sábado, 27 de junho de 2015

Um Motel esquecido e, nas areias poeirentas,


Aqui você pode esperar. Pode descansar ou até mesmo morrer. 

Temos cadeiras maravilhosas, uma cama tão especial 
quanto a vista, água corrente, fria e quente. 
Se sentir frio ao olhar as nuvens ausentes do deserto,
insira uma moeda e sonhe com a mais mais incrível mulher 
que sabe nunca iria encontrar na sua vidinha,  pequena e sem sentido. 

Esperamos que a aproveite a estadia no motel, 
Por favor, deixe o Santo Livro onde o encontrou, 
mas sinta-se livre para fazer uso das suas palavras. 
...Esperemos que encontre o seu caminho.

Gostaríamos de lembrá-lo que se  decidir 
segui-lo sem o peso duma arma 
pode deixar a sua, na recepção do hotel. 
Não se fazem perguntas.


...perdido, sonhado ou sumido?



You can wait. You can rest or even die. 

  
We have wonderful chairs, a special bed and if you feel cold
when when look at the clouds above the desert, 
then insert a coin and dream of the most incredible
woman you would never find in your little and meaningless life. 

We hope you enjoy your stay at this
motel, Please leave the Holly Book were you found it, 
but,please, feel free to use his words. Hope you find
your way. 
We remind you that if you deeecide to go your way 
without the weight of your gun, please, leave it at
the front desk. No questions made.

terça-feira, 23 de junho de 2015

A modos de desculpas



    Com os cuidados ao mano mais novo, mais os cuidados à gata resgatada (ou regateada) ao «já vais embora», tem faltado tempo e cuidados a esta sombra de blog. E assim continuará por uns tempos, calculo.

   À laia de paliativos cuidados à má consciência que não me larga, deixo uma brevíssima homenagem a um escritor que nunca deixou de me emocionar literariamente (talvez com excepção do já esquecido "O Livro Grande de Tebas, Navio e Mariana" e mesmo esse, por razões minhas, que o leitor também tem direito a voto e a veto).






A Porrada

— • —

Mário de Carvalho


     — Olhe, para ser franca, podia usar o espelho do quarto de vestir e deixar-me mais espaço, está bem? Mas que é que você traz posto? Vai jantar assim?
     Gonçalo murmurava qualquer coisa, cantarolando, sem lhe dar qualquer atenção. Estava a experimentar um blusão azul-marinho. No bolso de dentro, do lado esquerdo, um objecto tumefacto fazia descair ligeiramente o ombro.
     — Ouviu?
     Suspirou cavo, antes de responder:
     — Há que séculos ando a explicar que deves tratar-me por tu. É assim cá em casa, entre marido e mulher.
     — Mas, Gonçalo, meu querido, não dá jeito nenhum.
     — Então amocha. A minha família é mais antiga que a tua. Não somos “parvenus” do Pombal, como vocês. Vimos dos Visigodos.
     — Ach, welche Anmassend!
     — Parece mesmo parva. A exibir-se. Mostro o meu anel?
     Mas, enfim, Gonçalo lá foi pondo um blaser pelos ombros para o jantar. Carregou-lhe no vinho. Mafalda bem olhou rigidamente para o empregado, dardejando proibições. Mas o hirto Salema não podia contrariar o patrão quando ele lhe estendia o copo ou piparotava o vidro, de unha incomodada.
     — Ó Salema, saia lá por um bocadinho.
     — Sai nada!
     — Só um instante. Tenho de dizer uma coisa ao senhor.
     Enfado, enfado, mas quem é que tinha posto aquilo na parede? Era uma praia ou lá o que era?
     — Não é do quadro que eu lhe quero falar, Gonçalo. Sei lá quem pôs? A sua mãe, talvez. Estou muito preocupada é consigo.
     — Salema!
     — Não, espere. Estive a pensar… porque é que você não compra um cavalo e faz um bocado de tourada como toda a gente? Ou vai para o grupo de forcados?
     — Mas tu queres pôr-me a levar cornadas, aos trinta e cinco anos?
     — Sempre era outra dignidade…
     — Digno era fazer voluntariado como as outras e levar embrulhos aos necessitados. Pensas que eu não sei como ocupas o teu tempo?
     — Gonçalo, não lhe admito!
     — E esse gaiato do ténis, ou lá o que é, o seu amiguinho, baixe os olhos quando eu passar ou ainda leva uma berlaitada que lhe desatarraxo o gorgomilo.
     — Como é que você pode pensar…
     — “Tu”! É “tu” que se diz cá na família… Desde sempre! E limpa os olhos ao guardanapo que esse rímel é descafeinado. Pronto, o tête-à-tête já deu o que tinha a dar. Salema!
     O resto do jantar decorreu em silêncio. Ligeiro rumor de vidros e roçago de metal em travessas.
     Já Gonçalo tinha o blusão vestido quando Mafalda o interceptou no corredor de cima.
     — Gonçalo, veja lá, ao menos deixe que o Salema o leve de carro.
     — Qual Salema nem meio Salema.
     — Mas fico tão preocupada.
     — Ó querida, reza. Não carregaste o oratório da bisavó cá para casa? Aquela porcaria de pau-preto que até assusta a mobília? Põe-te a rezar, pode ser que o Céu se alegre…
     Antes das escadas ainda voltou para trás. Ela pasmada.
     — E nada de telefonemas, nem nervoseiras. Dá-me o teu telemóvel.
     — Ai isso é que não dou.
     — Bom, não quero telefonemas, hem? Hoje é a primeira Quinta-Feira do mês. Para mim, já sabes, noite sagrada.
     Relance para o relógio.
     Daí a nada, ao portão, parava um Laguna, pardo, da cor da noite e dos 
gatos, meio gatos, meio escondido pelas cedros.
     — Que é da merda do Porsche?
     Gonçalo instalava-se no lugar do morto.
     — Da outra vez riscaram-mo todo. Este é o carro da minha mulher, onde a Miss leva os putos de manhã. Se o riscarem, que se lixe.
     — Já viu?
     Gonçalo tirou do bolso do blusão um objecto escuro, maleável, que parecia uma beringela alongada com um laço na ponta:
     — Não mata, mas elimina.
     — A esposa — respondeu o outro — escondeu-me a soqueira. Venho de mãos a abanar.
     — Há sempre cadeiras à mão.
     — O pior são as navalhas. As criaturas atiram ao nível da cintura e a coisa mal se vê.
     — Costas com costas, pá. Tomar sempre a iniciativa.
     Pausa. A monotonia de sombras de árvores a deslizar. Disse o do volante:
     — O Inglês telefonou. Quer três por cento.
     — Mande-o lamber sabão. Amanhã a gente fala. E acalque-me nesse prego, homem.
     Primeiro os néons num acelerar de vermelhos, depois as portadas cheias de nervuras plásticas, os acrílicos, e os calmeirões da segurança.
     — O aparelho não acusa nada, pois não? Arreda para lá a mãozinha.
     Umas galdérias dançavam na pista, uns gajos mortiços em volta, tudo muito possidónio e enjoativo.
     — É cedo — disse o amigo.
     — A minha garrafa! — Pediu Gonçalo ao balcão. Instintivamente, virou a garrafa de Blue Label antes de lhe sacar a rolha. O nível estava na marca. Não dava pretexto. Ficaram os dois ali, a olhar, num bocejo.
     Lá ao longe um dos matulões da segurança, de cabelo rapado e botas de tropa, cruzava os braços sobre os peitorais inchados, numa impassibilidade bojuda. Apareceu outro por uma porta que dizia “Exit”.
     — Estão aí os viscondes — rosnou ele, para o lado — Olhómetro!
     — Puta de vida — disse o segurança dos peitorais saídos.
     Às quatro da manhã, Gonçalo gatinhava pelas escadas, mas a carpete desprendia-se e quanto mais ele gatinhava mais descia. Em vez de se zangar ria, ria desmedidamente, entre o sentado e o estendido, picotando o ar de casquinadas finas que imbricavam umas nas outras.
     — Gonçalo, credo, você vai sujar a cama toda de sangue.
     Mafalda tentou segurá-lo por um braço, mas só conseguiu rasgar-lhe mais a camisa. Vinha sem blusão, todo desfraldado. Trazia um pé descalço, a peúga pendente.
     — Uma ambulância, o caraças. Uma ambulância o caraças. — Era ele num garganteio de coro alentejano.
     Quando Salema apareceu, de roupão, levaram-no em braços para a casa de banho. Em cima do banco, o amontoado de roupas empastadas deixava livores encarnados por todo o lado. A água do chuveiro cachoava pelo corpo agachado no antiderrapante, dissolvia emplastros de sangue, varria feridas, espiralava no ralo, em revoadas escurecidas.
     Gonçalo continuava a rir em casquinada. Só interrompia o riso de vez em quando, para um rosnido fugaz, tributo à dor. Mafalda quis saber:
     —Você não terá alguma coisa partida? Um braço, ou assim?
     — As minhas ricas quintas-feiras. As quintas-feiras da porrada. Quem mas tira, tira-me tudo.
     E ria e cantarolava. Também gemia, de vez em quando. A voz saía-lhe empastelada do álcool e dos lábios pisados.


(Este texto foi escrito de acordo com a antiga ortografia)


.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Ideias negras


     Devemos considerar o preto como uma cor, a ausência de cor ou a suspensão da visão provocada pela privação de luz?

     (Na) ciência, (na) arte e (na)psicologia. Uma temática cuja história tem muito que se diga, embora nem sempre se veja...


Robert Fludd’s black square representing the nothingness that was prior to the universe, from hisUtriusque Cosmi (1617) 


                                                                  Kazimir Malevich’s Black Square (1915)


     The black page in Lawrence Sterne’s The Life and Opinions of Tristam Shandy, Gentleman, which first appeared in 1759 


                                          Light flowing forth from the blackness, from Fludd’s Utriusque Cosmi (1617)


sexta-feira, 12 de junho de 2015

Certo e Errado, tão triste sorriso



... que perplexo me interrogo, com que ligeireza ortopédica se colam assim sentimententos, ou o que num breve nada, sensíveis cospinhamos nesse arrepio...

fotografia de Brassai (livro "Paris", 1960)


... inexplicavelmente retirando ou apondo dermes. Olho-te... comprometido confirmo que dormes e eu sonho.




02 I Want to Vanish


Andy Sheppard Quartet - "Surrounded By Sea" (2015)


domingo, 7 de junho de 2015

Domingo, provavelmente

 












Edouard Manet - Dead Matador

Mesmo que à distância tudo pareça reduzido a decibeis, boas vontades, (e p'ra cuspir de uma vez só
duas das mais abomináveis palavras que esta língua tem - de grafar, de dizer e de pensar) purezas  e inocências, tempos houve em que a todos  parecia possível e natural ACREDITAR.






   Se a hiperactividade, o bom (e fidelíssimo) doutor, o violino e a cocaína produzissem o habitual, (em semelhantes circunstâncias) vendaval em  Baker Street, 221 B, na bipolar Londres *, sede de Império a sério, muito dada a convivências classe e lama, arrastando Mrs Hudson na deliciosa quebra de rotina vitoriana, a que se rende perante uns débeis protestos (de bom tom, embora não cheguem para embaciarem o brilho daquele olhar bem comportado).
   Eis-me zonzado (para não dizer mais forte) porque desta salada pelintra, claro que não convidado para o lanche da alarvidade e  futebóis, ou no que seja que se pontapeia nestes dias que correm, resultou uma espécie de cadáver esquisito ( e não o são todos, já não habitados pelo sr do 4º, ou daquela senhora que dava o caso de ser muito minha, tia.
   Se estranho o resultado (o nosso senhor lapin, e este  Macgiver de trazer por casa e que lendo a biografia autorizada de Sir Winston Churchill, percebendo-a mal, não a percebeu de todo. Como se não bastasse decidiu encarnar. Entre banhos de imersão, excessos de ordem vária, cheira-me que o ombro de Mrs. Hudson ainda há-de ser de enorme valia... É o que dá nascermos nascer num país chamado Entroncamento.
   Ficamos sem saber, (por ora... que método científico e lógica dedutiva tudo resolvem, excepto, dizem as línguas verrinosas, camas e altares) qual dos meus du-pounds é afinal, mais chazeiro e nostálgico de grandeza como deve ser grandeza que se veja.
   Espreguiçando-me meridionalmente, resta-me ir preparando o post em cuja temática tropecei (inutilidades e disparates deviam estar proibidos de sair da coelheira):

   «Quanto à questão da língua, esta é uma forma particular de linguagem, um "sistema de signos vocais, que podem ser transcritos graficamente, comum a um povo, a uma nação, a uma cultura e que constitui o seu instrumento de comunicação", segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (A. A. V. V. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. Academia das Ciências de Lisboa e Ed. Verbo, 2001). Bom, perguntam-me agora, e o que é um signo?
   O signo está ligado ao referente, que é o objecto real (ou uma realidade abstracta) a que o signo se refere, e é o nome que se dá ao conjunto do significante, uma sequência de sons e forma gráfica, e do significado, uma ideia ou conceito. Complicado? Vamos ver um exemplo: o signo "árvore" é constituido pela palavra escrita "árvore" e pelo conceito de árvore (uma planta com um tronco e ramos grossos castanhos coberta por um número incontável de folhas verdes), sendo que qualquer pessoa poderá apontar uma árvore (objecto físico e real) como referente. Se conhecer o seu significado! Senão não terá qualquer significado e não representará nada. Será como ler "wgtafga"...


Como vêm promete, fica o tira teimas, embora considerando os personagens em questão, talvez seja mais um tira tusas. Tudo por um bom naco de prosa conventual e tristeza a condizer (ainda me hão-de esclarecer qual a unidade de medida,  mas enfim...)

"Poetry" 
  • 1971 Ouch!
  • 1973 London Lickpenny
  • 1987 The Diversions of Purley and Other Poems

, "Fiction" 
  • 1982 The Great Fire of London
  • 1983 The Last Testament of Oscar Wilde
  • 1985 Hawksmoor
  • 1987 Chatterton
  • 1989 First Light
  • 1992 English Music
  • 1993 The House of Doctor Dee
  • 1994 Dan Leno and the Limehouse Golem (also published as The Trial of Elizabeth Cree)
  • 1996 Milton in America
  • 1999 The Plato Papers
  • 2000 The Mystery of Charles Dickens
  • 2003 The Clerkenwell Tales
  • 2004 The Lambs of London
  • 2006 The Fall of Troy
  • 2008 The Casebook of Victor Frankenstein
  • 2009 The Canterbury Tales – A Retelling
  • 2010 The Death of King Arthur: The Immortal Legend - A Retelling
  • 2013 Three Brothers

,  "Non Fiction" 
  • 1976 Notes for a New Culture: An Essay on Modernism
  • 1978 Country Life
  • 1979 Dressing Up: Transvestism and Drag, the History of an Obsession
  • 1980 Ezra Pound and His World
  • 1984 T. S. Eliot
  • 1987 Dickens' London: An Imaginative Vision
  • 1989 Ezra Pound and his World (1989)
  • 1990 Dickens
  • 1991 Introduction to Dickens
  • 1995 Blake
  • 1998 The Life of Thomas More
  • 2000 London: The Biography
  • 2001 The Collection: Journalism, Reviews, Essays, Short Stories, Lectures
  • 2002 Dickens: Public Life and Private Passion
  • 2002 Albion: The Origins of the English Imagination
  • 2003 The Beginning
  • 2003 Illustrated London
  • 2004 Escape From Earth
  • 2004 Ancient Egypt
  • 2004 Chaucer
  • 2004 Shakespeare: A Biography
  • 2005 Ancient Greece
  • 2005 Ancient Rome
  • 2005 Turner
  • 2007 Thames: Sacred River
  • 2008 Coffee with Dickens (with Paul Schlicke)
  • 2008 Newton
  • 2008 Poe: A Life Cut Short
  • 2009 Venice: Pure City
  • 2010 The English Ghost
  • 2011 London Under
  • 2011 The History of England, v.1 Foundation
  • 2012 Wilkie Collins
  • 2012 The History of England, v.2 Tudors
  • 2014 The History of England, v.3 Civil War
  • 2015 Alfred Hitchcock

(, deixando de fora a "Television" e as (caramba que «tudo o que é demais é moléstia...) "Honours and awards"), não choraminguem que já vão muito bem servidosQ!

terça-feira, 2 de junho de 2015

Squirrel Nut Zippers – Hell,Heil Hell

     Duplo, triplo e por aí incontestáveis múltiplos sentidos





In the afterlife
You could be headed for the serious strife
Now you make the scene all day
But tomorrow there'll be Hell to pay

People listen attentively
I mean about future calamity
I used to think the idea was obsolete
Until I heard the old man stamping his feet.

This is a place where eternally
Fire is applied to the body
Teeth are extruded and bones are ground
Then baked into cakes which are passed around.

Beauty, talent, fame, money, refinement
Top skill and brain
But all the things you try to hide
Will be revealed on the other side.

Now the D and the A and the M
And the N and the A
And the T and the I-O-N
Lose your face, lose your name
Then get fitted for a suit of flame