sexta-feira, 5 de março de 2010

Eunice de Souza (India)

Autobiográfico

Pronto, aí vai.
Matei o meu pai quando tinha três anos.
Envolvi-me em romances vários
e sempre me sí mal.
Não aprendi quase nada com a experiência.
Caminho para o abismo com uma
monótona regularidade.

Os meus inimigos dizem-me que sou crítica porque
de facto torço-me de inveja
e preciso de me casar seja como for.
Os meus amigos dizem que não sou
totalmente desprovida de talento.

im, tentei o suicídio.
Arrumei as roupas mas
não deixei bilhetes. Surpreendeu-me
acordar na manhã seguinte.

Um dia a minha alma
deteve-se fora de mim
a ver-me contorcer
em esgares e balbucios
a pele apertada
sobre os meus ossos.

Pensava que o mundo inteiro
me tentava desfazer
cortar-me, penetrar-me
com uma lâmina de barbear.

Então descobri
um cliché: era isso que eu queria
fazer ao mundo.

in "Poemas Escolhidos" (trad. Ana Luisa Amaral)
Cotovia/ Fund.Oriente (2001)

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