sans phrases. Et leurs émotions, leur amitié, leur gestes nobles gardent a mês yeux leur valeur entiére de miracle: un entier effect de grâce.»

«M. a 19 ans. Il en avait 30 alors, et ils étaient inconnus alors l'un à l'autre. Il comprend qu'on ne peut remonter le temps, empêcher l'être aimé d'avoir été, et fait, et subi, on ne possède rien de ce qu'on choisit. Car il faudrait choisir avec le premier cri de la naissance, et nous naissons séparés – sauf de la mére. On ne possède que le nécessaire, et il fault y revenir et s'y soumettre. Quelle nostalgie pourtant et quel regret!
Il faut renoncer. Non, apprendre à aimer l'impur.»

Largo-o, leve, sem sentir fuga ou abandono. Entre a floresta (e as suas sombras) e o areal (e o seu horizonte largo), não hesito em mergulhar no oceano...





quarta-feira, 13 de março de 2013

Quarta-Feira Mascarada









   Para um inverno de inclemências, que gela corpos e invisibiliza corações. Para uma gata que espera numa casa. Para uma presença que não nomeio, mas me aquece.
   Na outra margem uma cidade que amo e detesto. Uma cidade é gente. Tempo e trabalho... Saúdo as árvores.
   À esquerda, do lado do vento, o mar e o que, parecendo um breu como a vida que há (e uso assim o presente...), é o reencontro com a tribo que me calhou. Nómadas intensos e livres.
   A escuridão e o som das ondas são a nossa palrante alegria. Encolhida, discreta e serena... mas alegria!

quinta-feira, 7 de março de 2013

Livros que nunca lerei





Jokes, paradoxes, riddles, and the art of non-sequitur are revealed with great perception and insight in this illuminating account of the relationship between humor and mathematics."--Joseph Williams, New York Times

"'Leave your mind alone,' said a Thurber cartoon, and a really complete and convincing analysis of what humour is might spoil all jokes forever. This book avoids that danger. What it does. . .is describe broadly several kinds of mathematical theory and apply them to throw sidelights on how many kinds of jokes work."--New Scientist

"Many scholars nowadays write seriously about the ludicrous. Some merely manage to be dull. A few--like Paulos--are brilliant in an odd endeavor."--Los Angeles Times Book Review    

quarta-feira, 6 de março de 2013

Maçãs e Cinzas








I'm sentimental, so I walk in the rain
I've got some habits even I can't explain
Could start for the corner, turn up in Spain
But why try to change me now?

I sit and daydream, I've got daydreams galore
Cigarette ashes, there they go on the floor
I'll go away weekends, leave my keys in the door
But why try to change me now?

Why can't I be more conventional?
People talk, people stare, so I try
But that's not for me, 'cause I can't see
My kind of crazy world go passing me by

So, let people wonder, let 'em laugh, let 'em frown
You know I'll love you till the moon's upside down
Don't you remember I was always your clown?
Why try to change me now?

segunda-feira, 4 de março de 2013

Para uma ex-amiga


O remorso de termos sido, a tristeza de sermos dois...
Que a noite nos engula e nos regorgite (ou vomite até) mutuamente amnésicos e habitantes de mundos interditos um ao outro. Adeus



Você não quer ver nada além do seu umbigo
E eu quero ver o que há depois do perigo
Você acha que ninguém sofre mais do que você
Talvez porque não saiba ao certo o que é sofrer
Ando pelas ruas cheirando a fumaça dos motores
Enquanto você fantasia suas dores de amores

Você não quer ver nada além do seu mundinho
E eu prefiro escrever meu próprio caminho
Você acha que ninguém sofre mais do que você
Talvez porque não saiba ao certo o que é sofrer
Você sonha ser princesa em castelos fabulosos
Enquanto eu vago na cidade entre inocentes e criminosos

Você não quer ver nada além
Ninguém pode ensinar nada a ninguém
Você não quer ver nada além
Ninguém pode ensinar nada a ninguém

Você sonha ser princesa em castelos fabulosos
Enquanto eu vago na cidade entre inocentes e criminosos

Você não quer ver nada além
Ninguém pode ensinar nada a ninguém
Você não quer ver nada além
Ninguém pode ensinar nada a ninguém

Você não quer ver nada além
Ninguém pode ensinar nada a ninguém
Você não quer ver nada além
Ninguém pode ensinar nada a ninguém

Fique com os seus bonsais, seus haicais,
Sua paz, suas flores, seu jardim de inverno
Se isso é céu eu prefiro meu inferno

Zeca Baleiro