segunda-feira, 5 de março de 2012
Arbeit macht frei
Solidão podia ser o mundo a pregar-nos partida de morrer antes de nós. Num nós todo inutildade, ausência, silêncio. Para que hás-de querer olhos quando não houver paredes, ou qualquer outra coisa a que consigas ou possas chamar casa? Quando nenhum comboio te deixar embarcar de bagagem e desolação. Que peso carregas... Com que esforço te disfarças, te invisibilizas, te reinventas... Lá no fundo, sabes que noite de céu calado é pátria de estrelas emigradas para outros infinitos. Na tua colecção de postais há muitas gares, muitas esperas, e, sobretudo, nevoeiros, medos, neblinas.
...“o que não chega”, “o que já partiu”. Toda uma geografia (ou geometria) ferroviária de desencontros, de fugas e esquecimentos.
O que a noite não abafou foram os ecos das viagens (essas sim) da morte, as "ao fim da noite" e, até os "outonos em pequim"
os que restámos (sombras, fantasmas, companheiros, talvez até, camaradas) coreografamos uma dôr tão miúda que já nem desgosto é, neste "bar" de gare esquecido de deus e dos homens casados. E, apesar do frio, agrada-me esta nudez consumidora de cigarros, de vinho da nossa cepa e ano, daquele café que não nos aquece as mãos quanto mais a alma. Borras e cinza, é isso "borras e cinzas"... As lembranças, os afectos, os abraços e os beijos espalha-os o vento lá fora; nos carris, nas paredes rabiscadas, nos urinóis onde mijamos as lágrimas que ainda nos restam e de que ainda somos capazes.
Um orfão é apenas aquele que, por um erro administrativo, ficou esquecido. "Jesus passou por aqui", (a dar-nos pão, peixe e vinho?), é capaz, mas o sangue seca rápido, acastanhanha-se envergonhado.
Ficámos na vida a "ver passar comboios"
humilde vénia aos acontecimentos (comboios da morte) e autores evocados (Céline e Vian)
Auschwitz
4 08 2009
13 de Agosto de 2008, 10h56 – Hostel de Praga
“Finalmente um sítio com uma caminha que não balança o caminho todo. Duas noites a dormir nos comboios dá cabo de uma pessoa. E eu como ainda não me habituei, não consigo dormir como deve de ser.
Bem começando por ontem, o dia foi cheio de emoções. Por volta das 8h30 começamos a levantar, pois estava a aproximar-se a estação na qual sairíamos para apanhar o comboio até Auschwitz. Saímos do comboio na estação que se chamava Trzbenia, uma terriola lá bem no meio do nada. Connosco saiu também um rapaz do Chile chamado Sebastian, que iria fazer o mesmo percurso que nós, visitar Auschwitz e depois apanhar o comboio nocturno para Praga.
Ainda faltava uma hora e alguns minutos para que o comboio chegasse e por isso fomos fazendo conversa enquanto o Sebastian tentava comprar o bilhete de comboio para Auschwitz. Pedir bilhete era fácil, pagar era o mais difícil, uma vez que não aceitavam euros, só Zlotys.
Um polaco que compreendia e falava mais ou menos inglês, percebeu que precisávamos de ajuda e resolveu ajudar-nos. Disse que também ia apanhar o mesmo comboio que nós, para Auschwitz, e lá ajudou o Sebastian a comprar o bilhete.
Como ainda faltava algum tempo para apanhar o comboio, ficámos todos à conversa a conhecermo-nos uns aos outros. O rapaz polaco chamava-se Lucas. O Sebastian já andava há um mês a passear pela Europa e dizia que não se tinha fartado. Não sei bem como, uma vez que não tinha companhia de ninguém, apenas das pessoas que ia conhecendo ao longo do caminho.
In http://interrail2008pt.wordpress.com/2009/08/04/auschwitz-praga/
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ainda bem que escreves.
ResponderEliminarainda bem que comentas
ResponderEliminarQue lindos :)
ResponderEliminardesculpem...o sorriso não faz parte
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