quinta-feira, 29 de março de 2012

Texto Migrante ou Um Quase Adeus


   Poderia utilizar-se a altercação como forma de se avaliarem as virtualidades do potencial poeta. Assim, por exemplo, a transcrição duma discussão conjugal ou amorosa, (porque costumam ser essas as de maior violência verbal e onde a preocupação com qualquer tipo de argumentação lógica rapidamente se desvanece) poderia servir como meio de se avaliarem a riqueza vocabular, a musicalidade do “texto”, o colorido do imaginário, a capacidade de conquistar o “leitor” para a magia da palavra... 

   Quem sabe quantos "Lusíadas" não se terão perdido, não num Índico mas num oceano de lágrimas e gritarias? ... e quantas "Mensagens" não terão sido interrompidas (e, lá está... para sempre perdidas) por um estalo ou um bater de porta?

   Teria este método vantagens várias:
       - serem-nos poupados histerismos, poses, tiques e traques que, egoísticamente, reclamam, quando não exigem mesmo a nossa educada atenção ( e daí a sua violência);
       - termos, pela poupança de papel, uma existência muito mais ecológica, mais verde, mais amiga do ambiente (onde incluo, naturalmente, os bichinhos; as minhas gatas, por exemplo, ao ouvirem certos transportes amorosos, verbosidades várias, banalidades escritas a tinta de génio, bufam e basam);
       - podermos, enfim, devolver às livrarias o seu esplendor e a sua magia; ou seja, esvaziá-las do lixo que as asfixia e nos impede o infinito prazer da descoberta e do maravilhamento.

   Nesse mundo muito mais silencioso talvez pudéssemos então transferir o que de poesia nos habita da boca para o olhar, usando este para contemplarmos, amorosamente, as árvores ...e os lábios para sorrirmos e beijarmos outros lábios

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