terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Espiritualizar a Carne, Sexualizar o Espírito

   Próprio é da natureza humana aspirar ou saborear o êxtase que coroa a exaltação amorosa, sempre que, pelo desejo, ou pela plenitude da realização, sublimando o objecto do desejo, tende , numa feliz definição de Benjamin Péret, a «sexualizar o universo» (Anthologie de l'Amour Sublime).
   Este amor divinizante, no qual a natureza mortal procura eternizar-se, , é de todos os tempos e sobrepõe-se às superestruturas históricas e religiosas que desfiguram o ser do amor coja imanência se manifesta pela unidade superior da carne e do espírito.
   Não falamos de mitos, que encerram uma moral erótica. Referimo-nos à experiência concreta do absoluto, cuja potência é virtualidade da beatitude amorosa, quer o desespero dessa plenitude condene o amante ao purgatório do ciúme, como Propércio e Catulo, quer o leve a procurar, na morte, a eternidade objectiva do amor que a paixão prefigura, como Heirich Von Kleist.
  
Natália Correia, in Prefácio a "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica"

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