Pina Bausch - " Wolfisms "
( Para a Patrícia L. )
Diamante
Dantes dentes, ninhos deles
bocas selvagens quando riam,
Companheiras de lágrimas que logo
logo secavam e esqueciam.
O seu sal era em tudo semelhante ao sabor do sexo
ao suor que colava os nossos corpos e
por nós falava. Deitados no Tempo, mergulhados
nessa força que são os dias curtos.
Nunca mais dei uso às mãos assim: olá, adeus.
Fui-me tornando uma alma baça, ou pequena
ou só medrosa... li demais, alfabrutizado,
a viver vidas emprestadas, a servir almoços,
pequenos mimos.
Agora a luz, ao cegar-me, não me deixa
nem esquecer, muito menos recomeçar a ser.
Evoco o diamante na sua excessiva ou desmesurada
concentração matérica. Vá lá, diria eu, se não tivesse
a boca tão cheia de pedras, o peito tão negro
e o mar tão longe. Tolo, sorri...
Gostas de bichos, e os animais conhecem-te o osso
e ainda assim buscam afectos e afagos.