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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Tripas à Cafreal (4... e última)

IV
 Acabado o almoço fiz-me à cruzada Tuga. Isto não vai ficar assim. Não pode e mandei-me para o posto da policia do comando central.
 Na portaria deviam estar aí uns 4 camisas cinzentas...um deles sentado e os outros todos de pé...numa mesa pequena estava um caixote com muitas cartas de condução, tipo venda ambulante, à espera dos seus donos. Decidido perguntei..."vim levantar a minha carta de condução...quero pagar uma multa e levantar a minha carta".
 O camisa cinzenta chefe (o que estava sentado) afirmou..."a secrtaria fecha às 15:30...tem que virr na 2ª feira"...como não ia convidar aquela gente toda para drink nenhum, resmunguei e vim-me embora.
 Telefonei ao tuga zé, convicto que isto era caso para tribunal e que ele tinha que me arranjar um advogado...o tuga zé, que nasceu aqui, ouviu pacientemente a minha história e disse sempre que sim..."telefona ao pedro que ele ajuda-te" e terminou o telefonema.
 Decidido rumei ao último reduto da lei...a Embaixada da Tugolandia.
 Chegado à Jules Nyerere estacionei o carro e entrei no baluarte da civilização...passei pela segurança, parei à frente da recepcionista e reportei o meu problema "queria falar com alguém para me ajudar...roubaram-me a carta de condução"...telefonema para cima...telefonema para baixo...e atendeu uma tal de vanda..."estou sim"..."sim, faça o favor de dizer"...disse a vanda..."daqui fala um cidadão tuga...um policia roubou-me a carta...e não sei agora o que fazer...isto não é legal"..."olhe" disse a vanda "vai ter que ir ao consulado...Moçambique é um estado soberano... aqui são só assuntos políticos"..."OK" disse eu e continuei "e o consulado está aberto a esta hora?"...lacónicamente a vanda respondeu "Não"..."e então como vou fazer?"..."vai ter que escrever uma carta"..."e para onde...não me pode dar o e-mail"..."posso sim"...e aguardei pelo endereço "tugatuga@tugolandia.pt"..."obrigado" retorqui, resmunguei outra vez...e saí.
 Eram 17h e Maputo estava com um calor fantástico. Pelo caminho reparava, como reparo sempre, numa aquitectura que eu sei bem ver. Esquina por esquina o meu olhar vai tropeçando no ar duma África que sempre foi minha. O meu pai, também ele africano, ensinou-me de menino a por os olhos no céu.
 Rumei a minha casa para fazer a carta...mas desta vez para a minha namorada...África. Pelo meio recordei as palavras da RDP "hoje morreu um filho de Moçambique...Carlos Pinto Coelho"...foi então que percebi a languidez tropical daquele pivot eterno da "nossa" televisão:
 "A toda a equipa que produziu, realizou e levou até si este programa...um bom fim de semana" e fui para casa a pensar no jantar.
 Alexandre Sales"

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tripas à Cafreal (3)

III
Subitamente o calor produziu um pensamento africano...tinha uma fotocópia da carta de condução na minha pasta, que tinha tirado de manhã.
 Não hesitei e marchei sobre a casa que autentica as fotocópias...já me conhecem...sou tuga... tenho um ar gingão...dou boas gorjas...entrei, comprimentei e fiz charme..."a martinha está boa"..."tudo beeem...brigado"...(vocês não sabem mas a martinha é a filha da menina que tira as fotocópias para serem reconhecidas).
 "são as cópias do costume"..."muito beeem, são 10 meticais"...dei 17 e disse o habitual "podem ficar com o troco...um beijinho para a martinha!"..."brigado" e num minuto a mãe da martinha sem saber já tinha produzido uma nova carta de condução ao Tuga.
 Telefonei ao edmundo e avisei "já não precisa de vir...já resolvi o problema"..."OK Dôtor. Tudo beem"
 Entrei de novo no carro e segui atrasado para o Business Lunch. Estacionei no meio da confusão e um lavador veio-me pedir os 10 paus habituais...resmunguei à tuga...não dei nada e segui o meu caminho a olhar para o relógio.
 Quando cheguei ao restaurante, já estava atrasado 15 minutos...mas mesmo assim levei uma seca de mais 45 à espera dos meus business partners...hoje África estava mesmo em grande .
 Entrei e partilhei a minha história com algum pessoal que já me conhece...foi quando um mulato afirmou..."cuidado com o stress, tuga, cuidado com o stress!"...mais uma vez registei a dica e prossegui.
 Sentei-me, esperei, liguei o computador e mandei uns mails para Portugal...o meu partner chegou sem o plural e almoçamos sem stress.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Tripas à Cafreal (2)

II
 Mas o calor apertava e eram já 13h. Já estava a queimar a hora do Business Lunch. Foi aí que tirei o carro do estacionamento e comecei a subir a Samora Machel...quando drrpente viro...sim...digo mesmo drrpente...azar o meu...desta vez tinha mesmo feito uma infracção trrivel...entrei por um sentido proibido.
 "Prri prri prri" apita o policia de camisa branca ordenando-me para encostar...e eu parei...apresentou-se, bateu continência e disse "Boa tarrde", "Boa tarde" repliquei..."A sua carrta por favor" retorquiu o avô... "Aqui está ela"...disse eu.
 O meu Tugo-pensamento voava e bebia o que via...um verdadeiro Policia africano...devia ser avô para aí de 60 netos...e os dentes já deviam ter caído fazia décadas.
 "O Sênhór não viu o sinal?" disse o avô..."não reparei Sr. Cabo"..."então vai levarr murta"..."vão serr mir meticais".
 "Mil Meticais, Sr Cabo!!...não tenho esse dinheiro"...e tentei a táctica que tinha resultado antes com a mulher policia..."mas Sr. cabo...não quer resolver o problema de outra maneira?"...mas ele não parou de escrever no livro de multas...apenas disse "o patrão é que sabe!"..."vamos ter que ir ao coomando" e prosseguiu.
 Quando tal, o Avô policia entrou no carro dos camisas cinzentas e fugiu...sim...simplesmente fugiu com a minha carta...novamente África a revelar-se...mas desta vez sem drink agendado.
 Num 1º impulso pensei para mim...Bem...hoje é 6ª...3ªa feira arranco para Portugal...no fim de semana ando de taxi...não há crise...tudo se resolve...e de pronto telefonei para a empresa que me tinha alugado o carro..."Edmundo"..."sim Dôtor"..."sou eu o Tuga"..."sim Dôtor, já perrcebi"..."olhe edmundo apreenderam-me a carta e o melhor é vir buscar o carro já...vou passar a andar de taxi"..."tudo beem Dôtor...estou vindo"..."mas quanto tempo demora?"..."aí uns 20 minutos"..."tudo bem...estou à sua espera na Ateneia".
 Pelo meio fiz um telefonema para o tuga Nuno..." ó pá...nuno...tu queres saber o que me fizeram...pá...queres?"..."diz lá"..."um policia roubou-me a carta"..."mas ele não pode fazer isso. É ilegal..."O pá...mas fez...e agora estou tramado. o que vale é que na 3ª sigo de volta para a tugolandia e tiro uma 2ª via"..."vai ao comando fazer queixa...eles não podem ficar com a tua carta...isso é um documento estrangeiro". Desligamos e registei a dica.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Tripas à Cafreal (1)

Porque o picaresco não tem geografias de latitudes nem longitudes começo a publicar um texto (que dividi em 4 partes) de um amigo recém-ido para Moçambique

 

Carta para a minha namorada



I



"17 de Dezembro de 2010, 6ª feira, 13:00h, sol a pino, calor tropical em Maputo e eu, Tuga Anginho, recém saído do banco Corporate com o suor a escorrer-me pelas costas.
 Vestido de camisa branca cintada, jeans, óculos Ray-Ban e pasta a condizer, espreito com confiança as oportunidades...I am Business Man...a real one...e faço uso dos inglesismos que me acompanharam na adolescência...estou em casa...sim estou em casa...aqui fala-se Anglo-Português...quando aprender Xangana estarei perfeito.
 Meia hora, antes uma mulher policia, com uma camisa não sei bem de que cor, tinha alegado uma paragem ilegal do meu carro à margem da intransitável Zedequias Manganhela.
 Foi mesmo aí que África se revelou em todo o seu esplendor...subornei-a com 80 paus (40 para ela e 40 para um ele que a acompanhava)...e no fim deixou-me o numero de telefone para um drink..."manda um bip...vai...manda um bip"..."põe aí Carrmo Policinha para não se esqueceerr"...fantástico...senti-me um ás e mandei um sms para a Tugolandia a reportar...subornar uma Policia e agendar um encontro em simultâneo...é fabuloso...pura e simplesmente fabuloso.




(continua amanhã)