quinta-feira, 29 de janeiro de 2015



Obra de 1937, batizada de Madona com Menino Jesus, foi encontrada debaixo de 15 camadas de tinta numa parede da casa, hoje museu, onde o maior pintor brasileiro morou, a 350 kms de São Paulo.


     "Um olho azul, descobri um olho azul", gritou um dos restauradores que ajudava nas obras da casa onde viveu Cândido Portinari, considerado o maior pintor brasileiro da história, na cidade de Brodowski, 350 quilómetros a nortede São Paulo. Cristiane Patrici, gerente-geral do museu, situado na própria casa de Portinari, correu aos prantos para avisar Angélica Fabbri, a diretora executiva, e comemoraram todos juntos em êxtase: o olho azul era da figura de um Menino Jesus, ao colo da mãe, e revelou-se a última das obras do artista. "Deve ser uma sensação parecida com a do garimpeiro que descobre ouro", descreve Angélica.


   Nos últimos dias de 2014, um laudo divulgado por pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do Rio de Janeiro confirmou, após complexos estudos, o que se esperava desde aquele dia: a obra, um fresco entretanto batizado de Madona com Menino Jesus, pode ser catalogada como um dos cinco mil trabalhos do pintor. Estava debaixo de 15 camadas de tinta na parede do que seria, à época, a varanda da sua casa. Segundo os especialistas, Portinari não trabalhou sozinho. O artista tinha o hábito de convidar amigos pintores e criar frescos pelas paredes de casa em coautoria, como parece ser o caso de Menino Jesus com Madona.
     DN, 28.01.2015

     Sem dúvida, percorrido este longo e poeirento caminho hei-de voltar a fazer  parte de mim, fundido na carne, correndo as veias imperiais da gente bem vestida. Enfim, (con)fundido.      Uma, várias gritarias abafadas.. Ancorado e oculto nas nuvens da infância definitiva e agónica, livre de calendários e datações várias, longe, longe e esquecido, hei-de escapar a mapas, e deixar-me-á ficar só e nú (à espera de nada nem coisa alguma), com este renovado e fortalecido fascínio que sempre de mim se apodera quando esbarro, colido, tropeço, me sacio e esfomeeio simultaneamente em bizarras ementas, se assim poderei chamar a momentos, circunstâncias, olhares cruzados, desejos recíprocos e crescentes entre a minha carne e o mundo. 
     Chamar a isto circunstâncias? Reconhecer magias? Afagar corpos. Desejar gestos e afectos. Procurar, certo de encontrar, uma paz duradoura. Uma paz final. Acariciar cicatrizes, ternurar patifarias de longas sombras e péssimas intenções, desistir do medo e ouvir o inaudível chapinhar do sangue gorduroso manchando soalho.
     No fundo que os olhos se busquem e o olhar nasça. O resto é Literatura onde até, talvez, caiba, aninhada, a ternura e, perante este tosco esboço, onde o que falta de mestria, sobre uma comovente vontade tão humana, a dor se apiede e, no fim as coisas se componham.