domingo, 29 de julho de 2018

29 de Julho de 1959

   Nem sei porque exibo a manifestação de perpetuação de algo que talvez fosse melhor deixar continuar a dissolver-se no tempo. Coisas assim, destas, tendem a perder materialidade, nem sequer se perpetuando na memória, mas somente em raras e acidentais evocações. Talvez o que me faça abrandar o passo sem ao menos me deter nesta travessia dos dias, seja o pequeno fascínio que experimento ao observar este tipo de canibalismo mnémico, em que a evocação do "outro" (negativa ou positiva) tem como única lógica ontológica é um espécie de auto-justificação. "Sou na medida em que o outro foi". O paradoxo consiste em que o que se pretendia ser um resgate da morte (a ressurreição através da evocação) torna-se de facto, na morte definitiva, (a espécie de homicídio através da expropriação da identidade). Quando o outro passa de entidade própria e autónoma a mera personagem ou testemunho da nossa própria existência... por meio de uma fotografia esbatida, de uma "história" evocada.

   Só melancólico, constato: seriam 59 mocas!