sábado, 4 de março de 2017
Geografia e Gargalhadas Sentimentais (aqui ninguém morre...)
Regresso ressuscitado da cidade onde me conceberam e me pari. Onde, é verdade, fui morrendo em dias iguais, mas vivi, soberbo e animal, nos outros tantos, os especiais. Cidade onde vivi. Cidade donde, vivendo, tantas vezes fugi. Onde voltei. Sempre. Mas, sobretudo, cidade onde amei.
Talvez por isso, eu, eterno amnésico de nomes e números, me lembrei deste Drummond. Porque com ele me rio de mim. Porque nele cabemos muitos. Pouco solene (pensarão alguns sisudos militantes), homenageio assim o amor, que sendo sério e calado, por vezes triste,às vezes mais, sabe rir tão completamente que quase parece ter inventado o riso. Agradeço a Fernanda, que aqui dá a cara, só para que os sisudos júniores, consigam imaginar a "coisa" feita gente. Mulher no caso
Por fim ("Pum pum pum adeus, enjoad(os)", se morrem os desiludidos do amor, vamos vivendo nós os outros, os "iludidos do amor". Rindo "com" e não "de". Mas rindo, até porque se há duas coisas que se fazem "perdidamente", são rir... e amar.
Necrológio dos desiludidos do amor
Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles
"dito" by Fernanda Torres
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