quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Arnaldo Antunes
Eu Não Sou Da Sua Rua
Eu não sou da sua rua,
Eu não sou o seu vizinho,
Eu moro muito longe, sozinho.
Estou aqui de passagem.
Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua.
Estou aqui de passagem.
Esse mundo não é meu,
Esse mundo não é seu.
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músicas
sem o coronel, este quartel não é a mesma coisa
A Explosão da Imagem
Há muitos anos numa feira de loiça,
rosa ramalho deu-me um dos seus bonecos
de barro, e contou-me nesse dia a uma amiga
que me acompanhava uma história qualquer
de discussão e zanga: -- e sabe o que eu lhes disse,
menina ? um "caralhinho !" a frase foi
sublinhada com um manguito engelhado
e um riso divertido de barcelos.
passou muito tempo, mas lembro-me, rosa
ramalho recomendou-me que metesse
o boneco de barro cru, modelado de fresco,
no forno na cozinha, assim fiz e aquelas
formas húmidas explodiram pouco
depois, "-- o boneco
foi pró boneco" repetiam a rir-se
outras pessoas, pequeno monstro
mágico, das suas metamorfoses
ingénuas, fez-se pó, é o destino dos monstros
populares e dos outros, no
barro de que são feitos, a
minha amiga casou e mudou de cidade,
já passou mesmo muito tempo.
eu fui à minha vida, entretanto a rosa
ramalho morreu. tenho a certeza
de que ainda discute exclamando
" -- sabe que mais? -- um caralhinho !"
e que sabia o que ia acontecer
quando me disse que o boneco tinha
de ir ao forno. quem faz, desfaz.
Vasco Graça Moura, in "Poemas com Pessoas"
Há muitos anos numa feira de loiça,
rosa ramalho deu-me um dos seus bonecos
de barro, e contou-me nesse dia a uma amiga
que me acompanhava uma história qualquer
de discussão e zanga: -- e sabe o que eu lhes disse,
menina ? um "caralhinho !" a frase foi
sublinhada com um manguito engelhado
e um riso divertido de barcelos.
passou muito tempo, mas lembro-me, rosa
ramalho recomendou-me que metesse
o boneco de barro cru, modelado de fresco,
no forno na cozinha, assim fiz e aquelas
formas húmidas explodiram pouco
depois, "-- o boneco
foi pró boneco" repetiam a rir-se
outras pessoas, pequeno monstro
mágico, das suas metamorfoses
ingénuas, fez-se pó, é o destino dos monstros
populares e dos outros, no
barro de que são feitos, a
minha amiga casou e mudou de cidade,
já passou mesmo muito tempo.
eu fui à minha vida, entretanto a rosa
ramalho morreu. tenho a certeza
de que ainda discute exclamando
" -- sabe que mais? -- um caralhinho !"
e que sabia o que ia acontecer
quando me disse que o boneco tinha
de ir ao forno. quem faz, desfaz.
Vasco Graça Moura, in "Poemas com Pessoas"
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
terça-feira, 26 de outubro de 2010
(minha) Liberdade
Sábado entre o lixo da Vandoma, a neblina ensolarada à Porto e o Douro em baixo. Compro um livro . Entalado (ou seria aconchegado ?) nas suas páginas encontro este Moustaki. Pareceu-me bem.
Ma liberté
Longtemps je t'ai gardée
Comme une perle rare
Ma liberté
C'est toi qui m'as aidé
A larguer les amarres
Pour aller n'importe où
Pour aller jusqu'au bout
Des chemins de fortune
Pour cueillir en rêvant
Une rose des vents
Sur un rayon de lune
Ma liberté
Devant tes volontés
Mon âme était soumise
Ma liberté
Je t'avais tout donné
Ma dernière chemise
Et combien j'ai souffert
Pour pouvoir satisfaire
Tes moindres exigences
J'ai changé de pays
J'ai perdu mes amis
Pour gagner ta confiance
Ma liberté
Tu as su désarmer
Toutes mes habitudes
Ma liberté
Toi qui m'as fait aimer
Même la solitude
Toi qui m'as fait sourire
Quand je voyais finir
Une belle aventure
Toi qui m'as protégé
Quand j'allais me cacher
Pour soigner mes blessures
Ma liberté
Pourtant je t'ai quittée
Une nuit de décembre
J'ai déserté
Les chemins écartés
Que nous suivions ensemble
Lorsque sans me méfier
Les pieds et poings liés
Je me suis laissé faire
Et je t'ai trahie pour
Une prison d'amour
Et sa belle geôlière
Et je t'ai trahie pour
Une prison d'amour
Et sa belle geôlière
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Quotidiano Mágico
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