terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Como foi...


   Obrigado. Raiva e choro. Pensamento escondido. Anónimo. Perdido.
   Esquecido o  rumo. Náufrago. Emoção plena quando olho o teu corpo adormecido e riscas de sol morno te libertam de mim e eu espero, indiferente ao desfecho. Anseio uma distração enevoada para a nossa fuga alada. Quero filho teu antes de morrer e a lágrima sem emoção que me escorre, face abaixo, é o meu segredo, o nosso fim.
   Isto de quereres, começa-se com tudo e acaba-se com nada. Uma corrida fugida que estafa e cansa. Movo os lábios no silêncio daquele quarto e, enquanto vejo os mínusculos e brilhantes grãos de poeira nos feixes de luz, sei que o que digo é uma versão única de oração. Visto-me em silêncio, apenas o sacoplástico ameaça denunciar-me, mas longe como estás apenas afastas os cabelos húmidos da testa.
   Espera-me o frio ventoso duma cidade onde me perderia se me dirigisse a casa.

Fotografia de  Fred Herzog