Poderia utilizar-se a altercação como forma de se avaliarem
as virtualidades do potencial poeta. Assim, por exemplo, a
transcrição duma discussão conjugal ou amorosa, (porque costumam
ser essas as de maior violência verbal e onde a preocupação com
qualquer tipo de argumentação lógica rapidamente se desvanece)
poderia servir como meio de se avaliarem a riqueza vocabular, a
musicalidade do “texto”, o colorido do imaginário, a capacidade
de conquistar o “leitor” para a magia da palavra...
Quem sabe quantos "Lusíadas" não se terão perdido, não num Índico mas num oceano de lágrimas e gritarias? ... e quantas "Mensagens" não terão sido interrompidas (e, lá está... para sempre perdidas) por um estalo ou um bater de porta?
Teria este método vantagens várias:
- serem-nos poupados histerismos,
poses, tiques e traques que, egoísticamente, reclamam, quando não
exigem mesmo a nossa educada atenção ( e daí a sua violência);
- termos, pela poupança de papel, uma
existência muito mais ecológica, mais verde, mais amiga do ambiente
(onde incluo, naturalmente, os bichinhos; as minhas gatas, por
exemplo, ao ouvirem certos transportes amorosos, verbosidades várias,
banalidades escritas a tinta de génio, bufam e basam);
- podermos, enfim, devolver às
livrarias o seu esplendor e a sua magia; ou seja, esvaziá-las do
lixo que as asfixia e nos impede o infinito prazer da descoberta e do
maravilhamento.
Nesse mundo muito mais silencioso
talvez pudéssemos então transferir o que de poesia nos habita da
boca para o olhar, usando este para contemplarmos, amorosamente,
as árvores ...e os lábios para sorrirmos e beijarmos outros lábios
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