terça-feira, 29 de dezembro de 2009

FODA-SE (Millor Fernandes)

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de FODA-SE que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito de FODA-SE!?  O “foda-se” aumenta minha auto-estima e me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas, me liberta. Não quer sair comigo? Então FODA-SE!  Vai querer decidir esta merda sozinho mesmo? Então FODA-SE! O direito ao FODA-SE deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nascem por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua línguaComo o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

PRA CARALHO” por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de quantidade do quePRA CARALHO”?, tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o Universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende? No gênero do “Pra Caralho", mas no caso, expressando a mais absoluta negação, esta o famosoNEM FODENDO”.

O “Não, nãonão!” e tampouco o nada eficaz e sem nenhuma credibilidadeNão, absolutamente não!” substituem o “NEM FODENDO” é  irretorquível, e liquida o assunto. Te liberta, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro para ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo o definitivo  “Filhinho, presta atenção,  “NEM FODENDO' .

O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o “PORRA NENHUMA” atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possam viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um “É PHD  PORRA NENHUMA”, ou ele redigiu aquele relatório sozinho PORRA NENHUMA!. O “PORRA NENHUMA” como vocês podem ver nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos “Aspone, Chepone, Repone”, e mais recentemente o “Prepone”, presidente de PORRA NENHUMA.

outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um “PUTA-QUE-PARIU”, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diante de uma  notícia irritante qualquer um “PUTA-QUE-O-PARIU!”, dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso “VAI TOMAR NO CU!”? E sua maravilhosa e reforçada derivação “VAI TOMAR NO OLHO DO SEU CU” ? Você imaginou o bem  que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta : Chega ! “VAI TOMAR NO OLHO DO SEU CU”.  Pronto, você retomou as rédeas de sua vida e sua auto-estima. Desabotoe a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios. Arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando-o parar: O que você fala?
FODEU DE VEZ!

Liberdade, igualdade, fraternidade e  FODA-SE.

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