terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Sem remorsos (M.R.L.)





Eu que tão pouco sei 
ou mesmo quase nada, 
que à custa de porfiado e incansável esforço 
(característico do verdadeiro “homem sem qualidades”) 
ainda acaba num vertiginoso quase zero,

fiquei hoje sabedor,
(por via de um desses enredos que a vida arranja 
mas a literatura não aproveita, 
temente da acusação de traição ao verosímil
ou ao uso meridional, que é como quem diz imoderado 
da lágrima falsa ou só fácil,  
tinta aguada e o obrigatório papel patogénico…)

Fiquei pois sabedor, só eu e uns milhões,
haver, algures no mundo, afinidade muito particular, 
e um profundo entendimento intelectual.
Mais: que o homem que conheci
é muito interessante na maneira de vestir, 
e na maneira arrojada de ser.

e agora que o conhecimento banhou de luz
a antiga ignorância feita doutro saber
ficou só este desamparo sem nome,
sem palavras nem calor…

há quem maldiga a memória, como há quem tatue
instantes, dando-lhes vida eterna, ou sombra à sua medida
e, no entanto, na boca seca ou no mundo
vislumbrado através da linha fina com que
interrogo a terra e o mundo
pergunto o que será…

…muito ou tão importante na vida pessoal e profissional de mr. Goucha.

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