quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Pum, Pum, Pum

Necrológio dos Desiludidos do Amor

 
Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.

Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia...

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Brejo das Almas'

2 comentários:

  1. Visão prazeroza neste espaço, visões como aqui está realção a quem aparecer neste espaço .....
    Escreve muito mais deste espaço, a todos os teus seguidores.

    ResponderEliminar
  2. Postagem palpitante neste sítio, reflexôes assim realção ao indivíduo que ler neste espaço :)
    Dá mair quantidade de este blog, aos teus leitores.

    ResponderEliminar