quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

- «Vai ver que não dói nada» ...



... e nunca acreditava. E doía invariavelmente. Preferível e reconfortante a dor do «olhe que é capaz de doer um bocadinho». Com a memória é a mesma coisa. E se é verdade que como nos diz o verso «não nos esquecemos de nada, de nada mesmo; habituamo-nos, e é tudo», fica-se sempre pasmo com o pasmo que se sente ao reviver a dor intensa da memória. Mesmo que venha diluída na seringa do sonho, indetectável à vista, mas sempre áspera ao correr nas veias.
   E com uma resignação de velho, pensa-se: «isto é capaz de não ter cura...». Acende-se um cigarro, olha-se o rosto que o espelho nos devolve, desata-se a sorrir descontroladamente e sai-se para o dia claro sabendo que a multidão nos vai fazer esquecer de nós.

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