segunda-feira, 30 de setembro de 2013





Les doigts dans le nez
Juliette

Tu me dis, mon amour
Plus de vingt fois par jour
Que c’n’est pas élégant
Et très peu ragoutant.

Mais vois-tu, c’est ballot
Je n’suis pas comme il faut
Et j’peux pas m’empêcher
A longueur de journée
D’mettre mes doigts dans mon nez

J’ai malgré moi
Bien trop d’émois
A dénicher ces trésors
De poussière et d’or
Pour ne pas céder
aux voluptés
De mes doigts et de mon nez

Mon amour, je l’avoue
J’aime ce doigt de mystère
Ambigü, sans tabou,
Ce plaisir nécessaire
Doit rester une affaire
Solitaire
Autrement c’est vulgaire

Pour autant je l’fais pas
En secret dans le noir
Et l’on m’surprend parfois
Même si j’ai un mouchoir
Sur scène, à la télé,
Egarer
Quelque doigt dans mon nez !

J’ai malgré moi
Bien trop d’émois
A dénicher ces trésors
De poussière et d’or
Pour ne pas céder
aux voluptés
De mes doigts et de mon nez

Autant de poésie
Collée sous le clavier
Ou semée dans Paris
Je m’tire les vers du nez
Mon doigt trouve la rime
Féminine
Au fond de mes narines !

C’est la preuve agaçante
De mes facilités
Savante en dilettante
Vraiment décontractée
Maniant le subjonctif
L’air naïf
Et les doigts dans le pif

(Parlé)
Il eût fallu que j’eusse
Bien peu d’émois
A dénicher ces trésors
De poussière et d’or
Pour que je ne cédasse point
aux voluptés
De mes doigts et de mon nez

Mais j’arrête car je crains
D’être allée un peu loin
Que mon ode au mucus
Ne fasse pas consensus !

Lors cessons, mon amour
Ces querelles ces discours,
Pourquoi se disputer ?
On se noie dans un dé
Pour un doigt dans un nez…

A mulher de Cid (o herói)


Em que penso quando o aço duro e frio
abre à força por entre a carne o caminho?

Sinceramente não penso.

O que imagino que pensas tu disso
e do resto imaginado?

Sinceramente nada.

sábado, 28 de setembro de 2013

Listas. Compulsória Sontag (Susan)



                            Susan Sontag by Peter Hujar, gelatin silver print, 1975
                           
  • Tall
  • Low blood pressure
  • Need lots of sleep
  • Sudden craving for pure sugar (but dislike desserts — not a high enough concentration)
  • Intolerance for liquor
  • Heavy smoking
  • Tendency to anemia
  • Heavy protein craving
  • Asthma
  • Migraines
  • Very good stomach — no heartburn, constipation, etc.
  • Negligible menstrual cramps
  • Easily tired by standing
  • Like heights
  • Enjoy seeing deformed people (voyeuristic)
  • Nailbiting
  • Teeth grinding
  • Nearsighted, astigmatism
  • Frileuse (very sensitive to cold, like hot summers)
  • Not very sensitive to noise (high degree of selective auditory focus)


Things I like: fires, Venice, tequila, sunsets, babies, silent films, heights, coarse salt, top hats, large long-haired dogs, ship models, cinnamon, goose down quilts, pocket watches, the smell of newly mown grass, linen, Bach, Louis XIII furniture, sushi, microscopes, large rooms, ups, boots, drinking water, maple sugar candy. 

Things I dislike: sleeping in an apartment alone, cold weather, couples, football games, swimming, anchovies, mustaches, cats, umbrellas, being photographed, the taste of licorice, washing my hair (or having it washed), wearing a wristwatch, giving a lecture, cigars, writing letters, taking showers, Robert Frost, German food. 

Things I like: ivory, sweaters, architectural drawings, urinating, pizza (the Roman bread), staying in hotels, paper clips, the color blue, leather belts, making lists, Wagon-Lits, paying bills, caves, watching ice-skating, asking questions, taking taxis, Benin art, green apples, office furniture, Jews, eucalyptus trees, pen knives, aphorisms, hands. 

Things I dislike: Television, baked beans, hirsute men, paperback books, standing, card games, dirty or disorderly apartments, flat pillows, being in the sun, Ezra Pound, freckles, violence in movies, having drops put in my eyes, meatloaf, painted nails, suicide, licking envelopes, ketchup, traversins [“bolsters”], nose drops, Coca-Cola, alcoholics, taking photographs. 

Things I like: drums, carnations, socks, raw peas, chewing on sugar cane, bridges, Dürer, escalators, hot weather, sturgeon, tall people, deserts, white walls, horses, electric typewriters, cherries, wicker / rattan furniture, sitting cross-legged, stripes, large windows, fresh dill, reading aloud, going to bookstores, under-furnished rooms, dancing, Ariadne auf Naxos.


I perceive value, I confer value, I create value, I even create — or guarantee — existence. Hence, my compulsion to make “lists.” The things (Beethoven’s music, movies, business firms) won’t exist unless I signify my interest in them by at least noting down their names.

Nothing exists unless I maintain it (by my interest, or my potential interest). This is an ultimate, mostly subliminal anxiety. Hence, I must remain always, both in principle + actively, interested in everything. Taking all of knowledge as my province.

Sem comentários (“Where the myth fails, human love begins. Then we love a human being, not our dream, but a human being with flaws.”)


Anaïs Nin ilustrada por Debbie Millman 


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

a ler hoje e absolutamente


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O nobre (aristrocata) de Braga e o outro...

   




   Pego no jornal e leio algo que, apesar de fait-divers, me interessa pessoalmente. Um indivíduo e a sociedade. Dúplice ou eliminante. Ele, ela, talvez a vida e talvez por isso me cause esse estranho interesse pessoal.
    Quando a máscara se cola à cara como saber qual o (verdadeiro) rosto? Provavelmente a informe massa de carne viva, latejante, sangrenta, mas isso é uma ferida e não um rosto. Eis-nos perante uma situação de ilegalidade. A sociedade cria e executa mas, sobretudo pune os incumprimentos.
    Indivíduos que sentem / vivem integralmente o drama de não saberem quem são. Apanhados numa situação de dupla personalidade, vivem-na completamente (e o “espelho” confirma essa situação “paranóide”): já não são quem foram, mas essa “existência” passada impede-os de construirem uma nova, ficando, por assim dizer, prisioneiros do passado e castrados de futuro mas, sobretudo, atolados no presente. Seres invisíveis, fantasmas errando por cidades como esta, hoje e, parece-me, amanhã.
   Talvez o meu medo seja, a tão grande distância, também eu ser o que morreu e o que matou, e o meu mundo não o que sonho, com sons de pássaros, risos, palavras segredadas e tristezas suportáveis, mas aquele que impudicamente se expõe, de perna aberta e alma ausente, no papel pardo daquele jornal passado de mão em mão, destinado à lixeira dum incompreensível olimpo.

L'Oasis D'Aboukir (esquina da Rue D'Aboukir com a Rue des Petits Carreaux, Paris)

Obra de Patrick Blanc. Um milagre urbano feito com 7.500 plantas de 237 espécies




terça-feira, 10 de setembro de 2013

François Avril: (grande) descoberta do dia

 
 Quase premonitado, este encontro nem com hora ou dia marcado. Misteriosamente anunciado e, ainda assim, capaz de carregar o maravilhoso que toda a descoberta implica.
  Imagino que alguém considere este um universo (e não escrevi «mundo» de propósito) desumanizado... pergunto-me se não será esse reparo o resultado da visão antropocêntrica com que vamos, todos e e lentamente, cegando.
   Bem sei que entusiasmos assim não são partilháveis mas, contagiado pela elegância contida de F.Avril, peço que abram os olhos para o silêncio onde se projectam dramas e não-acontecimentos e, juntos, aproveitemos oportunidades como esta (cada vez mais raras) para estar aqui.



domingo, 8 de setembro de 2013

Wilde

«As pessoas realmente frívolas são as que só amam uma vez na vida. O que elas chamam lealdade ou fidelidade, chamo eu letargia do hábito ou falta de imaginação. A fidelidade representa na vida emocional o mesmo que a coerência na vida do intelecto, apenas uma confissão de impotência. A fidelidade! Tenho de a analisar um destes dias. Está intimamente associada à paixão da propriedade. Há muitas coisas que atiraríamos fora se não receássemos que outros as apanhassem.»

Oscar Wilde, "O Retrato de Dorian Gray", (Editorial Estampa, 1995)

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Monsieur Bovary

    Monsieur Bovary chegou e, como ultimamente se vem tornado hábito geral, enfiou-se nos lençois mentais, ao abrigo da escuridão e, oniricamente, debitou verdades (inteiras e desiguais metades ). Ao enterrar-se na almofada, a minha cabeça transforma-se numa espécie de Lisboa anos quarenta com os seus refugiados a perturbarem a pacata existência dos nativos. Descubro a desconhecida vocação de basbaque, tão (até agora) invisível, e, engasgado, tartamudo inconsequências, incapaz de gerir este albergue espanhol onde insolicitadas opiniões, ecos e rumores, generosos conselhos (na verdade bem venenosos...) e todo o tipo de gritaria opinativa polulam.
   E, assim,de manhã (na verdade cada vez mais tarde) limpo cinzeiros, procuro arejar o castelo, tento esquecer a doída cabeça e o corpo cansado. Por breves instantes, tento convencer-me que mais tarde ninguém aparecerá, forçando portas e impondo presenças. Evoco pássaros e afagos e, depois do café que não bebo, começo a preparar croquetes, a verificar gelos e confortos vários a que a absurda hospitalidade obriga. A única coisa que imagino faltar seria um ressuscitado Cunhal a evocar uma "Casa com paredes de vidro". «Estou perdido, ou em vias de extinção...» consolo-me vagamente, olhando o cigarro ou melhor, as volutas de fumo a comporem um inquieto auto-retrato.




"Quelle atroce invention que celle du bourgeois, n'est-ce pas?" (Gustave Flaubert)
 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Como um corvo sorvo o teu corpo.
A sua sombra suada ao entrar na noite
é indesejada sombra branca no sonho
onde cabe uma maldição sem nome.

Esse silêncio, chamei-o «memória»,
para não dar à morte imerecido ar de dignidade


Corvos



     Tohaku Hasegawa (1605)