quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Brassens (Portugal, 2012)
Le Roi
Noir Désir
Non certes, elle n'est pas bâtie,
Non certes, elle n'est pas bâtie
Sur du sable, sa dynastie,
Sur du sable, sa dynastie.
Il y a peu de chances qu'on
Détrône le roi des cons.
Il peut dormir, ce souverain,
Il peut dormir, ce souverain,
Sur ses deux oreilles, serein,
Sur ses deux oreilles, serein.
Il y a peu de chances qu'on
Détrône le roi des cons.
Je, tu, il, elle, nous, vous, ils,
Je, tu, il, elle, nous, vous, ils,
Tout le monde le suit, docile,
Tout le monde le suit, docile.
Il y a peu de chances qu'on
Détrône le roi des cons.
Il est possible, au demeurant,
Il est possible, au demeurant,
Qu'on déloge le shah d'Iran,
Qu'on déloge le shah d'Iran,
Mais il y a peu de chances qu'on
Détrône le roi des cons.
Qu'un jour on dise : "C'est fini",
Qu'un jour on dise : "C'est fini"
Au petit roi de Jordanie,
Au petit roi de Jordanie,
Mais il y a peu de chances qu'on
Détrône le roi des cons.
Qu'en Abyssinie on récuse,
Qu'en Abyssinie on récuse,
Le roi des rois, le bon Négus,
Le roi des rois, le bon Négus,
Mais il y a peu de chances qu'on
Détrône le roi des cons.
Que, sur un air de fandango,
Que, sur un air de fandango,
On congédie le vieux Franco,
On congédie le vieux Franco,
Mais il y a peu de chances qu'on
Détrône le roi des cons.
Que la couronne d'Angleterre,
Que la couronne d'Angleterre,
Ce soir, demain, roule par terre,
Ce soir, demain, roule par terre,
Mais il y a peu de chances qu'on
Détrône le roi des cons.
Que, ça c'est vu dans le passé,
Que, ça c'est vu dans le passé,
Marianne soit renversée
Marianne soit renversée
Mais il y a peu de chances qu'on
Détrône le roi des cons.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
T.S. Eliot. (Read by Anthony Hopkins). Noblesse Oblige: obrigado Patrícia
The Love-Song of J. Alfred Prufrock
terça-feira, 16 de outubro de 2012
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Anno Domini - prosa líquida (e porque não?) ou só lenga-lenga
amor discreto
suave afecto
olhar directo
discurso aberto...
nas horas que são (e no tempo que nada é)
fica assim apenas um areal, nem de grãos
feito, nem de paraísos prometidos.
mais que realidades, possibilidades.
pois não há anjos prováveis
nem enredos e, menos ainda, sussurrações.
(bebido, liquidamente nú
frente ao espelho, à espera da resposta
que não há, nem é suposto haver.)
como quando se fica, assim,
com um afecto ladainhento,
cadenciado e latejado...
condenado a ser só sim:
«amor discreto
suave afecto
olhar directo
discurso aberto...»
se este (o discurso) tem rosto?
tem!
se se dele vem ou vai voz?
não sei!
propósito não terá
como um alfabeto
que comece no zê
e acabe no a
que me incompletas e inacabas,
que me misteriosas e impulsionas,
que me dóis e me apaziguas?
oh paradoxo da carne
e do que sobra dela...
humilérrimo e vexado
confesso um afirmativo pecado,
logo seguido dum esquecimento.
que recusantemente calo:
dá-me a a boca, dá-me a mão.
P.S. - nunca 'screvas
(nem pessoal e, menos ainda,
pessoentamente...)
às três e tal
(caramba já são 4)
Também Eu
Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
.
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
.
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
.
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Ámen*.
Natália Correia "Ó Véspera do Prodígio - IV"
* A palavra hebraica que indica uma afirmação ou adesão às vezes matizada de desejo. Pode traduzir-se em português, pelas expressões "assim seja", "verdadeiramente" etc
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
.
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
.
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
.
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Ámen*.
Natália Correia "Ó Véspera do Prodígio - IV"
* A palavra hebraica que indica uma afirmação ou adesão às vezes matizada de desejo. Pode traduzir-se em português, pelas expressões "assim seja", "verdadeiramente" etc
Big Brother com pezinhos de lã
Whether you like it or not, the Obama
and Romney campaigns have been using cookies and data miners to track
what you're up to on the web. You know when those phone jockeys from Obama for America or Romney for President
catch you at home working on your fantasy football team? Chances are
they probably know all about your fantasy football habits and your
voting record and your friends and your porn habits. This is the
hyperconnected 21st-century, after all. Even your political machine can
be personalized.
The New York Times offered a
somewhat chilling peek inside the data science that's at the core of
both the Romney and Obama campaigns on Sunday. In truth, what the presidential campaigns
are doing isn't much different than what companies like Target and
Capital One have been doing for years. When you visit their site, they
drop a little cookie into your browser that follows you around the web
and reports back on what you've been up to. According to The Times,
these cookies can tell if you're looking at religious sites and then
when you go back to the campaign site, it can green you with a religious
message. The data gets even more detailed than that:
The practice of data mining isn't a complete mystery. Mother Jones published a feature about Obama's data team and the use of tracking cookies that corroborates a lot the claims in the Times report. In fact, according to Mother Jones reporter Tim Murphy, it was the Obama campaign that blazed the trail on tracking voters, and Romney hustled to put a data team together after he won the primary.Officials at both campaigns say the most insightful data remains the basics: a voter's party affiliation, voting history, basic information like age and race, and preferences gleaned from one-on-one conversations with volunteers. But more subtle data mining has helped the Obama campaign learn that their supporters often eat at Red Lobster, shop at Burlington Coat Factory and listen to smooth jazz. Romney backers are more likely to drink Samuel Adams beer, eat at Olive Garden and watch college football.
Both reports are worth reading in full if you're curious about why the Romney campaign
volunteer you talked to on the phone last night knew your dead cat
Vincent's life story. Of course, both campaigns swear that they're
respecting people's privacy. "You don't want your analytical efforts to
be obvious because voters get creeped out," a Romney campaign official
told The Times. "A lot of what we're doing is behind the scenes."
Adam Clark Estes "The Atlantic Wire", in Yahoo News
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Outonal (brevíssima)
O que levo comigo
para a cama deste dia
são sussurros, são quase nadas
nevoeiros líquidos , cogumelos
num relvado, a fraternidade silenciosa
sob um manto de folhas dos plátanos
que balizam aquele
que agora é o meu caminho.
Duas recusas, duas,
mais uma ausência...
e no entanto, a paz alada.
Oxalá não me firam as estrelas
terça-feira, 9 de outubro de 2012
domingo, 7 de outubro de 2012
sábado, 6 de outubro de 2012
Presciência semântica
O menino devia ter presente o que sabe, evitando os arregalos de olhos e esbugalhos anímicos, não se aborrecendo nem com isso nos maçar, enfim: não nos pôr a todos a chapinhar no alguidar dos seus estados de alma.
Em vez disso o que é que faz? Abanca no penico, todo rei (e absoluto !), conseguindo ainda supor o mundo parado ou suspenso do magestático cócó. Ora, tenha a santa paciência...
Em vez de o utilizar para apontar presunções alheias, meta mas é esse roliço indicador na real narina e deixe o resto da humanidade (sim, os plebeus, esses mesmo) a abafar nas suas pequeninas existências.
"Sex & Drugs & Protest Songs", achou gracinha não achou? ... Graças que o Praça tem! Pois agora amanhe-se. 'stá careca de saber em que dá o cómico (mais ou menos, o que acontece à merda quando atinge a ventoínha). Olhe... se o consola: podia ser muito pior...
Camarada-Rei, ria-se connosco, tinga a alma de tinto, finja que lá fora não há. Taberne e atasque nesta tasca para, depois, ressacado mas ressarcido, seguir viagem rumo à próxima tempestade de humor divino e cuide de fraternamente ter, como tem tido, corpos para abraçar, bocas para beijar, e o mais que calo porque, aqui ao lado, o abade (já borracho) não pára quieto com o cotovelo, a aquietar-me febres e a cuidar da salvação da alma.
Porra, a pachorra que nós, povo, temos que ter convosco...
Em vez disso o que é que faz? Abanca no penico, todo rei (e absoluto !), conseguindo ainda supor o mundo parado ou suspenso do magestático cócó. Ora, tenha a santa paciência...
Em vez de o utilizar para apontar presunções alheias, meta mas é esse roliço indicador na real narina e deixe o resto da humanidade (sim, os plebeus, esses mesmo) a abafar nas suas pequeninas existências.
"Sex & Drugs & Protest Songs", achou gracinha não achou? ... Graças que o Praça tem! Pois agora amanhe-se. 'stá careca de saber em que dá o cómico (mais ou menos, o que acontece à merda quando atinge a ventoínha). Olhe... se o consola: podia ser muito pior...
Camarada-Rei, ria-se connosco, tinga a alma de tinto, finja que lá fora não há. Taberne e atasque nesta tasca para, depois, ressacado mas ressarcido, seguir viagem rumo à próxima tempestade de humor divino e cuide de fraternamente ter, como tem tido, corpos para abraçar, bocas para beijar, e o mais que calo porque, aqui ao lado, o abade (já borracho) não pára quieto com o cotovelo, a aquietar-me febres e a cuidar da salvação da alma.
Porra, a pachorra que nós, povo, temos que ter convosco...
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Mais Campos
Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).
Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
Às normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lágrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.
Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se há uma razão exterior a ela?
Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.
Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.
Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão
Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.
Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).
Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
Às normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lágrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.
Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se há uma razão exterior a ela?
Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.
Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.
Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão
Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.
Bicarbonato de Sódio
Bicarbonato de Soda
Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!
Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na
circulação do sangue?
Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?
Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir ...
Meu Deus! Que budismo me esfria no sangue!
Renunciar de portas todas abertas,
Perante a paisagem todas as paisagens,
Sem esperança, em liberdade,
Sem nexo,
Acidente da inconseqüência da superfície das coisas,
Monótono mas dorminhoco,
E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
Que verão agradável dos outros!
Dêem-me de beber, que não tenho sede!
Álvaro de Campos, in "Poemas"
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
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