sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Embebedem-se



Enivrez-vous
Il faut être toujours ivre, tout est là ; c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve. Mais de quoi? De vin, de poésie, ou de vertu à votre guise, mais enivrez-vous! Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge; à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est. Et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront, il est l'heure de s'enivrer ; pour ne pas être les esclaves martyrisés du temps, enivrez-vous, enivrez-vous sans cesse de vin, de poésie, de vertu, à votre guise.
Charles Baudelaire, Les petits poèmes en prose

Embebedem-se
A verdade é que se deve estar sempre bêbado: é essa a única questão. Para não se sentir o terrível peso do tempo a vergar-nos as costas e a deitar-nos ao chão, precisamos de nos embebedar sem descanso. Com quê? Com vinho, com poesia, ou com uma virtude à vossa escolha... mas embebedem-se! E se por vezes, seja nos degraus de um palácio, ou nas ervas duma fossa, acordarem com a bebedeira esvaída ou desaparecida, peçam ao vento, a uma onda, a uma estrela, a um pássaro, a um relógio; a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rebola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntem-lhes que horas são. E o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, hão-de responder-vos que são horas de se embebedarem; para não serem os martirizados escravos do tempo, embebedem-se, embebedem-se incansavelmente  com vinho, com poesia, com virtude, à vossa escolha
Charles Baudelaire, "Pequenos poemas em prosa"

(trad. JM)

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