sexta-feira, 30 de março de 2012

Luis Cernuda








CALAVA-SE


Não dizia nada.
Apenas aproximava um corpo interrogante,
Porque ignorava que o desejo é uma pergunta
Cuja resposta não existe,
Uma folha cujo ramo não existe,
Um mundo cujo céu não existe.

A angústia rompe caminho por entre os ossos,
Escala as veias
Até se abrir na pele,
Jorros de sonho
Feitos carne numa interrogação dirigida às nuvens.

Um encosto,
Um olhar fugaz por entre as sombras,
Bastam para que o corpo se abra ao meio,
Ávido de receber em si
Outro corpo que sonhe;
Metade com metade, sonho com sonho, carne com carne,
Iguais em aspecto, iguais em amor, iguais em desejo.

Ainda que seja só uma esperança,
Porque o desejo é uma pergunta cuja resposta ninguém conhece. 

traduzido ou, à maneira de H.Helder, "mudado para português" por JM


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