segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

...mas afinal do que é que nos queixamos?

   
   Nem de propósito a origem etimológica (ramo grego) da palavra "felicidade"  é PHYO “produzir” (conot. “fecundo, produtivo”). Já se sente a má-consciência justificativa do Hommo Faber. Provavelmente teríamos de retroceder até à "invenção" da agricultura e da pecuária, por um lado e, por outro, à da linguagem e em que a para chegarmos ao momento em que o Homem se perde a si próprio. É nessa autêntica revolução ontológica em que o ser humano passando da constatação à interrogação, aciona um mecanismo de auto-destruição, imparável. É nesse momento que o Homem, como o entendemos hoje, (como somos) nasce verdadeiramente. A Gestação (o período em que existimos mas ainda não somos)fica-nos a inacessível memória que perdurará em nós como Inconsciente Colectivo, cerrada e intransponível floresta, donde expulsos traremos os sonhos, perecíveis e contamináveis pela História) mas sobretudo os mitos. A terra não nos fornece paisagem equivalentes ao Paraíso (incompleto)


quarta-feira, 31 de maio de 2017

Regresso ou "Fake News à Moda da Casa"






Têm tido uma reacção de entusiasmo transbordante os rumores que dão conta do eminente regresso do Sex&Drugs&Protest Songs. Também nós, por momentos, abandonámos a prudente e sábia postura e aderimos à unânime e colectiva onda maníaca. Note-se, no gato do lado direito da imagem, a inconfundível expressão facial que antecede a depressão certa.

sábado, 4 de março de 2017

Geografia e Gargalhadas Sentimentais (aqui ninguém morre...)


   Regresso ressuscitado da cidade onde me conceberam e me pari. Onde, é verdade, fui morrendo em dias iguais, mas vivi, soberbo e animal, nos outros tantos, os especiais. Cidade onde vivi. Cidade donde, vivendo, tantas vezes fugi. Onde voltei. Sempre. Mas, sobretudo, cidade onde amei.

   Talvez por isso, eu, eterno amnésico de nomes e números, me lembrei deste Drummond. Porque com ele me rio de mim. Porque nele cabemos muitos. Pouco solene (pensarão alguns sisudos militantes), homenageio assim o amor, que sendo sério e calado, por vezes triste,às vezes mais, sabe rir tão completamente que quase parece ter inventado o riso. Agradeço a Fernanda, que aqui dá a cara, só para que os sisudos júniores, consigam imaginar a "coisa" feita gente. Mulher no caso

   Por fim ("Pum pum pum adeus, enjoad(os)", se morrem os desiludidos do amor, vamos vivendo nós os outros, os "iludidos do amor". Rindo "com" e não "de". Mas rindo, até porque se há duas coisas que se fazem "perdidamente", são rir... e amar.




Necrológio dos desiludidos do amor

Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles


"dito" by Fernanda Torres


sábado, 26 de março de 2016

Páscoa ?



O seu pai era duas pessoas —

Um velho chamado José, que era carpinteiro,

E que não era pai dele;

E o outro pai era uma pomba estúpida,

A única pomba feia do mundo

Porque não era do mundo nem era pomba.

E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.

Alberto Caeiro

quinta-feira, 17 de março de 2016