sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
João Garcia de Guilhade (séc. XIII)
Cantiga de Amigo
Por muito tempo, ó amado
sei eu que me dedicastes
grande amor e que ficastes
muito feliz a meu lado.
falo do tempo passado:
já passou.
Os nossos grandes amores,
(longamente nos amámos !)
porque os não acabámos
como Brancaflor e Flores?
E o tempo dos amadores,
já passou.
Muitas coisas vos dizia,
ora louca, ora com sizo,
com multo e nenhum juízo,
enquanto durava o dia.
Mas, ai Dom João garcia,
já passou.
Porque essa loucura toda
já passou!
O alegre tempo da boda,
já passou.
Cantiga de Amor de Refrão
Quantos o amor faz padecer
penas que tenho padecido,
querem morrer e não duvido
que alegremente queiram morrer.
Porém enquanto vos puder ver,
vivendo assim eu quero estar
e esperar, e esperar.
Sei que a sofrer estou condenado
e por vós ceguem os olhos meus.
Não me acudis; nem vós, nem Deus.
mas, se sabendo-se abandonado,
ver-vos senhora, me for dado,
vivendo assim eu quero estar
e esperar, e esperar.
Esses que vêem tristemente
desamparada sua paixão,
querendo morrer, loucos estão.
Minha fortuna não é diferente;
porém eu digo constantemente:
vivendo assim eu quero estar
e esperar, e esperar.
in Natália Correia "Cantares dos Trovadores Galego Portugueses" (Ed.estampa, 1998)